Minha paixão pelos livros foi despertada quando contava oito anos de idade. Na ocasião tive acesso a um livro que se tornaria um companheiro ao longo de muitos anos. Devido à dificuldade de aquisição de livros no interior, os poucos de que podia dispor logo se tornavam companheiros inseparáveis, que eu lia e relia exaustivamente. Esse tinha uma história que começava assim: “Era uma vez um menino que se chamava Joaquim Maria Machado de Assis. Era feio, gago e doente. Morava num morro do Rio de Janeiro. O seu pai era preto, vivendo de pintar casas; a mãe era branca e ajudava as despesas da casa com a lavagem de roupa. Viviam pobremente, mas mantinham a sua casinha bem arrumada, procurando educar, com muito amor, seus filhos. Desde criança, o pequeno acostumou-se a ouvir uma boa linguagem, pois a mãe era portuguesa e o pai gostava de ler”.

A leitura dessa história, do livro As mais belas histórias, de Lúcia Casasanta, teve o condão de plantar em mim a semente do desejo de, algum dia, conhecer melhor o tal escritor de que falava a autora. Devo também a esse livro outras importantes descobertas que teriam consequências muito importantes para a minha vida futura, como, por exemplo, a devoção e o interesse pela vida e obra de Dom Bosco, devido à história, que reli uma centena de vezes, intitulada Dom Bosco e seus bichinhos. Uma dessas consequências é o minicurso que estou preparando para ministrar na livraria Paulus, em maio de 2018, em comemoração aos 160 da publicação de  O mês de maio, livro fundamental de Dom Bosco.

É, pois, este objeto capaz de apontar rumos e até determinar, de alguma forma, possíveis itinerários de uma vida, que se celebra neste domingo. A data foi escolhida para comemorar o Dia nacional do livro em alusão à fundação da Biblioteca Nacional, ocorrida em 29 de outubro de 1810.

Em tempos de google e e-books o futuro do livro tem provocado discussões acaloradas. Na abertura do Dicionário do Livro: Da escrita ao Livro Eletrônico, as autoras Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão, afirmam: “O livro é o modo de apresentação tradicional do pensamento sob a forma de escrita que, no momento que vivemos, começa, ele também, a ser posto em causa”, concluindo, logo a seguir: “Acreditamos que se trata de uma questão passageira”.

Não, os livros impressos não desaparecerão. Por mais que se inventem tecnologias sofisticadas, e mesmo com o fascínio das gerações mais jovens devido, dentre outras coisas, às facilidades que elas proporcionam, sempre restará um bibliófilo apaixonado pelo livro enquanto objeto capaz de despertar sensações que transcendem o prazer provocado pela leitura. A propósito, enquanto escrevo este texto, tenho como fundo musical os versos da canção do Caetano Veloso, Livros: “Os livros são objetos transcendentes/ Mas podemos amá-los do amor tátil/ Que votamos aos maços de cigarro”.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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