Quando a Santíssima Virgem entra numa alma, faz desabrochar nela uma luminosa primavera; dissipa as nuvens sombrias da tristeza, da dúvida e do desânimo. Os corações que se dão sinceramente a Ela são inundados de claridade, de paz e de felicidade. Quereis transformar vossa vida? Quereis praticar facilmente as virtudes que vos parecem inacessíveis e que Deus entretanto vos pede? Quereis conhecer as alegrias inefáveis que somente o amor de Jesus  pode proporcionar e que faziam as delícias dos Santos? Quereis experimentar em vós essas maravilhas? Se o quereis seriamente, não hesiteis um só segundo: dirigi-vos a Maria. Não há caminho mais direto para ir a Nosso Senhor.

Padre Thomas de Saint-Laurent

[Padre Thomas de Saint-Laurent. A Virgem Maria. – São Paulo: Artpress, 1996, p. 11. (Série Cultura Religiosa nº 3).]

Dentre os muitos livros que se perfilam na prateleira da minha estante dedicada à mariologia há um que, apesar de suas pequenas dimensões e de seu reduzido número de páginas, mereceu ocupar um lugar de destaque pelo conteúdo. Trata-se de um livrinho que tem o singelo título de A Virgem Maria, de autoria do Padre Thomas de Saint-Laurent. Devo esta jóia muito rara a uma querida amiga, Fátima Vasconcelos, que mo presenteou há alguns anos. Senti-me atraído e envolvido por sua leitura logo na Introdução, em que afirma o autor: “A devoção a Nossa Senhora é um dos sinais mais infalíveis de predestinação” (p. 11). Um bálsamo para aqueles que, como eu, têm cultivado essa devoção desde a infância, embora nem de longe eu me julgue um predestinado.

Concluída a Introdução, segue-se o capítulo I, dedicado ao tema da Imaculada Conceição, um dos dogmas marianos a que tenho me dedicado ultimamente. A propósito, afirma o Padre Thomas de Saint-Laurent: “O privilégio da Imaculada Conceição consiste na isenção da hereditariedade fatal que carregamos ao nascer. O momento que dá a vida aos nossos corpos, dá morte às nossas almas. Nascemos filhos da cólera: natura filii irae (Ef 2,3). Em todo o tempo de nossa existência passageira sentimos pesar imensamente sobre nós as consequências da queda original. Deixamo-nos seduzir pelo erro. Não possuímos em nós mesmos a força para resistir a todas as tentações. Nossa carne corrompida é queimada pelo fogo maldito da concupiscência. Nossos corações são dilacerados pela provação. Nossos corpos são torturados pela doença. A horrível morte nos aterra, enfim. Suprema ignomínia, a podridão decompõe nosso cadáver e os vermes disputam nossos despojos. Como nos esmaga o anátema que Deus lançou sobre o pecado de Adão! Como se compreende o grito de angústia que Jó lançava em sua miséria: “Maldito o dia em que fui concebido” (Jó 3,3)” (p. 20)

“Pelo contrário, mil e mil vezes bendito o dia em que foi concebida a Rainha do Céu! No instante solene em que Deus criou uma alma para uni-la àquele pequeno corpo virginal, Ele a fez sair alvíssima, radiosíssima, puríssima de suas mãos poderosas. Nem um só minuto, nem um só segundo, nem uma só fração infinitesimal de segundo pôde o demônio projetar sobre Maria um olhar de orgulho odiento e cobiçá-La como sua presa. Diante desse espetáculo foi ele tomado de terrível furor; reconheceu nEla a Mulher prometida, a Imaculada que deveria esmagar-lhe a cabeça sob seu calcanhar virginal” (p. 21).

A este seguem-se dez outros capítulos ao longo dos quais o autor nos apresenta a figura da Virgem Maria como quem fala de um ente muito próximo e muito querido, de cuja amizade tem o privilégio de privar. Em virtude desse estilo utilizado pelo Padre Thomas em seu livro, resulta que aos poucos vamos nos sentindo mais e mais atraídos por Nossa Senhora, de quem emana uma grande doçura e benevolência.

A certa altura sugere Padre Thomas: “Vossa alma está desencorajada sob o golpe da provação? O que fizestes, pois, na hora do sofrimento? Vós vos abandonastes a essa tristeza morna que paralisa nossas forças. Omitistes, em vosso abatimento, vossos deveres de estado, talvez até mesmo vossas práticas de piedade. Cumpria ter-vos atirado instintivamente nos braços de vossa Mãe celeste; deveríeis ter rezado a Ela a todo custo. Se não tivestes sequer a força de murmurar uma simples Ave-Maria, deveríeis ao menos ter clamado por Ela invocando seu Nome bendito. Imediatamente Ela Se teria inclinado sobre vós, vos teria consolado e reconfortado” , concluindo, a seguir: “Maria é a vida de nossas almas porque Ela nos dá Jesus, o Autor de toda vida” (p. 14).

O Padre Thomas de Saint-Laurent nasceu em Lyon, França, a 7 de maio de 1879, e faleceu em Uzès, a 11 de novembro de 1949. Em sua fecunda vida sacerdotal exerceu uma prodigiosa atividade apostólica, distinguindo-se muito cedo como insigne pregador e escritor. Foi ordenado Sacerdote em 1909, sendo designado, no ano seguinte, Pároco da Igreja de Santa Perpétua, em Nimes. Dentre suas atividades sacerdotais destacam-se as que exerceu como capelão da Juventude Católica, desde 1912, e como Missionário Apostólico, a partir de 1919.

No último capítulo do seu cativante livrinho, Padre Thomas de Saint-Laurent faz uma afirmação bastante ousada. Diz ele: “Falamos com frequência, ao longo desta obra, do poder que a Mãe de Cristo possui nos céus. Caro leitor, cumpre-vos tirar destas meditações uma certeza absoluta: a Santíssima Virgem não Se recusará jamais a ouvir vossas preces. Ainda que para atendê-las devesse realizar um milagre, se esse milagre fosse necessário à vossa salvação Ela não hesitaria em fazê-lo. Tal é a crença universal da Igreja. Se quereis tornar sólida em vós essa convicção, percorrei os inúmeros volumes dos Santos e dos teólogos” (p. 108).

De minha parte, devo dizer que, para tornar sólida a convicção expressa nas palavras do Padre Thomas, não me foi necessário recorrer aos tais volumes dos santos nem dos teólogos a que ele se refere.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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