Secretária do Meu mais profundo mistério, deves saber que estás em exclusiva intimidade comigo. A tua tarefa é escrever tudo o que te dou a conhecer sobre a Minha misericórdia para o proveito das almas que lendo esses escritos experimentarão consolo na alma e terão coragem de se aproximar de Mim. Por isso, desejo que dediques todos os momentos livres a escrever.

Palavras de Jesus Cristo a Santa Faustina

[Santa Ir. Maria Faustina Kowalska. Diário: A Misericórdia Divina na minha alma. 41ª ed. – Curitiba: Editora Apostolado da Divina Misericórdia, 2015, p. 407.]

Há livros que apenas leio; há outros, porém, com os quais dialogo. E aqui não se tome a palavra como metáfora, pois se trata de um autêntico diálogo, como duas pessoas que se sentam para conversar e trocar ideias. Assim tenho procedido, por exemplo, desde dezembro de 2015, com o maravilhoso livro de Santa Faustina Kowalska, Diário: A Misericórdia Divina na minha alma. Que livro extraordinário! Quando abro suas páginas, não me porto como se estivesse apenas diante de um livro. Para mim, quem está ali é Jesus Misericordioso, que, por intermédio de Santa Faustina, me fala como um Mestre fala a um discípulo. Perdoem meus eventuais leitores tanta pretensão, mas é este o meu sentimento.

Esse diálogo tem se intensificado muito ultimamente. De uns seis meses para cá tenho lhe dedicado boa parte do tempo despendido em minhas orações matinais. Por meio de perguntas e respostas, tenho procurado me conduzir pelas orientações emanadas de suas páginas. Ali tenho encontrado palavras de vida que me têm mostrado o itinerário por onde devo me conduzir e como proceder em diversas situações.

Reconheço que nem sempre é fácil atinar à primeira vista com o sentido expresso. Há ocasiões em que as palavras lidas demandam algum tempo até que o sentido se torne claro e, então, eu me sinta necessariamente seguro para agir em conformidade com as orientações. Há outras em que, devido a alguma recusa ou resistência de minha parte – especialmente quando a resposta não é bem a que eu esperava ou gostaria de ter – custa-me aceitar que o que está explicitado nas palavras lidas é, de fato, aquilo que eu estou pensando que é. Em ocasiões assim, às vezes é necessário obter uma orientação suplementar que, ratificando a primeira, elimine qualquer possibilidade de dúvida quanto ao sentido. E isso, acreditem, quase sempre acontece.

De uma forma ou de outra, o fato é que no contato diuturno com o Diário de Santa Faustina tenho sorvido palavras e ensinamentos que têm se revelado, sempre, um guia seguro, especialmente em certos momentos de dúvida quanto ao procedimento a adotar diante de determinadas situações. Em que pese a verdade dessa afirmação, entretanto, há que deixar bem claro que, em todos os momentos, esse diálogo é perpassado e fundamentado na premissa da entrega total e incondicional à Misericórdia Divina.

E aqui se entra num terreno delicado, porque se toca as dimensões do mistério e da fé. Não se pense que a experiência da Misericórdia Divina como entrega seja tarefa fácil. Uso aqui o vocábulo tarefa por falta de outro melhor neste momento, mas o que está em jogo é algo muito maior do que uma simples tarefa a cumprir. Trata-se, na verdade, de uma perspectiva da experiência que requer um comprometimento integral da pessoa. Aqui não se pode pensar em meias-medidas ou em um dar-se pela metade. É a integralidade do ser que é requerida. A radicalidade da experiência é de tal monta que, eu arriscaria dizer, faz tremer até os tipos mais firmes e determinados. O resultado, entretanto, é igualmente de uma magnitude tal que se torna difícil expressar com as toscas palavras de que dispõe a linguagem humana. Há dimensões da experiência que tocam algo de uma divindade e sacralidade tais que só mesmo experimentando para se ter uma noção do que se trata. Em casos como esse, resta como alternativa silenciar reverentemente diante do mistério. A experiência da Misericórdia Divina é assim. E, pelo menos por hoje, mais não digo.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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