Gostaria de comentar brevemente um trecho de um dos melhores livros já publicados sobre mariologia. Trata-se do livro A Mãe do Salvador e nossa vida interior, de autoria do padre  Garrigou-Lagrange, um dos mais eminentes teólogos do século XX. No trecho destacado por mim ele diz o seguinte:

“Este livro é, em nosso propósito, uma exposição das grandes doutrinas da Mariologia em sua relação com nossa vida interior. Escrevendo-o, constatamos, em várias das mais belas teses, que frequentemente o teólogo, em um primeiro período de sua vida, está inclinado por um sentimento de piedade e de admiração; em um segundo período, dando-se conta de certas dificuldades e das dúvidas de alguns autores, é menos afirmativo. Em um terceiro, tendo a oportunidade de aprofundar estas teses em ambos os pontos de vista, positivo e especulativo, ele retorna à sua primeira afirmação, não mais por um sentimento de piedade e de admiração, mas com conhecimento de causa, dando-se conta, pelos testemunhos da Tradição e pela elevação das razões teológicas geralmente alegadas, que as coisas divinas, e particularmente as graças de Maria, são mais ricas do que pensamos; então, o teólogo afirma não mais somente porque é belo e tão geralmente admitido, mas porque é verdadeiro.”

Vejam que maravilha! Não me canso de refletir sobre essas palavras do Padre Garrigou-Lagrange. Notem que, ao se referir ao teólogo que se dedica ao estudo da mariologia, ele afirma que este passa por três fases. Primeiro, o estudioso se vê tomado por alguns ímpetos de entusiasmo e encantamento motivados, sobretudo, pela admiração. Numa segunda fase, com o aprofundamento dos estudos, ao se deparar com algumas questões teológicas mais complexas, ele se torna menos incisivo em suas afirmações. Entretanto, chega um terceiro momento em que acaba por afirmar, sem nenhuma restrição, a grandiosidade de Maria, não mais movido por sentimentos de piedade, mas pela convicção de que está afirmando uma verdade.

É a essa convicção que devem chegar, mais cedo ou mais tarde, os que, sem meias-medidas, se fazem servos e estudiosos da Virgem Maria, uma figura tão extraordinária quanto surpreendente.

 

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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