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Vasco Arruda

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Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

Vasco Arruda

Então o espírito da profundeza abriu meus olhos, e eu observei as coisas interiores, o mundo de minha alma, multiforme e mutável.
(…)
Estou perplexo, mas quero estar perplexo, pois jurei, minha alma, confiar em ti, mesmo que me conduzas através de ilusões. Como tornar-me participante de teu sol, se não beber a amarga poção sonífera e não bebê-la até o fim? Ajuda-me a não me afogar no próprio saber. A totalidade de meu saber ameaça cair sobre mim. Meu saber tem uma multidão de falantes com voz de leão; o ar treme quando eles falam, e eu sou sua vítima indefesa. Afasta de mim o esclarecimento inteligente, a ciência, aquele carcereiro mau que amarra as almas e as tranca em celas sem luz. Mas protege-me sobretudo da serpente do julgamento, que é uma serpente terapêutica só da superfície, mas em tua profundeza é veneno infernal e morte cruel. Eu gostaria de descer para tua profundeza como puro, com veste branca, e não chegar apressado como um ladrão, roubar e fugir sem fôlego. Deixa-me perseverar no assombro divino, para estar pronto a contemplar tuas maravilhas. Deixa-me deitar minha cabeça sobre uma pedra diante de tua porta, a fim de estar pronto para receber tua luz.
[Jung, C. G. O Livro Vermelho: Liber Novus. Editado por Sonu Shamdasani; prefácio de Ulrich Hoerni; tradução: Liber Novus, Edgar Orth; introdução, Gentil A. Titton e Gustavo Barcellos; revisão da tradução, Walter Boechat. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010; Cap. V. Descida ao inferno no futuro, p. 237-238.]

Vasco Arruda

O ser privado de razão e de liberdade cumpre infalivelmente o destino que Deus lhe marcou. Só o homem recebeu de Deus o maravilhoso e assustador privilégio de alcançar o seu fim pela livre escolha da sua vontade. Semelhante a Deus, ele tem o conhecimento do bem e do mal. Sabe que a sua razão lhe foi dada para conhecer a Verdade e a sua vontade para aderir ao Bem soberano. Se se conformar com esta disposição divina, abandonando-se ao querer de Deus, restituir-lhe-á por um ato espontâneo do coração o ser que dEle recebeu e alcançará o fim para o qual foi criado.
Dar-se a Deus conforme o plano por Ele mesmo estabelecido é, pois, o fim do homem, é a primeira e a última das suas obrigações, aquela que abrange todas as outras.
Joseph Schrijvers
[Schrijvers , Joseph. O dom de si: vida de abandono em Deus. Tradução Sérgio Ferreira Lima. – São Paulo: Quadrante, 1996, p. 10].

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Para nós cristãos, Jesus é o Filho de Deus, no qual Ele se revelou a nós. Karl Rahner chama Cristo de autorrevelação absoluta do Pai. E Jesus é, para nós, o Redentor, que nos remiu do pecado e da culpa, que preencheu nossa natureza humana mortal e deteriorada com sua vida divina e assim curou, mas Ele é também o ser humano que viveu há dois mil anos atrás. Os evangelistas nos contam que curou doentes, falou com as pessoas, mostrou caminhos da sabedoria e contou parábolas.
Devemos meditar sobre todas as palavras e histórias em que Jesus interage, fala com as pessoas e age nelas, para reconhecermos o Mestre como médico e terapeuta, como pastor de almas e acompanhante espiritual abençoado.
Anselm Grün
[Grün, Anselm. Jesus como terapeuta: o poder curador das palavras. Tradução de Markus A. Hediger. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012, p. 195.]

Vasco Arruda

Flanando talvez não seja bem a palavra adequada para intitular este texto, mas, vamos lá, deixemos como está. De qualquer forma, flanamos, apesar das vagas de gente que iam e vinham pelos apertados corredores – melhor dizendo, ruas, pois os corredores foram transformados nas ruas do centro de Fortaleza, indo dar, para quem se dispuser a trafegar por entre livros e autores, numa simpática Praça do Ferreira com coluna da hora e tudo.
Impossível, porém, uma vez tendo chegado à praça, resistir à tentação de sentar numa das mesas do Café Java, onde se reuniam os talentosos e bem-humorados padeiros que, na última década do século dezenove, amassavam o pão das letras que constituiria, no futuro, uma das glórias da literatura alencarina. Não encontrando, entretanto, nenhuma mesa disponível, o jeito foi engolir em seco a decepção por não poder tomar ao menos um café e seguir em frente.
Logo adiante uma simpática senhora acenava, conclamando os transeuntes a assinarem o manifesto pela fundação do Museu da Imprensa do Ceará. Claro que atendemos prontamente ao convite. Uma curiosidade: sobre o balcão, uma máquina de datilografar olivetti, e, ao lado, um banquinho. Uma oportunidade para quem quisesse reviver os velhos tempos ou, como acontecia naquele exato momento, experimentar, pela primeira vez na vida, a emoção de datilografar algumas linhas.
Bem acomodado no banquinho, um garoto de uns cinco ou seis anos, usando apenas os indicativos, pressionava, lentamente, as letras do teclado, que estalavam secas sobre a folha branca de papel fazendo brotar palavras instantaneamente. Talvez ele estivesse fazendo a curiosa descoberta de que, diferentemente do computador, em que se digita o texto para depois imprimir, ali as palavras eram registradas no papel simultaneamente à digitação. Que novidade! Uma experiência, certamente, para guardar na memória pelo resto da vida.
Assinado o manifesto, era preciso seguir, não sem antes dar uma ligeira olhada nos livros expostos no estande. Livros que falavam, especialmente, de jornalismo. A próxima parada seria o estande do Armazém da Cultura. Queríamos adquirir um exemplar do livro do prof. Airton de Farias, História do Ceará, o que de fato fizemos, com direito a autógrafo e fotografia ao lado do autor.
Mais adiante, uma emoção nos aguardava. Acontece que entramos no estande do Museu do Ceará. Foi grande a surpresa quando me deparei, entre os livros expostos, com “O porteiro da religião: os escritos de Manezinho do Bispo”, livro cuja organização e notas se devem a Geová Lemos Monteiro.
Peguei um exemplar e, abrindo aleatoriamente, pude ler duas sentenças que fizeram-me contorcer de rir. A primeira, na página 30, asseverava: “Todo homem ou mulher vaidoso ou dosa que pode e não ama o seu país, eu só comparo com esses bocórios comedores de banana com rapadura”. Na segunda frase, igualmente hilária, escreve Manezinho do Bispo: “O Passeio Público é um aprazível lugar para quem vai ali com boas intenções”.
Desde que lera um texto do Manezinho do Bispo quando ainda fazia faculdade, em que ele concluía com as palavras: “Por essas e por outras tantas é que sempre digo: quanto mais principalmente”, nunca mais desisti da ideia de algum dia encontrar uma publicação que reunisse os seus maravilhosos escritos. Finalmente eu tinha em mãos um exemplar com a obra quase completa do nosso singular poeta-porteiro, um verdadeiro festival de nonsense e jocosidade. Fiquei deveras emocionado e feliz com a aquisição.
A partir daquele momento, já poderíamos voltar pra casa. Eu estava bem munido com duas grandes obras a que me dedicar nos próximos dias, ambas tratando de um mesmo tema muito querido: o nosso Ceará. No caso do professor Airton, a História do estado contada por um dos nossos mais abalizados historiadores da atualidade; no outro, textos emanados da pena de uma figura extraordinária, curiosíssima, que involuntariamente passou a constituir a galeria de tipos populares da nossa terra, tipos esses que tão bem expressam um certo jeito de ser muito nosso, que singularizam e, por isso mesmo, tornam único o povo cearense.

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Vasco Arruda

Assim temos, então, na sabedoria dos antigos, as três condições para uma vida humanamente autêntica: aceitar a morte e vencer os medos, ser capaz de habitar o presente e se tornar, com isso, um fragmento de eternidade. Temos aí uma bela definição da vida boa, que não passa por Deus nem pela fé, e também não apaga a finitude humana. É o que chamo espiritualidade leiga.
Luc Ferry
[Ferry, Luc. O anticonformista: uma autobiografia intelectual. Luc Ferry; entrevistas com Alexandra Laignel-Lavastine; tradução Jorge Bastos. – Rio de Janeiro: DIFEL, 2012, p. 322.]

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Vasco Arruda

Gostaria de convidar os leitores do Sincronicidade para a palestra que será proferia nesta terça-feira na Bienal Internacional do Livro do Ceará pelo Administrador e Advogado Francisco Castro de Sousa sobre o tema: Viagem para o futuro.
A palestra tem como fundamento o livro de mesmo título publicado pelo autor. Seguem, abaixo, as informações:
Palestra: Viagem para o futuro
Local: Centro de Eventos de Fortaleza
Data: terça-feira, 13.11.2012
Horário: 15:30h
Local: Stand da AMLEF – Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (localizado em frente ao Café Java)

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Vasco Arruda

Mestre é mais que um professor, um doutor e um técnico. É a pessoa que atingiu tal grau de perfeição, que sua técnica virou arte e ele se tornou um mestre: mestre em falar, em escrever, em pintar, em curar, em jogar futebol, em aconselhar e em consolar. O mestre não apenas ensina. Vive o que ensina. Sua vida é testemunho de suas ideias. Por isso, chamam-se de mestres os fundadores e os representantes mais preeminentes das tradições espirituais do cristianismo, do budismo, do hinduísmo e de outras denominações. Estas tradições mantêm-se vivas porque podem produzir outros mestres que galvanizam seguidores, os discípulos.
Inúmeras vezes nos evangelhos Jesus é chamado de Mestre e invocado na tradição cristão como Divino Mestre. Ele se insere não apenas na tradição dos mestres de seu povo, mas também dentro da grande tradição dos mestres da humanidade. Entretanto, sua grandeza não se faz diminuindo os outros, mas valorizando-os, prolongando sua missão e aprofundando seus ensinamentos. O Novo Testamento chama Jesus de “o Mestre” (cf. Mt 23,10) porque viu nele uma excepcional coerência e identificação entre o que ensinava e pessoalmente vivia. Na acepção dos cristãos, Mestre assim só pode ser Deus mesmo!
Na compreensão contemporânea poderíamos dizer que Jesus, semelhante a outros mestres de religiões conhecidas, se transformou no arquétipo do Mestre. Nele há tanta excelência de doutrina, tanta coerência entre o que fala e o que vive, tanta irradiação de luz, que se transformou numa figura exemplar e numa referência universal.
O arquétipo nunca é algo inerte. Vive ligado sempre a experiências profundas de valor e de sentido plenificador. Encontrar-se com Jesus-arquétipo é entabular um diálogo vivo com ele, a partir de nossa profundidade onde ele se manifesta como Mestre. É ouvir sua mensagem que se atualiza quando confrontada com as questões vividas pessoalmente ou que irrompem da realidade circundante. É colocar-se aos pés de Jesus, como o fizeram seus apóstolos e suas amigas, as irmãs Marta e Maria.
Leonardo Boff
[Boff, Leonardo. A oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. p. 115.]

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Vasco Arruda

Há muitos anos venho colecionando orações de diversos credos, esquecidas ou deixadas propositalmente nos bancos de igrejas. Muitas delas criadas pela crença ou pelas necessidades do povo. Aprendi com as orações a história sofrida dos personagens santificados pela igreja.
A coleção ganhou uma proporção maior do que eu esperava. Ela não poderia pertencer só a mim. E acabou virando este livro, que gostaria que fosse lido, despretensiosamente, como a confissão de amor, de uma leiga, a Nossa Senhora, Rainha do Céu.
Luciana Savaget
[Savaget, Luciana. Maria de todas as graças. – 4ª. edição. – Rio de Janeiro: BestBolso, 2011, p. 11.]

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Vasco Arruda

O fato de que a assunção da figura messiânica do poderoso filho de Davi está unida à exigência de reconhecê-lo em sua humildade e com a necessidade de se disponibilizar para a aceitação de uma perspectiva messiânica diversa daquela puramente exterior, importa em um convite para se aproximar dele essencialmente por uma atitude de fé. E é isso que, muitas vezes, ele propõe explicitamente, como condição prévia para que se possa tirar proveito de sua obra salvífica, manifesta em seus milagres. Além disso, somente no mais íntimo do espírito humano é que seu poder messiânico, de modo especial, deverá agir, isto é, na cura espiritual do pecado. Se os escribas se mostram escandalizados quando ele proclama ao paralítico o perdão de seus pecados, o paralítico e seus corajosos carregadores que, por causa da multidão, não podendo entrar na casa onde Jesus estava, haviam-no introduzido pelo teto, ficaram desconcertados quando Jesus os atendeu, mas transferindo seu pedido de salvação para o campo da vida moral do espírito. É que, para Jesus, a chegada do Reino muda profundamente a condição humana, e não só os aspectos sociais e políticos da sociedade de seu tempo, por mais dramáticos e importantes que se mostrem. A conversão exigida para se acolher o Reino que chega consiste essencialmente em uma adesão plena e total do homem a sua obra e a sua pessoa, sendo por isso que nenhuma coisa no mundo, nem mesmo os valores ligados aos afetos familiares mais puros e mais profundos, pode ser anteposta à decisão de segui-lo, buscando-se apenas a própria salvação.
Severino Dianich e Serena Noceti
[Dianich, Severino; Noceti, Serena. Tratado sobre a Igreja. – Tradução Ubenai Fleuri. – Aparecida, SP: Editora Santuário, 2007, p. 131.]