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Vasco Arruda

677 Articles

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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Vasco Arruda

A geração que viveu com Jesus e a imediatamente seguinte conheceram e vivenciaram até o extremo o lado humano de Jesus. A sua humanidade impunha-se pela evidência dos fatos. Viram-no ou ouviram testemunhas imediatas do terrível da Paixão e morte, em que nada aparecia da face divina. Antes, pelo contrário, Jesus se mostra um largado e abandonado de Deus e do próprio poder que, em alguns momentos, manifestara. As provocações junto à cruz revelam essa tremenda tensão: “Os que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo: “Ah! Tu que destróis o Templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo, descendo da cruz (Mc 15,29-30)”, e pela boca dos sumos sacerdotes: “A outros salvou, a si mesmo não pode salvar. O Messias, o rei de Israel, desça agora da cruz, para que vejamos e acreditemos (Mc 15,31s)!”. E ele mesmo revela, no Horto das Oliveiras, pavor, angústia, tristeza mortal, suor de sangue, necessidade da presença dos apóstolos, desejo de que o Pai lhe afaste o cálice (Mc 14,33-36; Lc 22,43), e na hora da morte, enorme abandono por parte de Deus (Mc 15,34). Que prova necessitava para afirmar a extrema humanidade de Jesus até as raias da fraqueza? Paulo, retomando um hino anterior, expressa tal evidência dizendo que ele renunciara a maneira divina de andar entre nós e assumira a forma de escravo, tornando-se igual ao ser humano (Fl 2,6-7).
J. B. Libanio . Carlos Cunha
[Libanio, J. B. Linguagens sobre Jesus: as linguagens tradicional, neotradicional pós-moderna, carismática, espírita e neopentecostal / J.B.Libanio, Carlos Cunha. – São Paulo: Paulus, 2011, p. 27. = (Coleção Temas bíblicos; vol. 1)]

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Vasco Arruda

No entanto, perceber a rede de coincidências na nossa vida é apenas o primeiro estágio que nos permite entender e viver o sincronismo. O próximo estágio envolve desenvolver a percepção consciente das coincidências enquanto elas estão acontecendo. É fácil percebê-las em retrospecto, mas, se você conseguir detectar as coincidências no momento em que elas ocorrerem, estará em uma posição melhor para aproveitar as oportunidades que elas possam estar apresentando. Além disso, a percepção consciente de traduz em energia. Quanto mais atenção você der às coincidências, mais provável é que elas apareçam, o que significa que você começa a ter cada vez mais acesso às mensagens que lhe estão sendo enviadas a respeito do caminho e da direção de sua vida.
Deepak Chopra
[Chopra, Deepak. O essencial: princípios fundamentais do best-seller: a realização espontânea do desejo: a essência de como utilizar o poder infinito da coincidência. Tradução de Cláudia Gerpe Duarte. – Rio de Janeiro: Rocco, 2012, p. 15.]

Vasco Arruda

Ó almas obstinadas! Dai-me um homem que contemple (estas verdades), sem imaginar nada de carnal. Dai-me quem veja que unicamente o Uno perfeito é o princípio de todas as coisas que possuem unidade, nelas planificando ou não, essa unidade. Dai-me um homem que veja, sem levantar objeções, sem se dar ar de ver o que não vê. Dai-me um homem que resista ao fluxo de sensações carnais e aos golpes que elas infligem em sua alma. Alguém que resista aos costumes dos homens, aos elogios humanos, que chore no leito as suas culpas, que se dedique a reformar seu espírito, sem apego às vaidades, sem busca de ilusões.
Santo Agostinho
[Santo Agostinho. A verdadeira religião; O cuidado devido aos mortos. Tradução de Nair de Assis Oliveira. – São Paulo: Paulus, 2002, p. 89. (Patrística; 19)]

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Vasco Arruda

Prendi a respiração. Os olhos de Virgílio estavam fixos no meu rosto e o estavam explorando! Então, o bichinho miou de novo e ficou parado como uma estátua.
Estava olhando para mim!
VIVA!
Virgílio estava olhando para mim! Suas pupilas de gato, novinhas em folha, tinham um brilho vigilante, atento.
Meus olhos cravaram-se nos dele, engataram-se, digamos assim, e eu senti-me tragado por aquele olhar.
Era um olhar que perfurava meu cérebro, mas não do jeito de alguém que quer saber o que você está escondendo. Era um olhar mais delicado, nem um pouco ameaçador. Estamos aqui, você e eu, estamos nos contando coisas sem falar. Você e eu. Você e eu.
Silvana Gandolfi, pela boca de Dante, personagem de Olho Mágico
[Gandolfi, Silvana. Olho mágico. Tradução de Mario Fondelli. – Rio de Janeiro: Rocco, 2008, p. 41.]

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Vasco Arruda

Se não puderes perseverar por amor, obriga-te com santo zelo e passa pela porta estreita da contemplação, porque Deus dá a graça do saber àquele que se atreve a perseverar. Considera que Deus te fez unicamente para a oração. Ele não exige outra coisa de ti, a não ser que O adores em espírito e verdade. Assim, tua habilidade nesta arte será treinada, na qual um dia serás mestre.
Francisco de Osuna
[Osuna, Francisco de. Terceiro Abecedário da vida espiritual. 3ª. edição (revista e ampliada). Tradução de Adolfo Temme. Petrópolis, RJ: Família Franciscana do Brasil (FFB), 2007, p. 8.]

Vasco Arruda

Aqueles que, como Lúcia Cherem, uma das mais sensíveis leitoras de Clarice Lispector, frequentaram em Paris os seminários de Hélène Cixous – a mais importante leitora francesa de Clarice – puderam entender, um pouco melhor, o que realmente se passa. Nos anos 1980, Lúcia participou dos círculos de leitura de Clarice Lispector coordenados por Cixous. Neles, a filósofa pedia a seus parceiros que, depois de ler um trecho qualquer da escritora, se esforçassem para reproduzir o impacto pessoal, o golpe – as “facadas”, podemos sugerir – que a literatura de Clarice lhes impusera. Alguns choravam, outros se desesperavam, muitos se afundavam em recordações antigas, ou em meditações perigosas. Nessas horas, posso me arriscar a dizer, Clarice neles se encarnava. A literatura, que está nos livros, aparece muito além dos livros. Ali, sob a regência de Cixous, se reproduzia o choque que a literatura é capaz de promover. Ali, a literatura tomava corpo – tomava um corpo, vários corpos – e se mostrava viva. Ali, a coisa se encenava, o “isso” de que falava Clarice, aquilo que, ainda que estando dentro de um livro, não se deixa ler.
José Castello
[Castello, José. A literatura na poltrona. – Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 33.]

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Vasco Arruda

É em Cristo que conhecemos Deus no que ele revela. Sem a revelação realizada em Cristo na história, não podemos conhecer nem mesmo nossa condição e realidade, vida e morte que nos envolvem.
Na ótica da problemática humana, Deus só pode ser revelado em relação com valores significativos para o ser humano, valores esses manifestados histórica e concretamente que possibilite ao homem aprofundar seu sentido e ampliar suas possibilidades. É essa a face de Deus qual Pai em movimento amoroso de encontro com os filhos (DV 5,21). Em Cristo e por Cristo, Deus se revelou plenamente à humanidade e se aproximou definitivamente de nós e, ao mesmo tempo, em Cristo e por Cristo o homem readquiriu plena consciência de sua dignidade, de sua transcendência e do valor de sua existência (RH 11).
Pe. Ângelo Pellá
[Pellá, Pe. Ângelo. Cristo, Resposta divina à condição humana: Cristologia para o Terceiro Milênio. 2ª. ed. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 1999, p. 33.]

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Vasco Arruda

Dom Helder Câmara, mudialmente conhecido por seu trabalho em prol dos pobres e desfavorecidos, foi também um místico. Admiro profundamente a figura de Dom Helder. Poucos, muito poucos mesmo, se equiparam a ele em estatura espiritual no Brasil. Mais conhecido por seu trabalho em prol dos pobres e desfavorecidos, muita gente desconhece, por isso, o lado místico de Dom Helder. A mística da ação, predominante em sua pessoa, ofuscou um pouco outra faceta de sua espiritualidade, qual seja, a de um homem profundamente devotado à oração e, em especial, à Virgem Maria, a quem dedicou alguns belos poemas. Aproveito para transcrever hoje, no Sincronicidade, um desses poemas, publicado no belo livrinho intitulado Rosas para meu Deus, organizado em 1996 pela Ir. Maria do Carmo Pimenta. A publicação foi uma homenagem ao Jubileu Sacerdotal de Dom Helder Câmara.

Vasco Arruda

Mentir é querer passar pelo que não se é. Mas passar por outro do que não se é – sem o querer – não é mentir. É levar ao engano. O que distingue o mentiroso daquele que leva ao engano, é que todo mentiroso tem a intenção de enganar – mesmo que não se chegue a crer nele. Ao passo que levar ao engano, necessariamente, é algo impossível de não se dar. O fato acontece mesmo.
Santo Agostinho
[Santo Agostinho. A verdadeira religião; O cuidado devido aos mortos. Tradução de Nair de Assis Oliveira. – São Paulo: Paulus, 2002, p. 87. (Patrística; 19)]

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Vasco Arruda

Há uma imagem para a literatura: a do sujeito solitário que, acomodado em sua poltrona, a atenção voltada para o livro aberto, lê em recolhimento e em silêncio. Imagem serena e íntima, que contraria a turbulência e o desnudamento que vigoram no mundo de hoje. Lugar da contemplação, do resguardo e da volta a si, cujo valor aumenta na medida em que a profundidade do mundo – esse mundo de superfícies velozes, de janelas que se abrem e fecham e de imagens loucas – cada vez mais diminui.
José Castello
[Castello, José. A literatura na poltrona. – Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 64]