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Vasco Arruda

677 Articles

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

Vasco Arruda

Portanto, não temos vida simbólica, mas temos necessidade premente dela. Somente a vida simbólica pode expressar a necessidade da alma – a necessidade diária da alma, bem entendido. E pelo fato de as pessoas não terem isso, não conseguem sair dessa roda viva, dessa vida assustadora, maçante e banal onde são “nada mais do que”. No rito estão próximas de Deus; são até mesmo divinas. (…) A vida é racional demais, não há existência simbólica em que sou outra coisa, em que desempenho um papel, o meu papel, como um ator no drama divino da vida.
Carl Gustav Jung
[Jung, C. G. A vida simbólica: escritos diversos. Tradução de Araceli Elman, Edgar Orth; revisão literária de Lúcia Mathilde Endlich Orth; revisão técnica de Jette Bonaventura. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. – (Obras completas de C. G. Jung; v. 18/1) III. A vida simbólica, p. 273.]

Vasco Arruda

Feito à imagem e semelhança de Deus, o corpo humano é postulado desde o princípio do texto bíblico como um território do sagrado (Gn 1,26). Não se trata apenas de um monte de órgãos, vísceras, fluidos e funções. Na língua hebraica, todas as partes do corpo humano são hipostasiadas e dotadas de atributos psíquicos e espirituais. Cada parte do corpo humano leva em si mesma uma consciência do verdadeiro Eu e de sua unidade. É a hypostasis grega, a Pessoa, única e irrepetível, ícone divino, criado ao som do Verbo e na ressonância de seu Nome. Como na visão cristã do invisível trinitário, somos um Falante, que fala uma Palavra, dualidade que procede de um Sopro. A consciência corporal é hipóstase quando e sempre o existente coloca-se em relação com seu existir.
(…) O corpo humano possui uma estrutura e uma unidade que vão além da própria matéria, realidade essencial da pessoa. É um santuário onde a sabedoria divina se torna visível. A sabedoria judeu-cristã ajuda a viver o corpo como um templo, em que pesem todos os equívocos castradores e abomináveis que a história ocidental e oriental proferiu (e ainda profere) sobre o corpo.
Evaristo Eduardo de Miranda
[Miranda, Evaristo Eduardo de. Corpo, território do sagrado. São Paulo: Loyola, 2000, p. 11.]

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Vasco Arruda

No primeiro ano de seu serviço pastoral, na Festa de Corpus Christi, o arcebispo chega pontualmente à catedral para iniciar a missa e depois a procissão na qual deve carregar pelas ruas o ostensório dourado com o Santíssimo Sacramento. Começa a missa. Na oração da coleta, não consegue ler o que está no missal. Com os olhos marejados de lágrimas e a voz tomada pela emoção, ora:
“Senhor, é mais fácil reconhecer a tua presença na hóstia consagrada do que nos milhares de irmãos e irmãs miseráveis que sofrem e penam pelas ruas e cortiços do mundo. Como poderemos passar pelas ruas, com o pão, sinal da tua presença para um mundo novo e de partilha, indiferentes aos adultos e crianças que jazem abandonados no chão?
Dá-nos a graça de adorar a tua presença no pão da Eucaristia, de modo que possamos te reconhecer e honrar em cada ser humano, especialmente nos irmãos e irmãs mais marginalizados”.
Dom Marcelo Barros
[Barros, Dom Marcelo. Dom Helder, profeta do macroecumenismo (Reflexão em estilo de testemunho). Em: Rocha, Zildo (organizador). Helder, o dom. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1999, p. 179.]

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Vasco Arruda

Nossa civilização repousa, falando de modo geral, sobre a supressão dos instintos. Cada indivíduo renuncia a uma parte dos seus atributos: a uma parcela do seu sentimento de onipotência ou ainda das inclinações vingativas ou agressivas de sua personalidade. Dessas contribuições resulta o acervo cultural comum de bens materiais e ideais. Além das exigências da vida, foram sem dúvida os sentimentos familiares derivados do erotismo que levaram o homem a fazer essa renúncia, que tem progressivamente aumentado com a evolução da civilização. Cada nova conquista foi sancionada pela religião, cada renúncia do indivíduo à satisfação instintual foi oferecida à divindade como um sacrifício, e foi declarado ‘ santo’ o proveito assim obtido pela comunidade. Aquele que em consequência de sua constituição indomável não consegue concordar com a supressão do instinto, torna-se um ‘criminoso’ , um ‘outlaw’, diante da sociedade – a menos que sua posição social ou suas capacidades excepcionais lhe permitam impor-se como um grande homem, um ‘herói’.
Sigmund Freud
[Freud, Sigmund. Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, Vol. IX: ‘Gradiva’ de Jensen e outros trabalhos. Tradução do alemão e do inglês sob a direção-geral e revisão técnica de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago Ed. Ltda., 1976, p. 192.]

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Jesus não morreu de morte natural nem por estranha enfermidade. Ele morreu derramando Seu sangue na cruz, oferecendo a essência da vida, presente no sangue. Daí a religião cristã ser única. É a religião do sangue que dá nova vida. É a transfusão espiritual da vida de Deus no coração do cristão.
Talvez impressione e espante essa ideia do sangue. Mas o Senhor quer que o derramamento de Seu sangue por amor produza efetivamente uma impressão tão forte em nossa vida que terminemos amando-O ao compreender que Ele sangrou para nos dar vida eterna. Assim se expressou o discípulo Pedro: “fostes resgatados […] pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1 Pedro 1:18-19). E João destaca o mesmo conceito, ao dizer que o sangue de Jesus “nos purifica de todo pecado” (1 João 1:7).
Não falta quem se pergunte: “Por que Jesus teve que morrer na cruz? Não teria bastado nos ensinar um elevado código moral, para viver com integridade e correção?” Certamente não! O que o homem pecador necessitava não era apenas uma melhora moral, mas uma vida nova, engendrada por Deus por meio da oferta de Cristo. A verdadeira necessidade humana – de ontem, de hoje e de sempre – não é a de um código superior, mas a vida de Cristo implantada no coração. Precisamos da vida que Ele nos deu quando a entregou na cruz.
Qualquer tentativa humanista ou moralista de mudar o ser humano sempre será um esforço limitado e falido. Somente uma dependência do poder divino, com a aceitação da morte redentora de Cristo, pode assegurar vida eterna para “todo o que nEle crê” (João 3:16).
Você já aceitou pela fé o sacrifício de Cristo para a redenção de sua vida? Não poderia ter tomado decisão melhor! Conserve no coração essa decisão pelo resto de seus dias.
Enrique Chaij
[Chaij, Enrique. Ainda existe esperança: a solução para os problemas da vida. Tradução Fernanda Caroline de Andrade Souza. – Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010, p. 82.]

Vasco Arruda

Efeitos civis dos casamentos religiosos, ações trabalhistas contra igrejas, retirada de símbolos religiosos do ambiente de trabalho e uma ação direta de inconstitucionalidade contra o ensino religioso confessional em escolas públicas mostram que a relação entre Estado e Igreja ainda é um terreno minado para advogados e magistrados. Para analisar o tema e esclarecer conceitos que possam ser utilizados pela Justiça para equacionar estas e outras questões, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promoverá nesta quinta-feira (16/6), no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, o seminário internacional “O Estado Laico e a Liberdade Religiosa”. O seminário será aberto às 8h30, pelo ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça. Clique aqui para ver a programação do seminário.
Leia mais sobre o Seminário no endereço abaixo:
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/14761:seminario-internacional-do-cnj-discute-relacao-entre-estado-e-igreja

Vasco Arruda

Há muitos anos, não me recordo exatamente citado por quem, deparei-me com a seguinte frase grafada em latim: Homo sum: nihil humani a me alienum puto, seguida da tradução: Sou homem: nada do que é humano me é estranho. A frase é de autoria de Publio Terêncio Afro, dramaturgo e poeta romano, nascido entre 195-185 a.C. e falecido por volta de 159 a.C., que a escreveu na obra intitulada Heaautontimorumenos. Dentre os muitos escritores que ao longo dos séculos citaram a frase o autor do texto que eu li destacava Machado de Assis, que, segundo afirmou, tinha por ela uma predileção toda especial, fazendo uso dela mais de uma vez.

Vasco Arruda

Era manhã de sábado e estávamos encerrando um encontro no qual faláramos da figura de Cristo e de como as pessoas o reverenciam hoje. Auditório lotado, plateia animada e sequiosa por discutir especialmente as projeções psicológicas quase sempre (eu diria sempre) presentes nas aproximações que os cristãos fazem à figura do Redentor. Em alguns momentos foram salientadas as formas supostamente infantis de veneração de Cristo. O fato é que, para a maioria das pessoa, ele encarna a figura do pai protetor e misericordioso pronto para socorrer até nas necessidades mais insignificantes.

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Vasco Arruda

Certa vez, ao final de um show no bistrô que ficava dentro da loja Modern Sound, em Copacabana, fiquei escutando enquanto uma repórter entrevistava a grande cantora da bossa nova Leny Andrade. A repórter fez uma daquelas perguntas de praxe sobre se a cantora sentia algum nervosismo em dia de estreia etc., e Leny nem esperou que ela terminasse. Foi logo dizendo: “No instante em que piso no palco, estou segura. É como chegar em casa.”
Ao ouvir isso, lembrei-me de uma frase parecida que já ouvi de Ruy Castro, ao falar sobre como se sente dentro de uma livraria: “Tenho a sensação de que, ali dentro, nada de mal pode me acontecer. Eu me sinto cercado de amor.” Segundo ele, há uma explicação para isso: é que as pessoas que se envolvem com livros – escritores, editores, livreiros, compradores – são, em 90% dos casos, apaixonadas por leitura. Donde, os livros transpiram esse amor.
Heloisa Seixas
[Seixas, Heloisa. O prazer de ler. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2011, Capítulo: Um lugar de amor, p. 37. – (Prazeres).]