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Vasco Arruda

677 Articles

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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Vasco Arruda

Uma das recordações da minha adolescência é a de ter lido um livro chamado História Popular de Jesus. Se a memória me não falha, o livro era uma tradução do francês e trazia ao fundo da capa o nome de Coimbra Editora. A Coimbra Editora – vim a sabê-lo mais tarde – era a livraria que editava tratados dos lentes da Universidade e outros livros igualmente importantes.
Devorei esse livro – é o termo – sentado na cama, à luz do meu candeeiro de petróleo. Foi esse o meu primeiro contacto com livros que falavam de Jesus. Depois, ao longo da vida, li muitos outros sobre o mesmo tema. Essas leituras punham-me problemas. E o primeiro era o seguinte: mas quem é, afinal, esse Jesus de Nazaré? Queria parecer-me que a orientação da minha vida – e até a opção fundamental que nela havia de fazer – estava dependente da resposta a esta pergunta.
Claro que li também a Vida de Jesus, de Renan, que a Chardron se apressou a traduzir para a nossa língua, pouco tempo depois de ela ter aparecido no original francês. Admirava o estilo sedutor do antigo escolar de S. Sulpício, mas eu tinha a intuição que ali falhava alguma coisa de essencial. Se Jesus de Nazaré era apenas o “doce Rabi da Galileia” – como Renan gostava de dizer – , amigo das crianças, dos pobres e dos pecadores, que era feito das palavras que ele dissera sobre si mesmo (Eu sou o senhor do Sábado, e outras semelhantes) e sobre o seu Pai celeste, dos milagres que fizera? E, sobretudo, como explicar a fé dos primeiros discípulos em que ele, depois de morto – e bem morto -, havia ressuscitado? Alucinação coletiva da parte deles? Ou, então, o amor apaixonado de Maria Madalena, que tinha confundido Jesus com o jardineiro e incutira nos discípulos a ideia de que ele estava vivo?
Mas, ao meu espírito, tudo isso parecia fantasioso. Passar o lápis azul sobre os milagres de Jesus como se não pertencessem à história, mas fossem formações lendárias – à maneira do Sansão bíblico ou da pedreira de Aljubarrota -, era enveredar por caminhos mais inverossímeis do que o da aceitação dos milagres, designadamente o da ressurreição de Jesus. Quando se parte do princípio de que “Deus não existe” e de que, consequentemente, “os milagres são impossíveis”, fica o campo aberto para aceitar todas as acrobacias do espírito, mesmo que estas contradigam o testemunho histórico e rocem pelo absurdo.
Nunca mais deixei de ler livros sobre Jesus. E cada vez se acentuou mais no meu espírito que o crente tem na mão a única chave que dá na fechadura; que as outras chaves (sejam elas a da escola crítica – à maneira de Renan – ou da escola mítica – segundo o modelo de Strauss) – têm ranhuras diferentes que não se adaptam á fenda da fechadura; que, negando dados históricos incontestáveis, se torce a chave e, com a chave assim torcida, não se consegue abrir a porta…
Manuel de Almeida Trindade, Bispo emérito de Aveiro
[Trindade, Manuel de Almeida. “Uma história popular de Jesus”, texto introdutório ao livro de Dante Alimenti, Seguindo a Jesus. Volume 1. Editorial Verbo, 1991, p. 2.]

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Vasco Arruda

O maior título que se reconhece a Maria é precisamente sua maternidade divina, esse é seu título de glória, que exprime também sua vocação. Maria foi suscitada pela graça para ser mãe. No entanto, ela não poderia ser especificamente a “Mãe de Deus” se não tivesse sido preservada de todo pecado desde sua concepção. À glória de Maria corresponde um imenso mistério inicial, uma obra extraordinária da misericórdia divina, sua concepção imaculada, pela qual tudo foi possível… porque, para Deus, nada é impossível! Falar da Imaculada Conceição de Maria é falar de sua pureza original. Maria é, por graça, pura, inteiramente pura, isto é, preservada de todo pecado, de todo mal, e até mesmo da corrupção da carne. Grande é esse mistério…
Jean-Claude Michel
[Michel, Jean-Claude. A Imaculada Conceição, promessa de pureza. 2ª. ed. Tradução de José Joaquim Sobral. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 2005, p. 7. (Série Virgem Maria; 5)]

Vasco Arruda

A forma mais divina de conhecimento é aquela a que se chega por meio do conhecimento adulto, segundo a unificação que dá ensejo a que a capacidade da mente transcenda; quando a mente, separando-se de todas as coisas e, numa segunda fase, abandonando-se a si mesma, é levada pelo processo unitivo a unir-se aos raios de transcendente esplendor; e lá e cá, embora permaneça [ela mesma], submerge inteiramente na luz do abismo de Sabedoria, cuja profundidade não consegue indagar.

São Dionísio de Alexandria

[Citado em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 649.]