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Vasco Arruda

677 Articles

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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Vasco Arruda

Jamais Jesus explicou realmente quem era ele. Deixou os Judeus, as massas e os próprios discípulos na dúvida. Os demônios denunciavam-no. Mandava os demônios se calarem (Mc 1,25). As multidões o aclamavam como Messias, e ele fugia para longe delas. João Batista ficou perplexo e mandou perguntar-lhe por intermédio dos seus discípulos: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” E Jesus respondeu: “Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia (Mt 11,3b-5). Porém, não diz quem ele é.
José Comblin
[Comblin, José. Jesus de Nazaré. São Paulo: Paulus, 2010, p. 16. (Coleção Espiritualidade bíblica)]

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Vasco Arruda

O Magnificat convida a uma descoberta desse mundo interior em que Deus aguarda cada homem, no íntimo do coração. Maria não confunde sua alma com seu espírito, está muito familiarizada com a vida interior, conhece esse ponto de junção entre a alma e o espírito em que a Palavra age.
Pierre Dumoulin
[Dumoulin, Pierre. O Magnificat: uma escola de oração. Tradução José Joaquim Sobral. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 2003, p. 19.]

Vasco Arruda

“Abra na página quinhentos e trinta e oito e leia o capítulo XI”. O dia não havia ainda amanhecido quando, absorto em minha meditação , com as mãos pousadas sobre o volume de nada menos que 1996 páginas contendo a mais refinada espiritualidade, fui surpreendido pela inconfundível voz. Não esperava que ele me aparecesse antes do dia primeiro, quando, conforme sugerira, eu deveria dar continuidade ao desenho da Mandala da Vida. Mas apareceu, pegando-me de surpresa mais uma vez. “Leia o capítulo XI”, prosseguiu, “e a seguir volte ao Prólogo, lendo tudo desde o início até o último capítulo

Vasco Arruda

Estranhamente ele me apareceu num local e horário absolutamente insólitos, digo, inabituais. Foi por volta do meio-dia. O odor peculiar anunciou-me sua chegada, com um discreto farfalhar de páginas soltas sobre a mesa, quando uma suave brisa varreu o ambiente. Ergui os olhos e divisei seu vulto. Foi então que ele me sorriu. Sim, Dom Cristiano me saudou com um sorriso, e que sorriso! Senti tanta alegria e tanta beatitude naquele sorriso que me quedei mudo diante dele. Acho que se passaram uns dois minutos em que apenas nos olhamos, numa secreta comunhão mediada por seu sorriso. Eis, porém, que ele resolve falar.

Vasco Arruda

Muitas vezes, com os lábios imóveis, ruminava (cf. Ct 7,9) interiormente e, arrastando para o interior as realidades exteriores, elevava o espírito às superiores. Assim, totalmente transformado não só em orante, mas em oração, dirigia toda a atenção e todo o afeto a uma única coisa que pedia ao Senhor (cf. Sl 26,4). – De quanta suavidade crês que ele estava repleto nestas coisas? Ele o soube (cf. Jó 28,23), eu, pelo contrário, apenas admiro. Ao que faz a experiência é dado conhecer, aos que não experimentam não se concede.
Frei Tomás de Celano
[Frei Tomás de Celano. Segunda vida de São Francisco. Em: Fontes Franciscanas e Clarianas. Apresentação Sergio M. Dal Moro; tradução Celso Márcio Teixeira… [et. al.]. 2ª. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 361.]

Vasco Arruda

Nietzsche, é verdade, proclamou a morte dos Deuses, esperando que Foucault proclamasse a morte do homem (o que é lógico, já que o homem só se constitui como homem através de sua relação com os Deuses). Também é verdade que o cristianismo e, em certa medida, o Islã entraram em crise. É verdade, enfim, que os sociólogos não cansam de nos repisar, de umas décadas para cá, o seu processo de “secularização” (sem perceber, aliás, que estavam assim apenas retomando Hubert Spencer e os seus processos de diferenciação social: o religioso tende a se purificar de toda contaminação com aquilo que não é ele próprio).
Mas será que a morte dos Deuses instituídos acarretaria o desaparecimento da experiência instituinte do Sagrado em busca de novas formas nas quais se encarnar? Será que a crise das organizações religiosas não adviria de uma não-adequação, cruelmente vivenciada, entre as exigências da experiência religiosa pessoal e os quadros institucionais nos quais quiseram moldá-la – com vistas, muitas vezes, a retirar-lhe o seu poder explosivo, considerado perigoso para a ordem social? Finalmente, será que não estaríamos hoje assistindo entre os jovens a uma nova busca apaixonada pelo sagrado, como se os nossos contemporâneos, depois de um razoavelmente longo período de desenvolvimento do ateísmo, ou apenas de uma entrega à indiferença, estivessem outra vez se dando conta da existência, dentro de si, de um vazio espiritual a ser preenchido e constatassem, a partir dessa sensação de vazio, que uma personalidade que não se enraíza numa espécie de entusiasmo sagrado não passa, afinal, de uma personalidade castrada daquilo que constitui uma dimensão antropológica universal e constante para todo homem que vivencie a dimensão religosa?
Roger Bastide
[Bastide, Roger. O sagrado selvagem. Em: O sagrado selvagem e outros ensaios. Tradução Dorothée de Bruchard; revisão técnica Reginaldo Prandi. – São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 250.]

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Quando alguém chega à meia-idade, ou, melhor dizendo, ao meio da vida, em geral a existência desta pessoa está organizada em padrões psicológicos conhecidos, é como se ela estivesse protegida pela família e o trabalho. De repente acontece a crise: um dia a pessoa acorda e percebe que está sem gás; a posse e o controle sobre a própria vida soam inoperantes; o doce sabor da conquista parece amargo; os velhos padrões de atuação doem como calos nos pés. A habilidade de valorizar as próprias conquistas – os filhos, o trabalho, as posições de poder, as vitórias – parece ter sido roubada, e a pessoa fica se perguntando o que foi que lhe aconteceu do dia para a noite. Aonde teriam ido parar todas aquelas coisas que lhe davam segurança, paz e sossego?
Murray Stein
[Stein, Murray. No meio da vida: uma perspectiva junguiana. Tradução Paula Maria Dip. – São Paulo: Paulus, 2007, p. 15. (Coleção amor e psique).]

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Jesus Cristo, homem e Deus num só? Quem desde criança responde a essa pergunta com um “Claro que sim!”, tal como não vê problema algum em chamar a mãe de Jesus de Mãe de Deus, estranhará e até se irritará ao ver essa fórmula do Credo com um ponto de interrogação. Quer dizer que Jesus já não é realmente Deus para os crentes da modernidade? Se é assim, não merecem o nome de crentes! Esta confissão de fé é a pedra angular de nossa doutrina da fé! O Concílio de Calcedônia, em 451, definiu solenemente que na única pessoa de Jesus de Nazaré há duas naturezas unidas: uma divina e outra humana, sem mescla nem separação entre ambas. Desde então, considera-se esta confissão como a prova decisiva de pertença à grande comunidade cristã. Pode um cristão deixar de lado essa confissão e continuar sentindo-se honradamente um membro autêntico dessa comunidade? Por mais estranho que pareça, a resposta é afirmativa: sim, pois uma coisa não contradiz a outra. Mas isso só poderá ser entendido e afirmado se se aceitar examinar sem preconceitos a origem, o desenvolvimento e o alcance dessa fórmula de fé.
Roger Lenares
[Lenares, Roger. Outro cristianismo é possível: a fé em linguagem moderna. Tradução Maria Paula Rodrigues. – São Paulo: Paulus, 2010, p. 101. (Coleção tempo axial).]

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Existe uma ligação de continuidade evidente entre a devoção (no bom sentido da palavra) ao Menino Jesus “vivo em Maria” apreciada pela Escola Francesa e a doutrina espiritual de Teresinha do Menino Jesus. Por que Teresinha ou Bernadete foram a tal ponto transformadas pelo sorriso da Virgem? A mais bela filha do mundo não pode dar senão o que tem: seu sorriso dá os oceanos de amor do Coração de Jesus porque ele lhe comunicou “seu Espírito, seus dons, seus tesouros imensos, e sua vida…”
Pe. Etienne Richer
[Richer, Etienne. Maria, sorriso de Deus. Tradução José Joaquim Sobral. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2003, p. 50.]

Vasco Arruda

Muitas vezes até hoje tinha pegado na pena para escrever, contudo desistia, tomado pelo medo: é que sinto grande temor – peço a Deus que me perdoe, mas sinto mesmo grande temor das letras do alfabeto, pois são gênios astutos, impudentes e perigosos; se abres o tinteiro, tu as liberas e elas fogem – e, então, como subjugá-las? Animam-se, unem-se, separam-se, não dão ouvidos ao que lhes ordenas, alinham-se no papel, negras, com suas caudas e seus chifres. É em vão que apelas para elas e lhes suplicas, pois são donas de sua vontade. Dançam saltitantes, acasalam-se impudentemente diante de ti, revelam astuciosamente o que não querias confessar e recusam-se a unir aquilo que de mais profundo de teu íntimo luta para sair e falar aos homens.
Nikos Kazantzákis
[Kazantzákis, Nikos. O Pobre de Deus. Tradução Ísis Borges Belchior da Fonseca. – São Paulo: Arx, 2002, p. 20.]