Press ESC to close

12. E vós, quem dizeis que eu sou?

87 Articles
0 140
Vasco Arruda

Há um aspecto da meditação que a experiência nos torna muito familiar. É um aspecto que se acha profundamente inserido na tradição cristã. O cristão sabe que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. E, como ele mesmo nos disse, veio para dar-nos a sua paz e deixar-nos a paz. São Lucas começa seu evangelho dizendo que Cristo veio para “guiar nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,79). A paz cristã é algo único e só podemos encontrá-la em Cristo.
É como São Paulo diz na Epístola aos Romanos: “Estamos em paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5,1). A meditação é o nosso caminho para a paz de Cristo porque ele habita em nosso coração e, na meditação, procuramo-lo em nosso coração porque “ele é a nossa paz” (Ef 2,14). Em sua epístola aos efésios Paulo fala que Cristo eliminou todas as barreiras, simbolizadas pela parede divisória no Templo, que separava o pátio exterior do interior, a realidade exterior da interior. Em Cristo a realidade volta a ser una.
A meditação faz exatamente isto em nossas vidas. Ela derruba todas as barreiras erguidas dentro de nós, entre nossa vida exterior e interior, e põe em harmonia tudo o que há em nós. A paz de Cristo, que supera todo entendimento, toda análise, surge desta unidade. A opção proposta por Paulo, o desafio em Paulo, reside em viver de acordo com o Espírito, que cria esta unidade. Em outras palavras, somos convidados a viver desta plenitude de poder que existe no coração de cada um de nós; mas isto só acontecerá se nos voltarmos para ele e nos abrirmos a ele.
John Main
[Main, John. O momento de Cristo: a trilha da meditação. 3ª. ed., 2004. Tradução I.F.L. Ferreira. – São Paulo: Paulus, 1992, p. 43. – (Coleção meditações).]

0 34
Vasco Arruda

Públio Lêntulo, nobre romano, que governava a Judeia no tempo de Jesus, numa carta ao Senado Romano, até hoje incontestada, diz assim:
“No momento em que vos escrevo, existe aqui um homem de singular virtude, que se chama Jesus. Os bárbaros o têm em conta de profeta, mas os seus sectários o adoram como filho dos deuses imortais. Ressuscita os mortos e cura os enfermos, falando-lhes e tocando-os. É de estatura elevada e bem conformada, de aspecto ingênuo e venerável. Seus cabelos de uma cor indefinível caem-lhe em anéis até abaixo das orelhas, e espalham-se pelos ombros com uma graça infinita, trazendo-os ele à moda dos Nazarenos. Tem fronte larga, espaçosa, e as faces coloridas de amável rubor. O nariz e a boca, de uma admirável regularidade. A barba, da mesma cor dos cabelos, desce-lhe espessa até ao peito, bipartida à semelhança de forquilha. Os olhos brilhantes, claros e pequenos. Prega com majestade; e suas exortações são cheias de brandura. Fala com muita eloquência e gravidade. Ninguém jamais o viu rir; muitos, porém, o têm visto chorar, não poucas vezes. É sobremodo sábio, moderado e modesto, um homem, enfim, que por suas divinas perfeições se eleva acima de todos os filhos dos homens”.
[Citado em: Chiappetta, Luís. Jesus, meu mestre: texto de religião para o curso ginasial e de madureza. 1ª. ed. vol. I – A Fé. São Paulo: Paulinas, 1960, p. 150.]

0 57
Vasco Arruda

No centro, contudo, está Ele, o Filho, cuja figura aparece naquele pequeno Credo presente nas palavras do anjo, verdadeira identidade de Cristo. Ele é Jesus, um nome comum em Israel mas cujo significado é altíssimo: Salvador. Ele é Grande e Rei eterno (“O Senhor Deus Lhe dará o trono do seu pai David e reinará para sempre sobre a casa de Jacob e o seu reino não terá fim”, vv. 32-33). Com estes dois títulos, Jesus surge como o herdeiro da promessa davídica: “Fiz o teu nome tão grande… Firmarei para sempre o seu trono régio. Serei para Ele um Pai e Ele será para mim um Filho… A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre” (2Sm 7,9.13.14.16). Jesus é, portanto, o Messias davídico. O anjo alinha outros três títulos cristológicos: Filho do Altíssimo, Filho de Deus, Santo. João Batista é chamado “grande diante do Senhor” (v. 15), Jesus é o Grande em absoluto. João Batista é “cheio do Espírito Santo desde o seio de sua mãe”, mas relativamente a Jesus é o próprio Espírito Santo que “desce” para O constituir como homem; João Batista é destinado a “preparar um povo ao Senhor” (v. 17), Jesus pelo contrário tomará posse e reinará sobre o povo de modo eterno” (v. 33).
Gianfranco Ravasi
[Ravasi, Gianfranco. Os rostos de Maria na Bíblia: trinta e um “ícones” bíblicos. Tradução de Maria Pereira – TRADUVÁRIUS, Lisboa: Paulus Editora, 2008, p. 155.]

0 33
Vasco Arruda

Ou o Cristo “é” ou “não é”. Ou é o Verbo encarnado que falou de si mesmo, ou não é. […] Vale a pena pensar nisto com toda a atenção porque é perfeitamente possível […] que o Cristo seja o Cristo. […] Convencer, eu não posso. Como poderia eu convencer alguém que resiste a Deus? Posso entretanto fazer […] um convite ao desespero. […] Ou Deus é ou não é. E se não é, acabou-se; que não seja. […] Ali está o caminho que não é a Verdade e a Vida: entremos. […] Nada adianta. Nem ser bom, nem ter caráter, nem ter vergonha, nem ter sentimentos. […] Ou o Cristo ressuscitou ou não; e se não ressuscitou, nós somos as mais desgraçadas criaturas porque perdemos a última aposta.
Gustavo Corção
[Corção, Gustavo. A Descoberta do Outro, págs. 109-111. Citado em: Braga, Marta. Lições de Gustavo Corção. – São Paulo: Quadrante, 2010, p. 56. – (Coleção Vértice; 71)]

0 39
Vasco Arruda

Quanto ao Jesus histórico, é claro que dele não sei mais do que qualquer um, quer dizer, quase nada. Se confiamos, por falta de melhor, nos Evangelhos, temos primeiro a ideia de um exaltado simpático, de uma espécie de pregador itinerante, evidentemente sincero, evidentemente desinteressado, que anunciava a todos a iminência do Juízo Final ou do fim dos tempos… Que se tenha enganado está bastante claro, e não tem grande importância. Quero crer que ele compreendeu, no meio do caminho, que acabou por compreender que o essencial não estava aí: que o Reino de Deus não era o que deveria advir, mas o que já havia começado. Não somente “muito próximo”, como diz o Evangelho de Marcos, mas aqui mesmo. Não vindouro, mas presente, mas para viver, aqui e agora para viver. Não prometido, mas dado. Objeto não de esperança mas de amor, não de fé mas de conhecimento. “Quero crer”: quer dizer, não sei nada disso. Mas esse é o Cristo a quem amo, aquele que criei pouco a pouco para mim, aquele que me acompanha, e o único que me esclarece. É o Cristo de Spinoza, disse-o, ou um Cristo spinozista, e isso dá no mesmo. É o Cristo de Alain: a criança nua, entre o boi e o burrico, o espírito crucificado, entre dois ladrões. É, pois, o Cristo de todo o mundo – o Presépio, o Calvário – , o dos mitos e das lendas, o único que conhecemos, no fundo o único que importa, mas liberto da religião, mas não prometendo nada mais do que tudo, ele também – como os gregos, como os verdadeiros mestres -, e não outro reino além deste mesmo onde já estamos… Este Cristo, mesmo heterodoxo (mas que vale a doxa nesses domínios?), mesmo inventado (como proceder de outra maneira?), não deixa, porém, de se relacionar com os textos do Novo Testamento, ao menos com alguns deles. Por exemplo, no Evangelho segundo São Lucas: “Tendo-lhe os fariseus perguntado quando viria o Reino de Deus, ele lhes respondeu: ´O Reino de Deus não vem como um fato observável. Não se dirá: ´Aqui está´ ou ´Lá está`. Pois o Reino de Deus está em vós” (entos humôn), ou “ente vós”, ou “no meio de vós” (todas essas traduções, embora menos evidentes, são aceitáveis), ou talvez, melhor ainda, e como dizia o Evangelho de Tomé, o Reino de Deus está ao mesmo tempo “em vós e fora de vós”. É o que Guillemin, em L´affaire Jésus, denominava com razão “a grande revelação-divulgação que o nazareno trazia”, da qual eu diria de bom grado que põe fim, para mim, a qualquer religião revelada, e mesmo a qualquer religião. Se o Reino está em nós, e se estamos no Reino, para que serve a fé e a esperança? Não se deve crer em mais nada; deve-se conhecer tudo. Não se deve ter esperança em mais nada; deve-se amar tudo. Isso coincide com a lição dos místicos, em todos os países. Por exemplo, Nagarjuna: “Enquanto fazes uma diferença entre o nirvana e o samsara, estás no samsara”. Meu Cristo interior diria igualmente de bom grado: “Enquanto fazes uma diferença entre o Reino e este mundo de miséria, estás neste mundo de miséria”. É a Boa Nova dos Evangelhos, tais como os leio: já estamos salvos. Mas singularmente rude: já que nada mais deixa para ter esperança! Suporta-a quem pode, e quase não o podemos. A esperança é mais fácil; a religião é mais fácil. Mas “cumpre ater-se ao difícil”, como diz Rilke: isso indica o caminho, onde já estamos, onde avançamos como podemos, no cansaço, no sofrimento, na angústia – na alegria por vezes. Foi isso a que chamei a sabedoria do desespero, a que Cristo antes chamaria a sabedoria do amor, e é ele, com certeza, que tem razão. Nada para crer, nada para ter esperança. Não há outra salvação senão viver, não há outra salvação senão amar: o Reino é aqui na terra; a eternidade é agora.
André Comte-Sponville
[Comte-Sponville, André. Bom dia, angústia! Tradução Maria Ermantina Galvão G. Pereira. – São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 143.]

0 27
Vasco Arruda

Diversos são os elementos indispensáveis a nossa vida: o ar, a luz, o alimento, as vestimentas, nossas faculdades naturais, nossos órgãos. Entretanto, não usamos, de maneira alguma, todos eles simultaneamente, mas sim uns e outros de acordo com as circunstâncias e exigências do momento. Não solicitamos continuamente a ajuda de todos os nossos membros. Enquanto o Salvador em tudo e sempre vem tão prontamente em socorro daqueles que são seus amigos, Ele responde sozinho a todas as suas necessidades. Ele é tudo para eles e não permite que os desejos deles se desviem para qualquer direção que seja diferente da d´Ele. Porque não há nenhuma promessa que Ele não possa realizar; é Ele mesmo quem lhes dá a vida, faz que cresçam, alimenta-os, torna-Se a luz deles, seu sopro, abre-lhes os olhos, ilumina-os; é Ele quem lhes concede vê-Lo. É ao mesmo tempo o restaurador das almas e seu alimento; Ele lhes distribui o pão da vida que é Ele mesmo; é vida para aqueles que vivem e perfume para aqueles que respiram; é d´Ele que se revestem aqueles que O desejam: Ele mantém nossa caminhada e é nosso caminho; Ele é o ponto de parada durante o trajeto e, ao mesmo tempo, o fim da viagem. Somos os membros, Ele é o chefe. Estamos lutando? Ele combate conosco. Estamos divergindo? Ele é o árbitro. Somos vencedores? Ele é nossa coroa.
Jean-Yves Leloup
[Leloup, Jean-Yves. A vida em Jesus Cristo: Segundo Nicolau Cabasilas e Santo Tomás de Aquino. Tradução Martha Gouveia da Cruz. – São Paulo: Editora UNESP, 2008, p. 37.]

0 37
Vasco Arruda

Um Certo Galileu – Versão Ampliada
Um certo dia, a beira mar
Apareceu um jovem Galileu
Ninguém podia imaginar
Que alguém pudesse amar do jeito que ele amava
Seu jeito simples de conversar
Tocava o coração de quem o escutava

E seu nome era Jesus de Nazaré
Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pregador
Que tinha tanto amor

Naquelas praias, naquele mar
Naquele rio, em casa de Zaqueu
Naquela estrada, naquele sol
E o povo a escutar histórias tão bonitas
Seu jeito amigo de se expressar
Enchia o coração de paz tão infinita

E seu nome era Jesus de Nazaré
Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pregador
Que tinha tanto amor

Em plena rua, naquele chão
Naquele poço e em casa de Simão
Naquela relva, no entardecer
O mundo viu nascer a paz de uma esperança
Seu jeito puro de perdoar
Fazia o coração voltar a ser criança

E seu nome era Jesus de Nazaré
Sua fama se espalhou e todos vinham ver
O fenômeno do jovem pregador
Que tinha tanto amor

Um certo dia, ao tribunal
Alguém levou o jovem Galileu
Ninguém sabia qual foi o mal
E o crime que ele fez; quais foram seus pecados
Seu jeito honesto de denunciar
Mexeu na posição de alguns privilegiados

E mataram a Jesus de Nazaré
E no meio de ladrões puseram sua cruz
Mas o mundo ainda tem medo de Jesus
Que tinha tanto amor…

VITORIOSO! RESSUSCITOU!
Após três dias à vida Ele voltou
Ressuscitado, não morre mais
Está junto do Pai pois Ele é o Filho Eterno
Mas Ele vive em cada lar
E onde se encontrar um coração fraterno

Proclamamos que Jesus de Nazaré
Glorioso e triunfante, Deus conosco está!
Ele é o Cristo e a razão da nossa fé
E um dia voltará!
Pe. Zezinho

0 29
Vasco Arruda

Cristo, sem ambição e apego às coisas materiais.
Cristo, sem dogmas e ritos.
Cristo, sem seguidores e mestres.
Cristo, voltado para o interior do homem.
Cristo, da Igualdade, fraternidade, sem crença nas religiões organizadas.
Cristo, sem fronteiras, sem partidos, sem ideologias.
Cristo, sem preconceitos raciais.
Cristo, partindo do amor, surgindo no coração.
Cristo, sem meias verdades.
Cristo, da liberdade e da paz universal.
Cristo, que não condiciona os seus seguidores.
Cristo, que nasce no interior do homem.
Cristo, do coração para outro coração.
Francis Valois Tsé
[Tsé, Francis Valois. Cristo verdadeiro. Em: Revela-te: um pouco de tudo: poesia, humor, reflexões, máximas, contos. – Recife: Liceu, 2011, p. 12.]

0 42
Vasco Arruda

O pensamento doutrinário de Jesus está todo ele fincado em dois pilares, em duas colunas, quais sejam: a responsabilidade e o merecimento. Quanto à responsabilidade, quis Jesus demonstrar que o indivíduo responde por suas ações, pelos seus atos, pelo seu crescimento espiritual até chegar à perfeição. Quanto ao merecimento, quis Jesus demonstrar que o indivíduo, pelo esforço individual, e pelo seu merecimento, alcançará o Reino do Céu, a perfeição estipulada por Deus, objetivo maior destinado a todos os seus filhos. Para que o indivíduo alcance a perfeição serão necessárias várias existências e foi por isso que Jesus falou de maneira velada. O sermão da montanha – as Bem-aventuranças – sintetiza toda a sua doutrina. Se nada mais Ele tivesse falado e exemplificado, o conteúdo moral nele encerrado dispensaria todo o resto. Nesse sentido, os próprios Evangelhos são seus complementos.
José Gilbervan de Oliveira
[Oliveira, José Gilbervan de. O espiritismo e Jesus: a fé raciocinada em contraposição à fé cega. Fortaleza: Gráfica LCR, 2011, p. 130.]

0 23
Vasco Arruda

Contemplando-o (ao Salvador), sempre de novo, pela meditação assídua, tua alma há de por fim encher-se dele e tu conformarás a tua vida interior e exterior com a sua. Ele é a luz do mundo; é nele, por ele e para ele que devemos ser iluminados. Ele é a árvore misteriosa do desejo de que fala a Esposa dos Cantares… Ele é a cisterna de Jacó, essa nascente de água viva e pura; a ela cumpre chegarmo-nos muitas vezes, para lavar nossa alma de suas manchas. Os meninos, como é sabido, ouvem continuamente as suas mães falarem e, esforçando-se por balbuciar com elas, aprendem a falar a mesma língua; deste modo nós, unindo-nos com nosso Senhor, pela meditação, e notando as suas palavras e ações, os seus sentimentos e inclinações, aprenderemos, por fim, com a sua graça, a falar como ele, a agir como ele, a julgar como ele e amar como ele. A ele é preciso prendermo-nos, Filoteia, e crê-me que não podemos ir a Deus, Pai, senão por esta porta que é Jesus Cristo, como ele mesmo nos disse. Realmente é necessário agarrar-se a isso, Filoteia, porque não é possível caminhar em direção a Deus Pai de outro modo.
São Francisco de Sales
[São Francisco de Sales. Introdução à vida devota, II,1. Petrópolis: Vozes, 1958, p. 82. Citado em: Sgarbossa, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003,p. 55.]