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17. O Caminho da Individuação

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Vasco Arruda

Mentir é querer passar pelo que não se é. Mas passar por outro do que não se é – sem o querer – não é mentir. É levar ao engano. O que distingue o mentiroso daquele que leva ao engano, é que todo mentiroso tem a intenção de enganar – mesmo que não se chegue a crer nele. Ao passo que levar ao engano, necessariamente, é algo impossível de não se dar. O fato acontece mesmo.
Santo Agostinho
[Santo Agostinho. A verdadeira religião; O cuidado devido aos mortos. Tradução de Nair de Assis Oliveira. – São Paulo: Paulus, 2002, p. 87. (Patrística; 19)]

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Vasco Arruda

Caro amigo Desconhecido, o Arcano “O Sol”, que nos interessa aqui, é o arcano das crianças banhadas pela luz do Sol. Não se trata de encontrar coisas ocultas, mas de ver as coisas comuns e simples na luz do Sol e com um olhar de criança.
O décimo nono Arcano do Tarô, o arcano da “intuição”, é o da “Ingenuidade” reveladora no ato do conhecimento, ingenuidade que torna o espírito capaz de intensidade, de olhar não perturbado pela dúvida nem pelos escrúpulos que ela gera, e capaz da visão das coisas tais como elas são à luz eternamente nova do Sol. Esse arcano ensina a arte de receber a impressão pura e simples que revela, por si mesma – sem hipóteses e superestruturas intelectuais – o que as coisas são. Tornar a impressão “numinosa” é o objetivo do Arcano “O Sol”, o Arcano da intuição.
Compreendes, assim, caro amigo Desconhecido, que, falando do amor paterno, de seus dois aspectos, da prática da novena e do rosário etc., não nos afastamos do tema do décimo nono Arcano do Tarô, bem ao contrário, uma vez que penetramos justamente em seu coração. Porque esforçamo-nos para passar da “compreensão” do que é a intuição para o seu “exercício”, da meditação sobre o Arcano da intuição para o emprego desse Arcano.
[Meditações sobre os 22 arcanos maiores do Tarô / por um autor que quis manter-se no anonimato; prefácio de Robert Spaeman; apresentação de Hans Urs von Balthasar; (tradução Benôni Lemos). – São Paulo: Paulus, 1989, p. 538. – (Coleção Amor e psique)]

Vasco Arruda

…o seu inconsciente precisa de um deus. É uma necessidade séria e autêntica.
C. G. Jung
[Jung, C. G. A vida simbólica: escritos diversos. Tradução de Araceli Elman, Edgar Orth; revisão literária de Lúcia Mathilde Endlich Orth; revisão técnica de Jette Bonaventura. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. – (Obras completas de C. G. Jung; v. 18/1) III. A vida simbólica, p. 277.]

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Vasco Arruda

Temos necessidade de um equilíbrio justo e sábio e, muitas vezes, é preciso sacrifício para alcançá-lo. Gevurah é o sacerdote sacrificial dos mistérios. Sacrifício significa a escolha deliberada de um bem maior; é a transmutação da força. A energia psíquica é assim liberada para ser usada no canal escolhido. Gevurah representa a coragem e a resolução que liberta da irresolução e do compromisso fatais, um remédio adstringente para uma ferida aberta que de outra forma infeccionaria.
Dra. Irene Gad
[Gad, Irene. Tarô e individuação: correspondências com a cabala e a alquimia. 2ª. ed. Tradução Elisabete Abreu. – São Paulo: Mandarim, 1996, p. 87.]

Vasco Arruda

Já que essas revelações eram extraordinárias, para eu não me encher de soberba, foi-me dado um aguilhão na carne – um anjo de Satanás para me espancar – a fim de que não me encha de soberba. A esse respeito três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Respondeu-me, porém: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder”. Por conseguinte, com todo o ânimo prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo. Por isto, me comprazo nas fraquezas, nos opróbrios, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte.
2 Cor 12,7-10
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 2029.]

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Vasco Arruda

Receio que nada se pode fazer com essas pessoas. A Igreja está aí e é válida para os que estão nela. Os que estão fora das paredes da Igreja não podem ser trazidos de volta por meios comuns. Mas gostaria que o clero entendesse a linguagem da alma e que o clérigo fosse um diretor de consciência. Por que seria eu um diretor de consciência? Eu sou médico e não tenho preparo para isso. Trata-se de uma vocação natural do clérigo; ele deveria fazê-lo. Por isso gostaria que surgisse uma nova geração de pessoas do clero que fizessem o mesmo que se faz na Igreja Católica: tentar traduzir a linguagem do inconsciente, inclusive a linguagem dos sonhos, para uma linguagem inteligível. Sei, por exemplo, que existe agora na Alemanha o Círculo de Berneuchen, um movimento litúrgico cujo representante principal é um homem com grande conhecimento dos símbolos. Ele me deu uma série de casos que pude comprovar, em que traduziu, com grande êxito, para a linguagem dogmática a linguagem dos sonhos, e estas pessoas voltaram calmamente para o ordenamento da Igreja. Alguns de nossos neuróticos não têm nenhuma desculpa e nenhum direito de ser neuróticos. Eles pertencem a uma Igreja, e se a gente conseguir que eles voltem à Igreja, nós os teremos ajudado. Muitos de nossos pacientes se tornaram católicos, outros voltaram à sua Igreja original. Mas isto deve ser algo que tenha substância e forma. Não é verdade que toda pessoa que analisamos dê forçosamente um pulo no futuro. Talvez ela seja determinada por uma Igreja e, se pude voltar à Igreja, talvez isto seja o melhor que lhe possa acontecer.
C. G. Jung
[Jung, C. G. III. A vida simbólica, p. 284. Em: Jung, C. G. A vida simbólica: escritos diversos. Tradução de Araceli Elman, Edgar Orth; revisão literária de Lúcia Mathilde Endlich Orth; revisão técnica de Jette Bonaventura. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. – (Obras completas de C. G. Jung; v. 18/1)]

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Vasco Arruda

Foi no início da segunda metade de minha vida que comecei o meu confronto com o inconsciente. Foi um trabalho que se estendeu por longos anos e só depois de mais ou menos vinte anos cheguei a compreender em linhas gerais os conteúdos de minhas fantasias.
C. G. Jung
[Jung, C. G. Memórias, sonhos e reflexões. Reunidas e editadas por Aniela Jaffé. Tradução de Dora Ferreira da Silva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s/d, p. 177.]

Vasco Arruda

Haverá algum entre vós que acredita poder poupar-se o caminho? Poder eximir-se astuciosamente do sofrimento de Cristo? Eu digo: este se ilude para seu próprio prejuízo. Ele se deita sobre pregos e fogo. Do caminho de Cristo ninguém pode ser poupado, pois este caminho conduz ao que virá. Vós todos deveis tornar-vos Cristos.
Vós não superareis a velha doutrina fazendo menos, mas fazendo mais. Cada passo para mais perto de minha alma estimula o riso de deboche de meus demônios, aqueles bisbilhoteiros e envenenadores covardes. Para eles era fácil zombar, pois eu tinha coisas estranhas a fazer.
C. G. Jung
[Jung, C. G. O Livro Vermelho: Liber Novus. Editado por Sonu Shamdasani; prefácio de Ulrich Hoerni; tradução: Liber Novus, Edgar Orth; introdução, Gentil A. Titton e Gustavo Barcellos; revisão da tradução, Walter Boechat. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010, p. 234.]

Vasco Arruda

(…) o simples fato de alguém viver a vida simbólica tem uma influência extraordinariamente civilizadora. Essas pessoas são bem mais civilizadas e criativas por causa da vida simbólica. As pessoas apenas racionais têm pouca influência; tudo nelas se resume a discurso e com discurso não se vai longe.
C. G. Jung
[Jung, C. G. A vida simbólica: escritos diversos. Tradução de Araceli Elman, Edgar Orth; revisão literária de Lúcia Mathilde Endlich Orth; revisão técnica de Jette Bonaventura. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. – (Obras completas de C. G. Jung; v. 18/1) III. A vida simbólica, p. 282.]