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10. Bruxarias machadianas

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Vasco Arruda

– Ora, diga-me; não crê agora que haja uma Providência?
– Sempre acreditei.
– Não minta; se acreditasse não teria recorrido ao suicídio.
– Tem razão, coronel; dir-lhe-ei até: eu era um pouco de lodo, hoje sinto-me pérola.
– Comprendeu-me bem; eu não queria aludir à fortuna que veio encontrar aqui, mas a essa reforma de si mesmo, a essa renovação moral, que obteve com este ar e na contemplação daquela formosa Celestina.
Machado de Assis
[Assis, Machado de. Obra completa em quatro volumes: volume 2. Organização Aluizio Leite Neto, Ana Lima Cecilio, Heloisa Jahn. – 2ª. ed. – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. v. – (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira. O anjo Rafael. p. 941ss.]

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Vasco Arruda

Um homem, – era naquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

Machado de Assis
[Assis, Machado de. Obra completa em quatro volumes: volume 3. Organização Aluízio Leite Neto, Ana Lima Cecilio, Heloisa Jahn. – 2.ed. – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008, p.584. v. – (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira)]