Texto por Renata Rodrigues, head de operações da Casa Azul. Renata cursa Engenharia Elétrica na UFC. Meio nerd. Ama comida e séries água com açúcar e sobre ficção científica. Provavelmente será uma velha cheia de bichos em casa (ou talvez já seja :P)

 

Antes de entrar na Casa Azul minha experiência com o empreendedorismo era por ter participado de programas que incentivem o mesmo na Universidade. Tinha certa experiência, mas ela era coberta de mitos, que um conhecimento inicial e superficial desse universo apresenta. O empreendedorismo de início é ensinado como algo fantástico, de trabalho dinâmico, fazendo produtos que mudem o mundo. Por um lado ele deve ser apresentado dessa forma para incentivar e disseminar sua cultura, que ainda tem muito o que avançar aqui no Brasil, por outro, esse discurso acaba criando modelos de negócios utópicos, e empreendedores que desistem quando se deparam com uma realidade diferente da vendida. Não me entendam mal, podemos fazer negócios sonhadores e que mudem o mundo (eu também quero fazer isso), mas eles devem começar com um toque realista e prático para alcançar esse patamar. Com esse tempo trabalhando na Casa Azul, pude aprender muito sobre a realidade desse universo de startups. Com isso vou apresentar 5 hábitos ruins que vejo que empreendedores cometem ao dar início aos seus primeiros negócios.

  1. Focar na solução

Esse é um dos principais problemas que muitos empreendedores apresentam. Eles se apegam a ideia que criaram e querem que os clientes se adequem a ela. Se imaginam montando toda aquela solução, e quando ela não apresenta mercado, se frustram e logo desistem. O que os empreendedores devem se apegar é a necessidade do seu público, e criar uma proposta única de valor para atingi-la. Se a solução será um aplicativo, se ele terá uma tela inicial de certo tipo, pouco importa, o importante é que a proposta única de valor e a necessidade do cliente sejam supridas.

2. Fazer um produto geral para atingir vários públicos

Muitos empreendedores pensam muito no futuro, e já querem fazer um produto que atinja um grande público, pensando na sustentabilidade a longo prazo do negócio. Isso é perigoso, porque fazer algo que muitos gostem, tira a identidade do negócio, o fazendo ser facilmente descartável. As Startups devem pensar em fazer algo que seu público ame, pois assim se criará um vínculo e uma necessidade com o que você está oferecendo. O imediatismo faz com que muitos empreendedores busquem novos mercados, sem terem produtos fortes o suficiente para isso. A estratégia que uma Startup deve ter em seu início é de retenção e não expansão. Escolha um mercado específico, trabalhe próximo dele, o entenda e faça um produto que atinja suas necessidades. Depois de fidelizar esse mercado você estará pronto para pensar em expandi-lo. Você pode tirar de exemplo o Facebook, que teve como primeiro segmento de cliente os estudantes de Harvard, e hoje é um produto que se expandiu para milhões de usuários.

3. Projetar todo o negócio, sua estrutura e custos para um modelo futuro e estável

É nessa parte que é analisado a viabilidade de seu negócio em termos financeiros, e muitas pessoas projetam uma realidade distante da atual, com custos em estruturas que não serão necessárias por agora. Nesse momento, é preciso ter um olhar prático: Qual serão os recursos necessários para o seu  Mínimo Produto Viável (MVP)?

Deve-se partir desse ponto e avançar com o tempo, projetando o seu crescimento para transformar o negócio em algo sustentável a cada estágio. Como um exemplo, muitas pessoas projetam a necessidade de uma grande plataforma e serviço automatizado no início de seus negócios, sem ter a necessidade da mesma. Muitas Startups de sucesso começaram sem tecnologia, fazendo o operacional com as próprias mãos e planilhas, com o crescimento e a escala foram desenvolvendo suas tecnologias e expandindo o negócio. Pense no seu negócio como um conjunto de etapas e estágios, e analise seus custos e estruturas dentro deles.

4. Não vender seu produto, com o intuito de fazer melhorias até ele estar apto a comercialização

Alguns empreendedores não comercializam logo o seu MVP por sentirem receio de ele não estar preparado para o mercado, ou mesmo vergonha por apresentarem um modelo tão primário, e gostariam de realizar melhorias. Isso talvez seja uma maneira de se enganar, porque seu produto não precisa ter um design avantajado ou altas funcionalidades, ele precisa resolver o problema de seu cliente. E se seu MVP faz isso e mesmo assim as pessoas não estariam dispostas a pagar, talvez seja um indicativo que as pessoas não estariam dispostas a pagar pelo modelo mais elaborado também, e você pode estar despendendo esforço em uma solução sem mercado. Deve se entender que o preço também faz parte do produto, e ele é umas das maiores validações que se pode ter do seu negócio. Atrasar a comercialização do seu produto pode ser o mesmo que atrasar a sua validação e fazer você focar em uma direção errada por mais tempo. Óbvio que também existem suas exceções, como os negócios que abrem gratuitamente com o intuito de acumular usuários, e logo após lançar suas contas premiuns. Deve se analisar caso a caso.

5. Atrair investimentos externos assim que o negócio é iniciado

Um dos principais problemas para o início de um negócio é a falta de dinheiro. Esse problema é resolvido com a aquisição de investimentos. Porém, muitas vezes eles são angariados em estágios prematuros de seu negócio. O que eu quero dizer com isso?

Os investidores esperam crescimento, e, ao contrário do que muitos pensam, o objetivo inicial de uma Startup não é crescer, e sim aprender e alimentar o seu negócio com esses feedbacks. Ter investimentos externos muito cedo, pode forçar o seu empreendimento a crescer, quando seu produto não tem maturidade suficiente para tal, e forçar você a olhar para as métricas de números de usuários, quando você deveria estar olhando para métricas qualitativas do seu produto. O estágio ideal para conseguir investimentos externos é quando você já tem um produto validado para o seu mercado e tem agora o objetivo de crescimento do seu negócio, mesmo objetivo que seu investidor terá.

A realidade para esses 5 hábitos, se formos parar para analisar, seguem três linhas, que são basicamente os passos para quem quer iniciar uma Startup:

  1. Focar nos problemas e na necessidade dos usuários: Delimite quem são seus clientes no início, tenha certeza que você soluciona um problema no qual as pessoas estariam disposta a pagar. Isso fará com que você tem um mercado a explorar.
  2. Foque em um público específico e o retenha: Ao determinar um segmento específico de clientes, conviva com eles, melhore seu produto junto a eles e seus feedbacks, faça um produto que seus clientes irão amar.
  3. Momento de crescimento e investimento: Depois de fincar a qualidade do seu produto, é hora de se certificar da quantificação do seu negócio. É o melhor momento para investimento e aceleração.

E dentro dessas três etapas você pode ter uma visão sonhadora (na verdade deve), mas sempre tenha um pensamento prático e realista sobre os próximos passos. Seguindo essas etapas não é garantia que seu negócio será um sucesso, mas podemos dizer que você saberá rapidamente se é um empreendimento que vale seu esforço ou não. Se não valer, você terá mais tempo para projetar um outro negócio que poderá ser um sucesso. O meio empreendedor é um ambiente de tentativa e erro, então seu principal objetivo é errar rápido para não perder seu principal recurso: o tempo.

Por conta disso, talvez o maior dos mitos no empreendedorismo seja a vanglorização pregada, quando a realidade é: se você quer empreender, certifique-se que você está fazendo algo que você precisa (é da sua natureza), e que o mundo precisa (tem mercado). Pois aí você terá o suficiente para passar pelo caminho de tentativa e erro que terá pela frente.

Para finalizar gostaria de salientar que o que foi escrito não são verdades absolutas, afinal, também estou aprendendo. Mas são realidades que se encaixam para a maioria das Startups, o que quero é que vocês sempre se questionem sobre esses aspectos, para tomar decisões racionais e prever falhas rapidamente, mas o que é mito ou verdade para a sua Startup quem irá dizer é você, que a conhece melhor do que ninguém.

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