ogloboÉ natural que a decisão do Papa, de renunciar à sua função de pontífice máximo, gere repercussão e especulação na imprensa. Algumas elucubrações até se tornam  engraçadas, como o  malabarismo feito para associar o gesto do papa  falar em espanhol, durante um pedido de oração, à escolha de um papa Latino-Americano. Na edição de terça,19, o Jornal Nacional apresentou um cardeal italiano como sendo o arcebispo emérito de São Paulo Dom Cláudio Humes, pondo em cheque a teoria sustentada pela repórter em uma matéria exibida nacionalmente.

Certamente, o pior que saiu na imprensa brasileira sobre a renúncia do papa foi publicado dia 17 de fevereiro em uma coluna do Jornal O Globo. O espaço dedicado ao humor achincalha com a pessoa de Bento XVI, líder da Igreja com maior expressão na sociedade brasileira. O texto é grosseiro, abusivo  e de uma inutilidade ímpar.

E por que comentá-lo? Porque foi publicado em um grande veículo de comunicação; porque execrou a imagem pública de Bento XVI, líder religioso e chefe de estado; porque em uma sociedade de ordem e pacífica como a nossa, o preconceito e o  ódio gratuito não podem ser tolerados.

O pseudo repórter – alguém com ódio mortal ao  papa – chama Ratziger por duas vezes de Adolf, uma referência ao líder nazista que matou milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Compara o Conclave, reunião dos cardeais votantes para escolher o novo papa, de sauna gay e alcunha a Igreja de pedófila apostólica romana, além de outras expressões que me recuso reproduzir neste espaço.

O colunista, editores e responsáveis pela veiculação do conteúdo do jornal  desconhece o papel e os limites da liberdade de imprensa.Sim, eles existem. Em conversa com o ANCORADOURO a advogada Marília Bitencourt lembrou que, “a divulgação de escritos, transmissão da palavra ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais [como é o caso da coluna]”.

Mas dirão, “é uma coluna de humor”. E daí? O humor também possui limites, embora ainda não existam parâmetros concretos, mas já há exemplos de punição no país. Vale recordar que o humorista Rafael Bastos foi processado e teve que pagar indenização por ter feito piada contra o feto de uma cantora sertaneja. Já o cantor Luan Santana processou e pediu a bagatela de duzentos mil reais ao humorista Vinícius Vieira por ter feito um plágio de uma música sua onde se colocou em cheque a orientação sexual do cantor; o programa Pânico da TV Bandeirantes foi condenado pelo STJ pela “brincadeira” de jogar baratas vivas em transeuntes.

Ao ser questionada pelo material a redação apenas informa que a reclamação será repassada ao editor. E pronto. Mas o  dano já foi feito, milhares de pessoas leram. A imagem do ancião de Roma foi hostilizada mais uma vez.Não há reparação, retratação, nada. E não duvido que  em uma próxima coluna se queira superar-se e produzir material ainda mais abjeto. E assim, os ratos continuam a engorda no esgoto.

SERVIÇO

Para quem quiser pode expressar, com muito respeito, sua indignação ao conteúdo publicado na coluna do Agamenon onde chama o papa de Adolf e chama o Conclave de sauna-gay.

Caderno de cultura: (21) 2534.5703

e-mail: segundocaderno@oglobo.com.br

 

About the Author

Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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