Tempos atrás publiquei um belíssimo texto do grande monge budista Thich Nath Hanh falando sobre o poder que a EMPATIA e a COMPAIXÃO tem sobre nós, ao ponto até mesmo de nos fazer amar os nossos inimigos. Sim! Ao ler esse texto, você poderá ter um insight fantástico de como proceder em relação ao inimigo. Se você ainda não leu, recomendo fortemente, o link está logo abaixo.
Por que devemos amar os nossos inimigos?
Aprofundando ainda mais essa relação com o inimigo, compartilho abaixo algumas sábias palavras do monge budista Meihõ Genshõ mostrando que os nossos maiores inimigos estão dentro de nós mesmos, são os sentimentos de ORGULHO e VAIDADE.
“O que mais nos atrapalha, a todo momento, é termos um ego, uma vaidade e uma noção de separação. Estou separado dos outros, por causa disso, eu penso que ajo melhor do que os outros. Devo me calar a respeito de todas essas coisas e devo procurar fazer com que as pessoas manifestem suas qualidades. Sobre minhas qualidades devo me calar. Sobre minhas dificuldades, também devo me calar, pois sei que tenho dificuldades e não é útil ficar falando sobre elas, apenas devo tentar me corrigir. O melhor caminho é o silêncio. Calar e agir. Não devemos enxergar, quando os outros apontam alguma dificuldade nossa, um ataque ao nosso ego. Nesse momento, devemos nos perguntar: “Quem se incomodou?”, “Quem se importa com isso?”. Meu orgulho e minha vaidade se importam com isso, por isso me importo e não quero ser criticado. Meu orgulho e minha vaidade são meus grandes inimigos, pois, são a manifestação do meu ego, portanto, eles fazem a separação.”
Meihõ Genshõ
Estas são palavras que, se bem compreendidas, podem nos fazer crescer imensamente. O monge Meihõ está nos alertando sobre a forma com que nós REAGIMOS às situações da vida e do dia a dia. Se eu reajo a tudo de uma forma HUMILDE e SERENA, é assim que minha vida tende a se tornar cada vez mais. Agora se eu escolho reagir de forma ORGULHOSA e AGRESSIVA, também é assim que minha vida se tornará. Perceba! É uma questão de ESCOLHA, é a forma como decido reagir a um determinado acontecimento.
Ele fala sobre as críticas. Ninguém gosta de ser criticado. Quase sempre que somos criticados temos a tendência de nos protejermos, e essa reação é produto do nosso EGO. Quanto mais trabalhamos o nosso ego para que não sobressaia sobre nossas reações emocionais, mais crescemos em humildade, serenidade e sabedoria. O caminho que este monge ensina é simplesmente perfeito e pouco a pouco tenho procurado aplicar na minha própria vida.
Qual é, a meu ver, a melhor forma de se comportar ao receber uma crítica? A primeira coisa é ficar em silêncio por um bom tempo, nesse tempo de silêncio e recolhimento é fundamental fazer um exame de consciência e pensar longamente sobre as palavras de quem nos criticou. Após essa reflexão, devemos tentar melhorar em algum ponto que fez a outra pessoa se incomodar. Se possível, seria ótimo falar com essa pessoa e tentar dialogar com ela, sendo humilde e dizendo que errou nisso, nisso e naquilo outro.
Esse foi um lado da questão, quando a pessoa que nos criticou o fez por algo que realmente fizemos de errado. Deixo claro que esse exercício que acabei de descrever não é nada fácil, requer grande humildade e busca constante pelo aperfeiçoamento pessoal.
Agora também existe outro lado da questão. Quando somos criticados diretamente sobre algo que faz parte dos nossos ideais e convicções mais profundas. Aqui é preciso ter muito cuidado com as palavras, com a forma como você se dirige a outra pessoa e se comunica com ela. Exemplos clássicos são os referentes às escolhas religiosas ou pessoais, tais como morar sozinho, ou não querer casar, ou não querer abrir mão de vícios e costumes adquiridos ao longo da vida etc.
Nós fazemos nossas escolhas e devemos ter consciência de que elas nos trazem ganhos e perdas SEMPRE. Quando alguém nos critica sobre algo que não queremos mudar, precisamos responder com sinceridade que, se a outra pessoa se incomoda com isso, ela precisa aprender a conviver com isso ou então buscar o convívio de outra pessoa. Esse exercício é ainda mais difícil do que o primeiro, porque ele pode levar até mesmo a ruptura de amizades e relacionamentos. Por isso estou sendo muito enfático com relação a importância das palavras e do como falar com a outra pessoa.
Esses atritos acontecem com bem mais frequência do que se imagina. Se alguém decide morar sozinho, sempre tem alguém para criticar que isso é errado. Se alguém decide não casar, tem sempre alguém para criticar que é errado. Se alguém decide não ter filhos, tem sempre alguém para criticar que é errado. Se alguém decide beber, fumar ou se drogar, tem sempre alguém para criticar que é errado… Se eu falasse todos os casos a lista não teria mais fim. O que é o certo? O que é o errado? O que é o melhor? O que é o pior? Ninguém pode afirmar nenhuma dessas questões. Quem abre a boca para afirmar qualquer uma delas, está dominado pelo EGO. A pessoa deve decidir a partir da sua própria consciência o que fazer, como fazer, o que é melhor ou pior. É tudo uma questão absolutamente pessoal.
Quero concluir ensinando uma maneira simplesmente infalível de você desarmar a pessoa que está lhe criticando, e essa forma tem ligação com a EMPATIA, que é você ver a situação a partir do ponto de vista da outra pessoa. Se você extrair apenas essa lição deste texto, já ficarei imensamente feliz. Se alguém lhe criticar, você pode desarmar essa pessoa apenas dizendo assim: “Tem razão! Você está absolutamente certo. Eu realmente fui negligente nisso, errei naquilo… Me desculpe. Vou procurar melhorar nisso ou naquilo…”. O que acontece quando você reage assim? Você atua diretamente com o EGO da outra pessoa, faz com que ela se sinta importante e até superior a você. Não é incrível? Eu acho até engraçado isso! Vou citar um exemplo real para você entender melhor.
Um amigo meu certo dia estava numa parada de ônibus usando uma camisa preta com a foto do Raul Seixas. De repente chega uma mulher evangélica dizendo que ele saísse desse mundo das drogas, que aceitasse Jesus como seu único e suficiente salvador. Que ele era muito novo para se perder nas drogas e seguir pessoas satânicas e mais um absurdo de baboseiras.
O que meu amigo fez? Foi um sábio. Ouviu atentamente e simplesmente disse: “A senhora está certíssima. Eu preciso mesmo sair dessa vida, estou me perdendo. Reze por mim para que eu tenha forças de largar meus vícios. Ficarei lisongeado com suas orações…”
A mulher saiu exultante de alegria por ter “salvado uma vida” e a colocado nas mãos do senhor Jesus. Rsrsrsrs! Entendeu como é? Imagine se ele tivesse discutido com essa mulher? Teria sido melhor? Acho que nem preciso responder não é mesmo?
Em resumo. O que aconselho quando você for criticado? Seja empático, fique em silêncio ou concorde com tudo o que a outra pessoa está dizendo (mesmo que seja uma baboseira). Pode ter certeza que agindo assim você vai driblar essas situações com maestria…