
Anos mais tarde, já como empreendedores de certo sucesso, uma coisa parecida aconteceu com nosso primeiro equipamento médico. Nós levamos seis meses para criar o estado da arte em oximetria de pulso. E gastamos mais de 18 meses para conseguir um registro na Anvisa e poder finalmente vendê-lo. Hoje, esse equipamento é utilizado em hospitais do Brasil todo e em vários locais do mundo.
Em 2017, desenvolvemos o Hilab, uma nova tecnologia para realização de exames de sangue pela internet. Tivemos que empreender uma grande batalha contra o establishment para levar a nossa tecnologia até as pessoas. Hoje, estamos em mais de 250 cidades do país e 15 das 25 maiores redes de farmácias brasileiras são nossas clientes. Nossa tecnologia está na linha de frente dos exames para Covid-19.
A grande verdade é que a saúde é lenta em aceitar inovações. Isso aconteceu conosco e acontece com todas as outras startups de saúde. De certa forma, é natural e até faz sentido. Inovar em saúde sempre é perigoso. E é importante que sejamos cuidadosos em seguir normas técnicas e sempre proteger a vida dos pacientes. Por outro lado, não podemos transformar o zelo em uma desculpa (ou até uma reserva de mercado) para não inovar. Ouso dizer que as barreiras regulatórias, criadas inicialmente para proteger os pacientes e a saúde pública, muitas vezes se transformam em grandes barreiras à inovação.
Em tempos de pandemia, essas barreiras precisam ser revistas. Temos conhecimento sobre a velocidade de disseminação do coronavírus e sua taxa de letalidade. O sistema de saúde como um todo precisa responder de forma rápida. No cenário que estamos vivendo, temos que aceitar as novas tecnologias para também conseguirmos desenvolver capacidade de tratamento. A principal dificuldade da saúde, que está sendo superada, é a necessidade de abraçar a inovações com velocidade, aceitar as mudanças e dar uma resposta ágil para o combate ao vírus. Por isso, mudar as regras do jogo e causar disrupções tecnológicas é necessário para vencer a pandemia.
As tecnologias que podem virar o jogo estão aí: exames de sangue pela Internet, telemedicina, Inteligência Artificial … Não tenho dúvidas que esses três campos da tecnologia irão contribuir em muito ao combate ao Covid-19. Mas acredito que o mais importante é mudarmos a mentalidade do setor e aprender a abraçar a inovação com mais agilidade. Não podemos esquecer que todas essas tecnologias já existiam há algum tempo no mercado, e não estavam ainda mais disseminadas no setor por razões que se mostram hoje pequenas.
Se conseguirmos aprender a introduzir inovações de forma rápida (e segura) à saúde, certamente sairemos mais fortes dessa crise. E estaremos preparados para os próximos vírus que (certamente) virão.