Em 2018, a história de Planeta dos Macacos completará 50 anos de trajetória no Cinema. Desde a primeira adaptação, em 1968, a série se tornou uma referência cult dentro da ficção científica. Com fortes críticas ao comportamento humano e sua jornada sempre destinada a destruição, o primeiro filme até hoje é lembrado pelo final surpreendente. Com quatro sequências, mas que falharam em manter a qualidade do primeiro, a saga original dos macacos trata desde temas palpáveis para a sociedade, até tramas envolvendo paranormalidade.

Passadas décadas sem que os símios voltassem aos cinemas, uma nova empreitada surgiu em 2001, quando Tim Burton ficou encarregado de dar uma nova roupagem para a saga. O resultado é uma obra não apenas abominável, mas que mandou a série de volta para o limbo imediatamente. Evidências para isso não faltam. 

10 anos depois, surgiu uma nova chance para os fãs. Dessa vez, nada de remake do original. Em “Planeta dos Macacos: a Origem”, dirigido por Rupert Wyatt, o chimpanzé César é apresentado para o público. Figura mítica do longa de 1968, o símio era reverenciado como o grande libertador dos primatas, quase como um semi-deus. No longa de 2011, a partir de um experimento, o então jovem chimpanzé adquire inteligência tão ampla quanto as dos humanos, chegando até o ponto de desenvolver a fala. Protagonizado por James Franco, o filme aborda o tema da lealdade, que talvez seja a temática mais recorrente da nova série.

Logo, o filme de 2011 chega como o início de uma ponte que acabará por levar a Terra até a realidade do futuro governado por macacos e não mais por humanos. A nova trilogia, no entanto, passa longe de ser enquadrada como um blockbuster habitual. Entre muitas razões, a principal delas é justamente César, protagonista dos três filmes e interpretado de forma concisa e fluída por Andy Serkis. Se em “Origem” Andy interpreta o chimpanzé jovem e inexperiente, sua transição para líder de uma resistência no filme seguinte é completamente crível, sendo o passo seguinte lógico para o personagem.

A genialidade de César não se encontra em ser um líder brutal, mas em ser aquele que está disposto a proteger seu povo, sejam de ameaças internas ou externas. Em “Planeta dos Macacos: O Confronto” há, sim, o embate entre símios e humanos, mas essa relação fica em segundo plano. É a transformação de Koba (Toby Kebell), braço direito de César, em seu adversário, que marca o aspecto central do filme. Mais uma vez, a lealdade é colocada em xeque. Não apenas de Koba para César, mas do antagonista em relação a sua própria espécie.

Diretor do segundo e terceiro filme, Matt Reeves chega apresentando um conceito diferente do visto em “Origem”. A paleta de cores vivas e que davam a sensação de vivacidade é trocada por tons escuros, que dialogam com o estilo mais obscuro do realizador. Essa transição não soa estranha, fazendo total sentido dentro do universo construído, e do futuro que aguarda a humanidade.

E se chamei Koba de “antagonista”, é apenas por falta de um termo melhor. Tanto o chimpanzé como os humanos que ameaçam César nos filmes em nenhum momento agem de forma arbitrária. Há um cuidado de Matt Reeves, também responsável pelos roteiros, de criar histórias concretas para estes personagens. Eles não são maus porque nasceram maus, mas por uma série de fatores que os levam a agir de forma extrema. Seja o desejo de vingança, ou instinto de proteger os que dependem deles, da mesma forma que César.

É preciso, claro, ressaltar o primor técnico da nova trilogia. A cada filme, o realismo dos símios caminha até beirar a perfeição. Em “Planeta dos Macacos: A Guerra”, o semblante de César é capaz de passar emoções complexas, sem dever nada para um ator em carne e osso. Com esse último filme, Andy Serkis prova ser um dos atores mais interessantes em atividade, ao conseguir mesclar não apenas um semblante convincente, como um trabalho corporal espetacular.

Grandes cenas de ação estão presentes nos três filmes, mas não são o ponto central da narrativa. Esse aspecto é mais ressaltado no terceiro longa, onde as relações de César com seu grupo próximo de símios e suas escolhas de liderança são mais relevantes que qualquer explosão hollywoodiana. A psique de César, inclusive, é abordada no último filme, ao colocar o personagem refletindo tanto sobre sua relação passada com Koba, quanto em como ele pode acabar se tornando o que pensou estar combatendo desde o início.

Apresentando a evolução de um personagem, enquanto lança temas relevantes e atuais, a nova trilogia de Planeta dos Macacos se encerra como uma das melhores franquias pós-anos 2000. Evitando apelar apenas para o espetáculo ao compor sua longa história, as tramas se focam no que realmente importa: os personagens e as consequências de seus atos. Uma saga para mostrar que, quando se coloca realizadores competentes no jogo, Hollywood ainda pode contar grandes histórias.

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Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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