Em um ano onde as adaptações de Stephen King ganharam ainda mais popularidade com o sucesso de “It: A Coisa”, até que demorou uma parceria do autor com a Netflix. Com a gigante do streaming atirando para todos os lados no quesito de filmes originais, e errando em muitas vezes, é com surpresa que o pouco alarmado “Jogo Perigoso” se sobressaia e seja uma das produções mais competentes da Netflix lançadas em 2017.

Durante uma viagem a sós com o marido, Jessie (Carla Gugino) decide dar uma chance para as fantasias de Gerald (Bruce Greenwood), o permitindo algemá-la à cama. Logo, a brincadeira começa a ir para rumos inesperados, quando Gerald mostra um lado agressivo até então ignorado por Jessie. Um ataque cardíaco fulminante acaba por matar o homem, deixando a esposa presa, sem comunicação e com um cachorro faminto nas proximidades da casa.

Com uma premissa similar a obras como “127 Horas” (2010), “Jogo Perigoso” se diferencia por não reduzir seu foco apenas à prisão de Jessie. Sozinha e sem ter como pedir ajuda, logo o psicológico da vítima entra em ação, a colocando para enfrentar traumas passados e perceber que seu marido sempre fora o cretino que conheceu enquanto estava algemada. A discussão da personagem com sua versão do próprio marido é um dos pontos altos do filme.

Sem esquecer da situação desesperadora na qual se encontra Jessie, o filme aposta em uma direção de fotografia que utiliza cores fortes para pontuar determinados momentos de sua trama. Saindo do clichê de sinalizar “perigo”, a cor vermelha aparece aqui simbolizando o despertar de um trauma na vida da protagonista. A mesma cor, contudo, também é usada na resolução deste trauma, uma escolha diferente e acertada por quebrar a expectativa da audiência.

Responsável por filmes de terror competentes como “Ouija: A Origem do Mal” (2016) e “O Espelho” (2013), o diretor Mike Flanagan mostra aqui sua obra mais madura. Sem apelar para jump scares e dosando a criação do suspense, “Jogo Perigoso” se perde apenas na construção da subtrama do “homem feito de luar”. Apesar de ser um dos pontos centrais da história, o desenvolvimento do conceito é vago e confuso, não sendo totalmente esclarecido para o espectador.

Com boas perfomances de seus protagonistas e utilizando bem o aspecto psicológico de Jessie, “Jogo Perigoso” é uma ótima adaptação de Stephen King e um dos melhores originais produzidos pela Netflix em 2017. Sem exagerar em aspecto nenhum, o filme consegue ser, ao mesmo tempo, unir suspense a um estudo competente de personagem.

Cotação: note 6/8

Ficha técnica:
“Jogo Perigoso” (2017). De Mike Flanagam. Com Carla Gugino e Bruce Greenwood.

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Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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