Entre o finalzinho dos anos 90 e o início do novo milênio, tive o prazer pôr TV a cabo em casa. O principal motivo desta conquista era conhecer as novidades musicais pela MTV. De quebra, conheci o show de variedades do Multishow. Foi neste período que tomei conhecimento sobre os prêmios musicais que os dois canais pagos entregam aos melhores do ano. Video Music Brasil, na MTV, e Prêmio Multishow de Música Brasileira, no Multishow. Acompanhando as edições de ambos, comecei a defender a tese de que o VMB era indiscutivelmente superior ao seu par, principalmente, por dois motivos: a qualidade das apresentações musicais e o fato dos vencedores serem apontados pela crítica. Críticos (como eu) são pessoas chatas, com fama de querer saber mais que os outros, mas que, de fato, são pagos pra dar uma análise mais aprofundada à produção cultural. A coisa não é uma opinião pela opinião.

É aí que a complicou. Hoje, que o prêmio é dado pelo voto popular, para vencer no VMB, o critério mais importante é a popularidade, principalmente entre o(a)s adolescentes. Que chance teria Mombojó diante do Cine, NX Zero e do vencedor Restart no Clipe do Ano? Não acho que a opinião do público deva ser esquecida ou menosprezada, mas quem, senhor, estaria disposto a defender o samba classudo do Diogo Nogueira na MTV? Arnaldo Antunes lançou um disco arrasador no ano passado (Iê Iê Iê) e resultou em um de seus melhores shows. Mas, quem viu isso? Pra lavar a alma e mostrar que ainda há esperança, Pitty ganhou o prêmio de Rock. Embora jovem em comparação à velha guarda do rock nacional como o seu concorrente Capital Inicial, Pitty chegou fazendo um trabalho honesto, promissor e ainda com muitas cartas na manga. Confesso que também nunca gostei dos prêmios internacionais. Nós temos muita música boa ainda desconhecida para ficar guardando espaço para artista estrangeiro, mas aí é outra discussão.

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Pra quem acompanha o VMB há tantos anos, também fica difícil se empolgar com os shows que acontecem entre as premiações. Antes eles eram o momento para encontros inéditos, como Sepultura e o Rappa, Natiruts e Rodolfo (ex-Raimundos) e belas homenagens como mereceram a Tropicália e Cássia Eller. Hoje a regra é pegar quem está na crista da onda e colocar pra tocar uma música própria. Este ano, pelo menos, colocaram o Otto pra remexer um pouco as coisas. E como remexeu. Crua é uma das melhores músicas do seu repertório e uma das melhores do repertório nacional dos últimos tempos.

Enfim, o VMB não vai acabar. Também não vai mudar e vai continuar garantindo alguma audiência para a MTV. Enquanto a produção não melhorar, o prêmio também não vai melhorar. Como a produção não vai melhorar, vale assistir o programa pelo espetáculo, de preferência ao vivo, que é quando é possível ver algo de espontâneo como o pití de Caetano em 2004. Sugiro correr para o computador e procurar no Myspace um som que você não conhece, mas que lhe faça se surpreender. Certamente, “surpreender” não é a palavra do VMB.

P.S.: Com Otto, Diogo Nogueira, Céu, Cidadão Instigado e Lucas Santtana concorrendo na categoria MPB, alguém pode me explicar o que é MPB?

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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