Por Alexandre de Santi para o Portal UOL


O ex-beatle Paul McCartney (Fotos: Divulgação/ Marcos Hermes)abusou da experiência de palco para encantar a plateia de Porto Alegre no primeiro show da turnê Up and Coming no Brasil. O músico voltou aos palcos brasileiros depois de 17 anos na noite deste domingo (7), no estádio Beira-Rio, e protagonizou um espetáculo de quase três horas. Embora previsível, o repertório premiou a plateia de cerca de 50 mil pessoas com clássicos dos Beatles e do Wings.

Após o show, McCartney partiu diretamente para o aeroporto rumo a Buenos Aires, onde se apresenta nos dias 10 e 11. O músico ainda volta ao Brasil para fazer shows em São Paulo nos dias 21 e 22 deste mês, no estádio do Morumbi. Os ingressos para os shows em São Paulo estão esgotados.
 
Do início ao fim da noite, McCartney usou do carisma para encantar os gaúchos. Os primeiros sinais da simpatia do músico surgiram após as duas músicas de abertura, o medley Venus and Mars e Rock show e o clássico Jet, quando o ex-beatle saudou o público em português. “Oi. Tudo bem? Boa noite, Porto Alegre! Boa noite, Brasil!”, emendou McCartney. Em seguida, mostrou o standard beatle All my loving. O repertório incluiu 37 músicas, repetindo a programação que vem sendo apresentada nesta turnê, sendo 22 da época dos Beatles, e a maioria restante focada na fase setentista de sua carreira fora do grupo.
 
A simpatia veio também pouco antes de encerrar o segundo bis, quando McCartney chamou ao palco duas adolescentes. Posicionadas na grade que separava o público da banda, as duas garotas (que não se conheciam) portavam cartazes nos quais pediam um autógrafo do músico na pele, que seria tatuado depois. McCartney fez os agradecimentos finais e, ao mencionar os cartazes, chamou Elisa Delfino e Ana Paula Hining, ambas de 18 anos, para receber o autógrafo em cima do palco. “Eu sempre quiser fazer uma tattoo, mas não queria escrever só Beatles”, explicou Elisa logo após o show, ainda derramando lágrimas.

Para se posicionar na frente do palco e segurar o cartaz com a frase “Paul, please sign my arm so it can get tatooed” (Paul, por favor assine meu braço para que seja tatuado), a adolescente chegou ao Beira-Rio ao meio-dia de quinta-feira (4). Ana Paula veio de Florianópolis para ver o ídolo. A estratégia de ganhar o autógrafo, no entanto, não veio por acaso. “Vi uma menina fazendo isso em algum lugar do mundo. Não foi autêntico. Copiei e sou a pessoa mais feliz do mundo”, disse a jovem minutos após o encerramento do show.
 
A presença das jovens não era exceção. McCartney conseguiu lotar o Beira-Rio atraindo jovens que não haviam nascido na época do frenesi beatle e saudosistas que viveram os anos 60 na plenitude. Para os dois públicos, as músicas dos Beatles foram as mais saudadas. Antes de engatar Drive my car, McCartney treinou um pouco mais de português ao se desculpar com a plateia. “Esta noite fui tentar falar português. Mas vou falar mais inglês”, disse, cuidando a pronúncia correta das palavras.
 
Mas McCartney seguiu arranhando português a noite inteira. Ao anunciar My love, o ex-beatle disse, lendo anotações: “Eu escrevi esta música para a minha gatinha, Linda. Mas, nesta noite, ela é para todos os namorados”. McCartney também foi ajudado por uma banda e equipe técnica de primeiro nível, que soube transformar o Beira-Rio em um teatro nos momentos mais intimistas, como Something, Yesterday e Blackbird, canções que levaram às lágrimas boa parte do público. Além do som impecável, os telões de alta definição posicionados nas laterais do palco aproximavam o espectador que estava mais distante do músico.
 
A noite foi completa para os beatlemaníacos que esperavam referências de McCartney aos companheiros de banda. John Lennon ganhou a comovente interpretação solo de Here today, igualmente apresentada em português, que McCartney compôs para homenagear o amigo após a sua morte. Lennon também foi lembrado com Give peace a chance e A day in the life, ambas de sua autoria. George Harrison recebeu uma homenagem por meio de Something, ilustrada no telão com fotos do guitarrista morto em 2001. McCartney executou a mesma versão com o ukelelê que faz parte do suas turnês desde a morte do ex-companheiro de banda.
 
Ágil e disposto a trocar de instrumentos à noite inteira (McCartney foi do baixo ao piano, passando pela guitarrra, violões acústicos, ukelelê e bandolim), o ex-beatle agitou a plateia com caras, poses e dancinhas. McCartney ainda soltou um “Bah, tchê!”, entre And I love her e Blackbird. A parte final do show foi uma demonstração da vitalidade do músico de 68 anos. No piano, comandou a apoteótica Live and let die, com direito a efeitos pirotécnicos e fogos de artifício. Em Hey Jude, atuou como maestro da plateia, de pé, coordenando a cantoria coletiva. O primeiro bis foi roqueiro, com Day Tripper, Lady Madonna e Get Back. No segundo e último bis, McCartney encontrou fôlego para cantar Helter Skelter, canção dos Beatles considerada uma das precursoras do heavy metal. E encerrou com Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (reprise) e The end.


Veja abaixo o repertório do show:
 
– Venus and Mars” / “Rock show
– Jet
– All my Loving
– Letting Go
– Drive my Car
– Highway
– Let me roll it
– The Long and Widing Road
– Nineteen Hundred and Eighty Five
– Let em in
– My Love
– I’ve just seen a face
– And I Love Her
– Blackbird
– Here Today
– Dance Tonight
– Mrs. Vandebilt
– Eleanor Rigby
– Something
– Sing The Changes
– Band On The Run
– Ob-la-di, Ob-la-da
– Back in the USSR
– I’ve Got a Feeling
– Paperback Writer
– A Day in Life / Give Peace a Chance
– Let it Be
– Live and Let Die
– Hey Jude

> 1º bis
– Day Tripper
– Lady Madonna
– Get Back

> 2º bis
– Yesterday
– Helter Skelter
– Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (reprise)
– The end

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles