Um dia antes da virada do ano, o cantor Dinho Ouro Preto mandou um recado especial para seus fãs pelo blog oficial de sua banda, o Capital Inicial. Começando pelo seu tão falado e enfim superado acidente (que bom!), ele diz: “Fisicamente, estou recuperado, mas ainda sinto ansiedade e tenho insônia. Uma médica me disse que isso é stress pós traumático. Era só o que me faltava. Eu já só sou hipocondríaco, e já era antes disso tudo, mas agora tenho mais um problema”. Em tom de desabafo em ombro de amigo, Dinho fala de projetos novos como um novo disco e um livro. Leiam na íntegra (em respeito ao artista e às circunstâncias em que ele escreveu, mantive sua grafia tal e qual está postado no blog do Capital).

Ok, vamos lá, como fazer o balanço de um ano? Como faço? Começo cronologicamente, tipo , em janeiro aconteceu isso, em março aquilo, ou vou só descrevendo os pontos altos e baixos? Como não há escapatória eu tenho que começar pelo pior momento da minha vida. Eu, sinceramente, já cansei de falar do meu acidente. No entanto acho que ele vai fazer parte da vida pra sempre. Fisicamente, estou recuperado, mas ainda sinto ansiedade e tenho insônia. Uma médica me disse que isso é stress pós traumático. Era só o que me faltava. Eu já só sou hipocondríaco, e já era antes disso tudo, mas agora tenho mais um problema. Minha família também passou por maus bocados. Meus amigos também. E os fãs do Capital não cansam de me dizer o quanto estão contentes por eu não ter morrido. O que é um pouco mórbido. Pronto, blza, chega desse assunto, bola pra frente, eu sempre me interessei mais pelo futuro. Sério. Eu sou uma das poucas pessoas, ao menos entre as que eu conheço, que não voltaria ao passado se pudesse. Acho que hoje sou mais feliz do que era quando era garoto. Passei muitos anos, principalmente no começo do Capital, sentindo muita angústia. Não sei porque. Talvez eu tenha reagido à repentina exposição achando que não estava à altura das expectativas do público. Provavelmente, porque meus companheiros de geração eram o Cazuza, o Renato o Arnaldo Antunes. É de deixar qualquer um intimidado. Enfim, hoje não, agora me sinto em paz. Não que eu tenha feito tudo, e me dê por satisfeito, ainda tenho muita vontade de compor, escrever e dar shows, mas sinto serenidade.
Aliás, por falar nisso, eu e o Alvin já começamos a preparar as músicas novas. E já que eu contei isso pra vcs, eu tô pensando em talvez lançar as músicas novas aos poucos; na medida que elas forem ficando prontas. Mais ou menos como eram os singles do Stones ou dos Beatles nos anos sessenta. Isso existiu durante anos. O Never Mind the Bollocks dos Sex Pistols também foi lançado aos poucos. Agora, com o mundo digital, acho que as pessoas não tem paciência em esperar dois anos por um disco. Não sei, tô pensando no assunto, ainda não tenho certeza. Afinal o lançamento de um disco, a capa, a espera, o conjunto das canções e até a ordem em que elas estão colocadas, fazem parte do que eu considero algo quase mágico. Mas eu suspeito que eu estou pensando de um modo atrasado. Vamos ver. O que vcs acham?
Só pra vcs verem o quanto eu sou enrolado, eu já disse tudo isso sem falar do ano que passou. Então vamos lá. Então, pulando o assunto acidente, do qual só me recuperei no segundo semestre, aconteceram várias coisas em 2010. Lançamos o Das Kapital. Trocamos o modo de sermos agenciados. Procuramos trabalhar com outros artistas para fazer nossas fotos, nossas capas, e nossos cenários. Era como se o Capital tivesse decidido aparecer com outra cara, mas sem perder a identidade.
Em relação ao disco, nós o fizemos com outro produtor, um cara chamado David Corcos. Na minha opinião, um pouco maluco, como todas pessoas muito talentosas. Esse disco, é especial. Nos o ensaiamos durante meses, e demos ao David o poder de um ditador. O cara se meteu em tudo, da escolha das músicas, às letras, às guitarras e até as levadas de bateria. E o resultado foi o que vcs viram, o disco mais elogiado da nossa carreira. Eu, de modo muito oportunista, dessa vez concordo com os críticos. É o melhor disco que já fizemos. Tá bom, eu sei, todos os artistas dizem a mesma coisas sobre seus trabalhos mais recentes, mas eu honestamente acho que o Das Kapital se destaca de tudo que nós já fizemos.
Dito isso, a opinião que mais nos interessa é a dos fãs. Não que façamos discos dirigidos, pensando em vcs. Pensamos só em música. Esperem, calma, não é pouco caso, é porque acho a integridade artística fundamental pra qualidade de uma obra. Sempre fiz, errando ou acertando, o que eu quis. Não consigo saber o que as pessoas esperam de nós. Então uso de parâmetro, só o meu gosto. Na minha cabeça funciona assim: componho, escrevo, ensaiamos e gravamos, e depois cruzamos os dedos e torcemos para tudo dar certo. E dar certo é os fãs gostarem. Mas se além disso, os críticos também gostarem, bingo!
A turnê de verdade, só começou no segundo semestre. Acho que fizemos uns sessenta shows, todos maravilhosos. Fomos mais uma vez ao país inteiro, mas como tudo começou tarde, ainda faremos shows desse disco em 2011. No entanto se tudo der certo, ainda gravaremos o disco novo esse ano. E se depender de mim, mais uma vez com o David. Eu já disse que o cara e um gêniozinho?
Outra novidade é que logo depois do natal, eu comecei a tuitar. Eu reconheço que demorei a ceder. Eu tinha medo de duas coisas: Primeiro, que viesse a ser uma invasão da minha privacidade. E segundo que viesse a se tornar um vício. Eu me conheço, sou maníaco compulsivo obsessivo, então me aguardem. Meu começo foi um tanto atrapalhado, as letras do meu telefone são microscópicas, e fico batendo nas letras ao lado. Além disso, tenho vontade de dizer coisas mais interessantes do que “agora estou no supermercado comprando peixe.” Também não aprendi todas as abreviações e também não sei mandar fotos. Como vcs podem ver, eu vivia nas trevas cibernéticas até ontem. Mas eu vou pegar a manha, e aí vou encher o saco de vcs.
Outra coisa que eu pensei em fazer em 2011 é terminar o livro que eu comecei escrever há anos atrás. Eu sou meio caótico, então preciso botar um pouco de determinação nesse projeto. A idéia que eu tive, foi a seguinte: ir publicando capítulo por capítulo no nosso site. Assim, eu seria obrigado a continuar escrevendo. Que tal? Boa idéia?
E violá, assim foi o ano. Em alguns momentos difícil, em outros maravilhoso. Ok, isso nao foi muito inspirado, a vida de todos é assim. Mas a nossa vida é mais parecida com a de todos do muita gente imagina.
Eu quero agradecer a todos que leram o que escrevi durante o ano, todos que ouviram nosso disco, todos que votaram em nós nas diferentes premiações e todos que foram aos shows e todos que nos ofereceram generosidade e entusiasmo. Vcs são ótimos.
Feliz ano novo. Que todos possamos ter um ano melhor ainda em 2011. E desejo a todos que tiveram o saco de ler até aqui os quatro “ésses” : saúde, sorte, sucesso e sexo. Não necessariamente nesse ordem. É isso, nos aguardem, porque essa história continua….
Obrigado por tudo e boas vibrações, Dinho.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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