Nos anos 70, uma das bandas mais criativas, inventivas e loucas que passaram pelo Brasil foi Os Novos Baianos. Com um frontline formado por Moares Moreira, Dadi, Paulinho Boca de Cantor, Baby (então) Consuelo, Pepeu Gomes e o poeta Luiz Galvão, eles criaram um repertório cheio de beleza, delicadeza, peso e harmonia. Surgindo com os hippies e o flower power já bem instalados na cabeça da juventude, eles decidiram viver aqueles anos em comunidade, dividindo tudo, cuidando uns dos outros e, claro, carburando o cérebro com algumas substâncias pouco saudáveis. Inundados por Hendrix, Joplin e Woodstock, eles se viram numa encruzilhada quando receberam a visita de João Gilberto. Pai musical da geração Bossa Nova e também adepto das viagens a base de cannabis, foi o baiano de voz mansa quem mais incendiou a cuca daquele monte de malucos enxertando altas doses de Assis Valente e Dorival Caymmi nas guitarras deles. É por isso que Henrique Dantas batizou seu documentário de Filhos de João – O admirável mundo Novo Baiano. A proposta de resgatar a vida louca daquela trupe, é mais do que louvável. Separados desde o início dos 80, quando o modelo de vida em comunidade começou a trazer problemas particulares (principalmente para Moraes, que era casado e pai), o grupo se viu esquecido nas gavetas da memória brasileira. Junto com eles, foi também guardada uma das histórias mais interessantes e um dos repertórios mais completos da nossa música. A presença do conterrâneo Tom Zé faz uma síntese do quanto eles tinham de tropicalista. Para ele, em suas longas divagações teórico poéticas, os Novos Baianos foram “uma pequena manifestação do absurdo”. Apesar disso, ao diretor pecou em não se deixar levar por aquela história. Montado de forma burocrática, o filme parece cansativo em seus míseros 76 minutos.

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Um passeio pelo youtube e você consegue ver mais sobre o grupo. A ausência de Baby entre os depoimentos, que cobrou um valor irreal para que tivesse sua imagem exibida, é sentida e quase comprometedora. No entanto, mais comprometedor seria não realizar o filme. Os demais estão todos lá. Pena que cabeças e mais cabeças passam pela tela sem os devidos créditos. Ninguém é obrigado a saber que é Galvão e Pepeu, muito menos o Bola ou o Gato Félix. Quanto às imagens, muitas são tiradas do filme Novos baianos F.C., de Solano Ribeiro (1973). Esse sim, uma verdadeira pérola gravada in loco em Jacarepaguá, no sítio Cantinho do Vovô, onde todos moravam. O documentário de Dantas já entra com desvantagem por conta das comparações inevitáveis com o de Solano, mas poderia ter ganho mais elogios se tivesse a preocupação de mostrar por onde anda cada novo baiano, o que cada um está fazendo hoje em dia. Até onde me consta, o único com carreira midiática é Moraes. Uma amiga, na porta do cinema, comentou que faltou música em Filhos de João. Ao lembrar quem foram aqueles cabeludos todos, talvez tenha faltado um pouco de loucura também.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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