Em 1998, Cássia Eller subiu ao palco do Teatro João Caetano para participar do Acústico MTV Rita Lee. Minutos antes, a Rainha do Rock anunciava a primeira convidada da noite como “uma criança com voz de trovão”. Meio tímida e com poucos sorrisos, Cássia entrou e logo teve de ouvir piada por conta dos cabelos pintados de azul. “Você antes não tinha cabelos de passarinho”, brincava Rita com voz de criança. “Passarinho, vou te mostrar meu passarinho”, respondeu na lata a convidada, antes de abrir um largo sorriso.

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Ela era assim. Cássia Rejane Eller, cantora carioca revelada logo na abertura da década de 1990, misturava doçura, agressividade e irreverência na vida e no trabalho. Intérprete de voz possante, ela ia de Chico Buarque a Nirvana sem dar tempo para seu ouvinte se acostumar. Infelizmente, foi com a mesma velocidade que ela morreu aos 39 anos, em 29 de dezembro de 2001 de causa nunca esclarecida. Usuária de cocaína e álcool, para uns tratava-se de mais uma vítima de overdose. Quando a autópsia acusou ausência dessas substâncias no corpo da cantora, veio a suspeita de erro médico. Certo é que ela deu entrada pela manhã na Clínica Santa Maria, apresentando agitação, náuseas e desorientação e, após várias paradas cardíacas, faleceu às 19h05 da noite de um sábado.

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Longe da polêmica, Cássia Eller foi uma das artistas mais marcantes da sua geração. Numa carreira meteórica que durou apenas 11 anos, ela integrou o grupo das “cantoras ecléticas” que passou a ser seguido por tantas que vieram na sua cola. A diferença está na propriedade que ela dava a estas canções. Com sua voz grave, ela chegou a cantar em trio elétrico, banda de forró e ópera, antes de entrar para a banda de Oswaldo Montenegro como backing vocal.

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No entanto foi mesmo no rock que Cássia se fez. Com intensidade e presença, ela soltava os bichos no palco para esconder a timidez. Quem esteve no anfiteatro do Dragão do Mar dia 27 de setembro de 1998, lembra da cantora dando as costas para que o público lhe passasse a mão na bunda. Curiosamente, naquele show ela já apresentava canções do disco que viria a ser o seu derradeiro de inéditas, Com você… o meu mundo ficaria completo.

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Nesse último trabalho, Cássia se mostrava mais dócil, mais MPB. Tudo por causa de um comentário do filho Francisco, então com seis anos, que disse gostar mais da Marisa Monte por que a mãe gritava muito. Chicão, como ela o chamava, em seguida seria pivô de uma discussão sobre quem seria responsável pela sua tutela após a morte da mãe. Como o pai, o baixista Tavinho Fialho, morreu pouco antes do seu nascimento, para uns, ele deveria ficar com o avô, Altair, então morando em Fortaleza e que pouco contato teve com o neto. Para outros, a criança deveria ficar com Maria Eugênia, namorada de Cássia por 14 anos, a quem Chicão chamava de mãe. Chicão escolheu Eugênia e a justiça encerrou o caso. Hoje ele está perto dos 18 anos e já se aventura como músico. As mães, certamente, estão orgulhosa disso tudo.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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