Por Hertenha Glauce


Um jovem compositor/intérprete gaúcho desponta no cenário musical brasileiro. Falo de Filipe Catto. O seu álbum inaugural Fôlego, lançado pela Universal Music, 2011, traz muitas composições suas e algumas surpreendentes releituras, como Garçon, de Reginaldo Rossi, nos presenteando com uma versão “bregablues”, e a belíssima Ave de Prata de Zé Ramalho, que ganhou em sua voz cortante especial encanto. E é impossível não falar de sua composição mais famosa e não menos impactante, Saga. Uma música que foi composta de uma tirada só e em forma de samba e, apenas no arranjo para o CD, ganhou a versão tango. Melhor pra nós! Versatilidade é a palavra-chave deste álbum.

Catto é um contratenor de timbre raro. Uma voz quase feminina que combina com sua pegada meio nostálgica, como em Gardênia Branca, descambando às vezes para o dramático como em Dois Perdidos, ou ainda num samba-canção delicioso em Crime Passional, mas com essência meio rock and roll. E por isso, talvez, o desapego à um gênero específico. Filipe transita em plenitude pelo samba, rock, balada, blues, jazz, dor de cotovelo e aí, me faz lembrar a inesquecível Cássia Eller que passeava pelos gêneros tornando-os únicos e fazendo de cada música, sua propriedade. Não por caso, ele, fã declarado da cantora, fez um lindo e merecido show em Brasília cantando seu repertório e cantando de forma tão bela, que às vezes, trazia na voz, a doce presença, sempre marcante, da nossa Cássia.

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No auge dos seus 25 anos, mostrando, para além do talento, sagacidade e, acima de tudo, uma maturidade vocal na escolha de repertório e nas conversas formais e informais, Catto é ainda carismático e incrivelmente envolvente com a plateia em seus shows. Elemento mais que especial que tem feito deste recém revelado/revelador cantor, um sucesso por onde anda, com casas sempre lotadas e plateia empolgada para vê-lo, ouvi-lo e deliciar-se.

Mas não quero finalizar este registro sem citar outras memoráveis interpretações de grandes clássicos da música, que não estão neste disco, como Vinte e Poucos Anos (Fábio Jr.), O Sal da Terra (Beto Guedes), Fadas (Luiz Melodia), com a sempre eletrizante Elza Soares, Je Ne Regrette Rien (Edith Piaf), lindamente cantada por Cássia Eller, e ainda Tatuagem (Chico Buarque), imortalizada por sua conterrânea, Elis Regina. A saga só começou. Que venham mais surpresas e encantos!

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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