Por Hamilton Nogueira

“O solo de guitarra original é de Pat Metheny. Foi gravado no segundo disco do Toninho… aquele da capa branca. É um solo melódico, mas com movimentos de jazz e de country. É em MI maior. Eu comecei nesse dia fazendo a primeira frase do solo original do Pat, o primeiro compasso. A partir daí fiz minha parte seguindo a linha melódica. A banda estava na pressão porque já vinha tocando. Eu entrei na nona música do show. O som no palco estava muito alto e eu não estava me escutando muito bem. Aí eu tive que apelar para algum recurso. Pisei no pedal de over drive. Distorção, sabe? Usei algumas técnicas de escala de cordas soltas. Aí fui para uma parte mais blues com elementos de rock e o solo foi crescendo com os aplausos do público, coloquei mais notas e já fui mais pra performance. São recursos de improvisação que a gente usa”, disse José Aldemir Rocha Filho, mais conhecido – e muito conhecido – por Mimi Rocha.

Mimi se referia à sua participação na clássica Manoel, o audaz no último dia do Cocoricó Festival (agora sem o jazz no nome) no Cantinho do Frango durante o carnaval mais recente. Ele subiu ao palco junto com ninguém mais que um dos autores da obra, o mineiro, histórico integrante do Clube da Esquina, jazzista, Toninho Horta que era acompanhando, dos brilhantes Hermano Faltz na guitarra, Jorge Helder no baixo, Márcio Resende no sax, Adriano Azevedo na bateria e Thiago Almeida no teclado.

A terceira edição do evento, com ares de consolidado, encontrou uma Fortaleza constrangida pelo contexto histórico que se abateu sobre ela. Lá fora, o medo, a incerteza, a covardia, a aridez de uma cidade que teve seus ricos recursos sequestrados desde sempre por gente incapaz de entender o que ocorre lá dentro. Lá dentro, o belo, a arte, a esperança, a construção de carreiras, o resgate de pessoas, aplausos, sorrisos, abraços e o excesso de felicidade tomando conta dos recursos empregados por gente incapaz de aceitar o que ocorre lá fora.

No Benfica, no Luxo da Aldeia, nas Gata Pira, na Culinária da Van, na Santa Praia, na Embaixada da Cachaça, no carnaval do Jacob do Bandolim, os muros de uma Fortaleza que, sofrida, recebeu o autor de Diana e Beijo Partido na terça-feira, dia 25 de fevereiro. Na véspera, Mimi Rocha apresentara a Marajazz ao público. Ele na guitarra e arranjos, Luís Miguel no baixo, Thiago Rocha no sax, Herlon Robson nos teclados, Felipe Dourado na guitarra e voz, Robertinho Marçal na bateria e Vanessa França na voz principal fazendo parecer fácil o que é para poucos.

A Marajazz tem 20 anos de estrada e passaram por ela grandes nomes da música cearense, mas sempre tendo Mimi e Miguel, os fundadores, como ponto convergente. Interessante registrar que a primeira vocalista foi Lily Alcalay para quem a banda dedicou a execução de Summertime. Importante também dizer que Débora Cidrack, Nayra Costa e Júlia Dantas – outras três cantoras que assumiram o vocal da banda – foram semifinalistas do programa The Voice Brasil, disputadíssimo concurso televisivo para grandes vozes.

Com trinta anos vestindo uma guitarra, o quixadaense nascido em 1965 vive o auge da atuação musical e precisa ser visto como referência pela nova geração, principalmente aquela que reclama de um malévolo mercado. Mimi começou no Latim em Pó – sua primeira banda, ainda em Fortaleza. Passou muitos anos em São Paulo. Passou por muitos palcos, a exemplo de Belchior, Fagner, Ednardo, Kátia Freitas, Zeca Baleiro e vários outros. Passa por muitos papéis – produtor, arranjador, professor – para viver daquilo que ama. Está, de fato, no amor pela música – seu ofício – a explicação para a colheita dos frutos. Todos benditos.

Obs.: O título desse texto se refere a uma frase original “Bendito é o fruto dessas Minas Gerais” contida na música Aqui, oh! que abre o disco Toninho Horta de 1980 ao qual se referiu Mimi Rocha. O da capa branca. Nesse disco há a clássica Manoel, o audaz com o famoso solo de Pat Metheny. Mas sugiro ouvir muitas vezes (muitas, mesmo) a riquíssima Era só começo nosso fim, de Yuri Poppoff e Murilo Antunes.

Obs.: Aqui, oh! é uma parceria de Toninho e Fernando Brant, assim também como Diana e Manoel, o audaz.

Obs.: O cronista acha, apenas acha, que a Marajazz deveria pensar em trabalhar composições próprias. Seria um presente para a MPC.

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Mariana Amorim

Jornalista, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, imãs de geladeira e blocos de anotação. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

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