A caminhada pode ser inserida como um complemento terapêutico para o atendimento básico de saúde, mas uma pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da USP mostra que a sua difusão nas unidades com Programa de Saúde da Família (PSF) na cidade de São Paulo ainda é reduzida. A presença dos enfermeiros na organização de grupos de caminhada é avaliada na pesquisa do enfermeiro Vitor Hugo Amendola Marques, que recomenda maior participação dos profissionais da área, nas questões administrativas e de saúde coletiva, e não somente na parte clínica.
De acordo com a pesquisa, em São Paulo 40% das 235 unidades do PSF apresentam programas de caminhada. “Na Secretaria Municipal de Saúde, havia em 2009 o registro de 689 práticas de saúde complementares ou integrativas, mas apenas 20,2% são específicas de caminhada, contra 57,6% de práticas orientais, como acupuntura e liang gong”, destaca o enfermeiro. “A diferença talvez se deva ao fato do setor de atenção básica da Secretaria oferecer treinamento em medicina tradicional, o que inclui as práticas orientais.”
“O PSF preconiza, entre outros aspectos, a autonomia do sujeito em ações que revertam em saúde e bem estar”, diz Marques. “A caminhada não necessita de um treinamento específico para os profissionais de saúde, como as práticas orientais, e nem da permanência de um especialista na unidade.” A pesquisa teve orientação da professora Ana Maria Chiesa, da EE. O trabalho terá continuidade com a elaboração de um protocolo de caminhada que inclua questões de administração e de saúde coletiva.
Atuação
De acordo com Marques, a atuação do enfermeiro dentro dos grupos de caminhada não deve se limitar aos aspectos clínicos. “Na parte clínica, há uma sistematização de práticas, com uma consulta inicial e o diagnóstico de enfermagem, quando é feita a detecção do sedentarismo ou de problemas de saúde, tais como diabetes e hipertensão”, conta. “Em seguida, acontece a prescrição da caminhada, seguida de consultas de acompanhamento.”
O protocolo de Prescrição de Atividade Física também pode ser utilizado para mensuração da condição física — Sedentário, Fisicamente Ativo ou Suficientemente Ativo. “Ele está pautado na Prática de Atividade Física com intensidade moderada, por no mínimo 30 minutos por dia, cinco dias por semana”, descreve o enfermeiro, “podendo ser executada de forma contínua (uma única sessão) ou de forma acumulada (em duas ou três sessões)”.
“Não há necessidade do enfermeiro andar sempre com os pacientes, o que pode ser feito por um educador físico ou pelos agentes comunitários de saúde”, aponta o pesquisador. “Porém, como a caminhada é uma modalidade terapêutica complementar de saúde, a intensidade, tempo e frequência deve ser acompanhada e ajustada, a exemplo do que é feito, por exemplo, no caso de tratamentos com medicamentos.”
A responsabilidade do enfermeiro também se estende aos aspectos administrativos, ressalta Marques. “No PSF, cabe ao enfermeiro o gerenciamento das unidades de saúde e das equipes vinculadas”, explica. “Para que a prática da caminhada possa ser realizada, ela deve estar inserida na estrutura e na programação da unidade.”
Na parte de saúde coletiva, o pesquisador afirma que a atuação não se resume apenas a levantamentos estatísticos, como quantificar o nível local de sedentarismo. “As práticas de saúde da família estão muito ligadas aos condicionantes sociais na saúde das pessoas”, diz. “Quando o enfermeiro, em conjunto com a comunidade, percebe o espaço em que acontece a caminhada, por exemplo, ele pode contribuir com ações que reivindiquem melhorias, fazendo os participantes exercerem seus direitos de cidadão.”
Fonte: http://www.usp.br/agen/?p=29474