Por Rafaela Carvalho – rafaela.souza.carvalho@usp.br

Com informações Assessoria de Comunicação Social do Instituto Butantan

Células-tronco originárias da polpa do dente de leite podem curar deficiências visuais. É o que mostra a pesquisa realizada pela biomédica Bábyla Geraldes Monteiro, do Instituto Butantan. O trabalho avaliou a eficácia da atividade de células-tronco retiradas da parte interna de dentes de leite ao tratar uma lesão na região límbica dos olhos de coelhos. “É o espaço entre a parte colorida e a parte branca do globo ocular”, explica a pesquisadora. O procedimento adotado busca reconstruir a córnea para, assim, restaurar a visão. O tratamento serviria para tratar lesões superficais da região límbica do olho

A partir de setembro, a técnica começará a ser testado em humanos, em parceria com o Instituto da Visão da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em um primeiro momento os testes serão aplicados em um grupo de pacientes voluntários que já passaram por cirurgia e não obtiveram resultados satisfatórios, não podem receber enxertos de tecido e não apresentam quadro infeccioso. Os testes devem demorar seis meses e, caso a técnica apresente resultados satisfatórios, poderá ser disponibilizada para a população.

A técnica desenvolvida pela biomédica está descrita na dissertação de mestrado Estudo da Plasticidade das Células tronco de Polpa Dentária: Diferenciação e Caracterização para Células do Epitélio Corneano in vitro e in vivo, apresentada por Bábyla ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia (USP/IPT/Instituto Butantan). O trabalho foi premiado  durante o congresso oftalmológico Pan-American Research Day – ARVO Annual Meeting, realizado neste ano em Fort Lauderdale, Flórida.

A pesquisa, feita com coelhos, partia da indução de uma lesão clínica no animal. Essa lesão é perceptível quando, na superfície do olho lesionado, enxerga-se uma marca esbranquiçada. Para tentar curá-la ou atenuá-la, as células da polpa dos dentes foram cultivadas dentro de uma estufa, com um polímero biodegradável que reagia à variação de temperatura. Ao retirar essas células do calor, a temperatura do conjunto diminuía e o polímero se soltava da placa de cultura, com as células-tronco aderidas a ele. “Assim, era possível transferir essa membrana para o olho lesionado.”

Constatou-se que no período de duas a três semanas após o procedimento, a córnea apresentou diminuição do aspecto esbranquiçado que evidenciava a lesão. “Quando a lesão clínica era mais leve, houve maior melhora. As lesões mais graves apresentaram transparência parcial da córnea”, aponta Bábyla. Passados cerca de três meses, a reversão do quadro foi praticamente total nas lesões menos graves.

Sem rejeição
A biomédica enfatiza a magnitude do projeto ao lembrar que essa forma de transplante não apresenta rejeição. “Pessoas que sofreram lesões na região límbica por trauma, queimaduras térmicas ou químicas ou até as que realizarão um transplante de córnea em que houve rejeição poderiam ser tratadas.”

O reconhecimento internacional da pesquisa já conduz Bábyla para a tese de doutorado, que trabalhará o mesmo assunto. Um dos temas abordados será o aperfeiçoamento dos procedimentos de reversão dos casos mais graves.

A pesquisa foi orientada pela bióloga e química Irina Kerkis Irina Kerkis, do Instituto Butantan, e teve o acompanhamento de oftalmologistas e pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além da equipe do Laboratório de Genética do Instituto Butantan.

Mais informações: (11) 3276-7222, ramal 2125

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Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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