Esperar por algo que se anseia muito requer uma revolução interna. Pode ser enlouquecedor. Normalmente, quando percebemos que àquela altura devemos nos tornar espectadores, já demos com boas cabeçadas na trave e só a gente ainda não entendeu.

Pode ser uma notícia, um encontro, um projeto, um sim, um não. A questão é que, quando se quer muito que aquilo aconteça, dá vontade de agir até o ultimo minuto para garantir o resultado certo. Afinal, é melhor zelar por excesso do que por omissão, não é o que dizem?! Mal sabemos que o portão se fecha antes de nossa contagem própria. A chave gira sem que percebamos. É o mistério das horas mágicas.

Há uma beleza na espera. Uma quietude que desperta movimentos internos. Contemplação, presença, compaixão e, principalmente, paciência consigo mesmo. Uma postura desafiadora, quando tentamos ser nossa melhor versão, na busca frenética por eficiência.

Mas existe o tempo de deixar acontecer, de relaxamento e de doçura. É o que o terapeuta americano, Bob Mandel, chama de “deixar ir, deixar Deus agir”. Os momentos em que precisamos recuar, onde não cabe mais força para conseguir algum efeito e sim deixar o tempo trabalhar por você, considerando o caminho percorrido e as decisões tomadas.

Aguardar é um estado de rendição total, de entrega e sapiência. Faz a gente parecer que desistiu, pode se assemelhar à derrota, mas é um estado de corpo que vai aquietando tudo por dentro, até acalmar o coração. É quando surge a voz interna dizendo: “Já deu. Para agora”.

Entender quando é preciso estacionar é uma dose de ousadia, risco e coragem. A gente fica no fio da navalha, equilibrando a bandeja de copos até a linha de chegada, que sempre muda. Há dias que parece mais distante. Em outros, estamos a um passo de cruzar a reta final. Uma percepção diária.

Deixar Deus agir (ou o que quer venha a ser essa força de existência) é um tempo de fé. Aceitar que só há espaço para a temperança pode se transformar em uma imensa batalha interna. Porque, em geral, ao redor, tudo pede movimento, atitude, ação. E de repente, cessar parece covardia.

Deixar Deus agir é uma tremenda confiança que nada mais pode ser feito por você enquanto a vida não traz de volta a colheita, seja ela de bonança ou tempestade. É a hora da resiliência e da acolhida.

E a vida traz, sempre traz o que nos é necessário. Nem sempre ao nosso desejo. Não exatamente o que esperamos. Às vezes, bem melhor. Porém, sempre na medida em que precisamos.

É uma regulagem sensível essa de calibrar o tal limite entre espera e ação. É como descobrir o segredo de um cofre valioso, que exige tempo, observação, tentativa até ouvir o clique final, aquele que revela o tesouro guardado.

Quando a gente age com essa sensibilidade, acessamos o que há lá dentro, no cofre pessoal, o que só foi possível por estarmos inteiros naquilo que fazemos.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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