(Foto: Rodolfo Magalhães)

Daniel Garcia se enxergou como drag queen para se libertar. Nasceu Gloria Groove, transformando o jovem e talentoso artista em diva empoderada. Seu primeiro álbum, O Proceder, lançado em fevereiro de 2017, é exatamente sobre isso.

Com oito faixas que vão do rap sobre a realidade do público LGBT, à exemplo de “Império”, passando pelo pop de “Muleke Brasileiro” e desaguando na celebração de “Gloriosa”, O Proceder é um documento de auto afirmação.

“O Proceder é muito carregado em rap, hip hop. Uma perspectiva de crítica política e social forte que eu acho que foi muito importante pra dar minha cara, para mostrar o que passa na minha cabeça”, afirmou em entrevista ao Blog. “É meu proceder, literalmente”.

Agora aos 23 anos, Gloria produz seu próximo álbum. Prometido ainda para o primeiro semestre de 2018. Para celebrar a mudança, ela lançou o clipe de “Bumbum de Ouro”, o primeiro single.

Enquanto o novo álbum não fica pronto, Gloria comenta O Proceder, faixa a faixa. Ela relembra detalhes da produção do disco, sua passagem pelo programa Amor & Sexo, da Globo, aponta referências e revela momentos difíceis em que foi preciso ser Gloriosa.

Faixa a faixa: O Proceder (2017) – Gloria Groove
Por Gloria Groove

Império é uma letra que me ocorreu na fase quando a gente tava terminando de gravar Amor & Sexo (novembro de 2015). Queria algo que expressasse o fato de ter minha arte validada mesmo com tão pouco tempo como drag. A música nasceu da palavra império. Foi um divisor de águas”.

“A faixa O Proceder veio quando pensei no conceito do nome e foi uma das composições mais difíceis que já fiz. Eu levava essa faixa no ônibus, passei por três ou quatro versões até chegar em algo agradável. Foi uma das que eu mais demorei a concluir. Devo ter ficado uns 10 dias nela, e às vezes a gente resolve uma música em um dia só”.

Muleke Brasileiro, por sua vez, é uma das primeiras músicas que eu escrevi para O Proceder. Ela sempre veio na referência da música de praia, de verão, swingada. Acho que eu tava me alimentando muito do que eu ouvia. Aquela fase Lady Gaga, Rihanna na era Loud. É a quebra mais pop desse álbum. Foi a transição perfeita desses momentos, foi a importância de ter sido o ultimo single“.

Problema é uma faixa que eu escrevi sobre uma história minha. Realmente tive num relacionamento que me deixou algumas coisas em aberto. A música foi um jeito que achei de concluir isso. A música tem esse papel de chegar num ponto final de uma historia. E cada um encaixa a letra na sua vida, acho muito mágico. A música é isso, falei de algo que sinceramente me aconteceu. Os fãs podem ouvir no pré refrão uma melodia que ecoa ‘Let Me Love You’ da Ariana Grande, quis que fosse intencional”.

Gay é o interlúdio. Essa faixa nasceu de uma música do álbum do Kanye West, The Life of Pabllo, que é só um freestyle. Pensei, e se eu fizesse isso mas colocando a palavra gay no final? Eu queria um freestyle de segundos. Já ouvi gente relatando que já chorou em 36 segundos ouvindo”.

Gloriosa é uma faixa muito, muito importante na minha vida. Marca minha parceria com o produtor musical Nelson B. Essa música tem uma história muito interessante: eu gravei ela e no mesmo dia encontrei um homofóbico no ônibus e foi chatíssimo porque foi no dia do meu aniversário. Eu lembro de chegar em casa chorando e colocar a demo que eu tinha acabado de gravar pra me fortalecer. Fui lá, gravei, a vida me deu uma rasteira e depois eu tive que me fortalecer. Nunca vou esquecer disso”.

Madrugada é a unica faixa do Proceder que não é composição minha. É de dois amigos queridíssimos, músicos aqui de São Paulo (Edu Camargo e Junior Meirelles). Tenho a sorte de tê-los como amigos, como mestres. Tenho um carinho muito especial, faz parte da minha vida. Me lembro muito da minha vida enquanto Daniel também. E permeia essas referências de R&B dos anos 1990 e começo dos anos 2000″.

Dona é a faixa que mudou minha vida completamente. Foi o momento que eu percebi que tava conseguindo compôr com coerência e fazia todo sentido pra mim, foi minha primeira aventura com trap music. Logo depois que saí do Amor & Sexo, não poderia ter sido uma entrada melhor no mercado. Vai ficar, para sempre, essa coisa de “olha só, eu cheguei”. Faz todo sentido com o que eu estava vivendo naquele momento. Marca também o começo da minha videografia com o João Monteiro, que eu conheci gravando o filme dele TupiniQueens (2015). foi o começo do meu trabalho com a SBMusic e foi o que embalou a minha fase com o Amor & Sexo“.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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