Cantora, compositora, atriz e jornalista, Marta Aurélia, ou simplesmente Aurélia, lança, no dia 05 de novembro de 2018, quando se comemora o Dia Nacional da Cultura, às 19h, no Cineteatro São Luiz, o seu segundo CD autoral, intitulado Acesa, que também estará disponível nas principais plataformas digitais. Produzido pela própria artista, em parceria com Eric Barbosa, o trabalho “cria uma poética da voz em sinestesia com outras fontes sonoras e de instrumentação, de maneira fluida e livre”, como Aurélia faz questão de definir.

Acesa é um álbum orgânico, nascido do desejo da cantora de investigar outros territórios para sua voz, seu som e sua poesia e de aproximar-se mais da performance, do happening, da arte sonora, do noise e, mais do que presente nos sets de cinema como atriz, aproximar-se, também, da linguagem do audiovisual com sua música. Nessa perspectiva, surge a parceria com o músico-performer Eric Barbosa e, daí, começam os encontros criativos na Trincheira – residência artística localizada no Centro de Fortaleza – incluindo, paulatinamente, a presença de Eduardo Escarpinelli e Ayrton Pessoa.

Improvisações de guitarra, baixo, teclado, acordeon, clarinete, voz e efeitos começam a acontecer inicialmente no estúdio, seguidas por ensaios para apresentação, mixagens do material diverso, mantendo sempre a liberdade criativa que se apresenta nas oito faixas que compõem o disco. “O Acesa nasceu com a ideia de se trabalhar a canção, a palavra, em outras fontes e diretrizes, a partir do conceito de hibridismo de linguagem, entre performance sonora e filosofia, passando ainda pelas instalações sonoras e o audiovisual”, afirma Eric, que ainda ressalta, do trabalho, a predileção por novas timbragens dos instrumentos, além das experimentações da voz.

Já Ayrton Pessoa pontua uma característica do processo criativo de Aurélia, que é o fato de seus projetos serem tangenciais, “que se confundem e se atravessam”. “A gente acaba sem saber o que começou, onde, quando, como ou por que”, brinca. Para o músico, Acesa ganhou ainda mais força com a chegada de Eric Barbosa ao projeto, dando ao disco uma orientação estética melhor delineada e, principalmente, trabalhando o poder de escrita de Aurélia, com composições espontâneas e improvisos. Canções tradicionais se transformaram em ‘peças sonoras’ com a mistura de sons complexos e caóticos, ruídos, palavras, timbres de guitarra com riffs, sintetizadores, um clarinete encantadoramente perdido e sua voz.”

Eduardo Escarpinelli destaca ainda a poética sonora sinestésica de Aurélia, do seu texto falado e das frequências de seus movimentos, no estúdio e no palco, que evocam imagens que também geram sons, deslocando poeticamente sentidos clássicos, tradicionais, de se ver/ouvir/sentir/etc. “A Aurélia inverte, expande e junta o cosmos sonoro”, diz.

O território da voz

A voz é território de atuação mais comum de Aurélia, desde o rádio, a música, o teatro, o cinema, passando por suas investigações desse que também é instrumento de autoconhecimento e expressão multicultural, dos diversos usos da voz seja na comunicação, seja na arte, e da compreensão do som como experiência com o sagrado e como força vital presente nos processos criativos.  É da convergência desses aspectos que Aurélia carrega a bateria para construir uma poética vocal capaz de transitar por alguns parâmetros mais harmônicos do canto e da fala e criar novas imagens sonoras e ruidísticas.

“A voz é expressão do ser, que é perfeito, imperfeito, harmônico e ruidoso. Então, queria caminhar com essa voz, que, quando audível, também pudesse esmorecer, arranhar, borrar, sujar, enfim, além de expressar a beleza do som e da voz, esta entendida também como discurso, como o que está sendo dito. O álbum brinca entre entrar e sair de alguns padrões, entre o som que é e não é, necessariamente, ‘compreensível’ ou ‘entendível’, mas que tem poesia e que provoca a imaginação”, explica a cantora.

“Também não tivemos essa questão de trabalhar com o polimento do som, quando se pensa no referencial de gravação de estúdio, tanto que sons captados da rua foram incorporados ao álbum. Isso porque o Acesa pretende trabalhar essas outras formas de escuta”, pontua Eric Barbosa.

Os textos foram escritos e as músicas foram compostas durante o processo de construção do Acesa. “Ando Cantando o que Sou” expõe, mais visceralmente, o que a artista revela de si neste momento. Nesta música, é possível perceber o resultado das possibilidades construídas em conjunto, a partir do diálogo entre melodia e voz. “Essa música bate na porta da canção, é quase um aboio. Ela é quase cantada, meio preguiçosa, às vezes quase inaudível. É para você sentir, uma espécie de meditação em si mesma”, explica Aurélia.

Já “Cidades Invisíveis”, “Varanda” e “Escombros” são músicas em que os textos estão mais à frente, quase como uma crônica rítmica. É como se Aurélia contasse uma história, seja sobre cidades contemporâneas destruídas pelas guerras (Escombros), seja sobre os seus locais de afeto, encontrando-se com a poesia e a complexidade dos lugares de Ítalo Calvino (Cidades Invisíveis).

Entre” fala da condição de vulnerabilidade da artista e do momento intraduzível da criação: “… sem proteção qualquer, a não ser a própria sorte e algum sinal de esmaecida lucidez, avanço, mergulhada no intraduzível do instante”. Complementam o álbum, ainda, “Precário”, cuja poética lança um olhar crítico sobre a condição do artista na relação com seus processos de produção e criação, “Provisória”, que evoca a condição de passagem do processo criativo e “Vox”, na qual a própria voz é motor de criação.

Outra canção de destaque é “Meu Choro”, que traduz o sentimento da cantora ao se deparar com imagens dos flagelados da seca de 1877/1878 durante pesquisa da atriz Juliana Tavares sobre os campos de concentração no Ceará. Mesmo tendo ficado fora do álbum, “Meu Choro” foi mantida no repertório do show pela conexão que estabelece com um dos dramas mais profundos do nosso tempo, a fome, e pelo sentimento de empatia e solidariedade com a tragédia humana.

Guerras, miséria, fome, dor e outros temas que Aurélia traz para as músicas traduzem, entre sons e movimento, a realidade pela qual o Brasil – e o mundo – enfrentou e, mais do que nunca, enfrenta nos dias de hoje. Como disse o jornalista Flávio Paiva, quando viu/ouviu Acesa: “a tragédia da desesperança extrai a energia do corpo e precariza a mente. Mas ninguém desaparece enquanto existir o outro”.

 

Som e imagem

 

O processo orgânico que deu origem a este álbum vai além da relação entre Aurélia e os músicos. Isso porque o disco também segue um conceito visual, que dialoga com a fluidez das canções e de seu próprio processo de construção. “O disco é um conjunto de todas essas referências: música, imagem, design, poesia, teatro, dentre outras inspirações”, afirma Aurélia.

O processo de desenvolvimento gráfico do disco, por exemplo, foi uma troca entre alguns artistas e realizado em etapas. A capa partiu do desenho da Antonia Malau, baseado nas próprias referências do Acesa, em que a voz de Aurélia é alimentada pelas raízes poéticas, que são ramificadas num “corpo em explosão com a terra e a alma!”, define Antonia. A partir daí, Diego Maia elaborou todo o design do encarte, cuja arte final busca fortalecer o link entre o desenho e a atmosfera criada nas músicas.

As imagens feitas pela fotógrafa Natália Parente, que também dialoga com a estética do álbum, foram feitas apenas com luz natural, a partir da captura com o auxílio da técnica de longa exposição. Após o tratamento digital, Aurélia criou toda a linguagem de forma manual, escrevendo e interferindo sobre as imagens impressas. “A partir desse material, fiz mais intervenções, com pintura, bordado, além de queimar e colocar água. Trata-se de um trabalho que, embora digital, o aspecto manual está muito presente em todo o processo”, explica Natália.

No Cineteatro São Luiz, Aurélia estará acompanhada de Eric Barbosa, Eduardo Escarpinelli e Ayrton Pessoa, além da participação de Robson Levy, Naiana Blue, Natália Coehl, Thaís de Campos e Vivi Rocha. Som: Júlio César Santana – Pepeu | Iluminação: Uirá dos Reis.

Acesa – Ficha Técnica

Produzido por Marta Aurélia e Eric Barbosa

Concepção e direção artística: Marta Aurélia

Gravação e mixagem: Eric Barbosa

Co-direção artística e assistência de mixagem: Uirá dos Reis

Gravado entre 2016 e 2018 na Trincheira Estúdio (Fortaleza/CE – Brasil)

Masterização: Klaus Sena – KlausHaus Studio (São Paulo/SP – Brasil)

Desenho da capa: Antonia Malau

Artefinal do encarte: Diego Maia

Fotos: Natália Parente

Figurino: Silvania de Deus

Maquiagem: Netinho Nogueira

Assessoria de Imprensa: Bebel Medal

Mídia Social: Nanda Loureiro

Produção executiva e fonográfica: Ana Azeredo

Selo: Trincheira / Índigo Azul / SuburbanaCo

Distribuição: Índigo Azul / OneRPM

SERVIÇO

Show: Acesa

Artista: Aurélia

Dia: 05 de novembro de 2018

Horário: 19h

Local: Cine-Teatro São Luiz

Classificação: livre

Duração: 1h30

Entrada: R$ 20,00 (inteira) / R$ 10,00 (meia): https://www.tudus.com.br/evento/cineteatro-sao-luiz-acesa-aurelia