Por Raisa Arruda.

Quando a mulher se torna mãe, ela sofre uma invisibilidade automática, fica marcante como temos a cultura de apagar a mulher, o tempo inteiro, inclusive na maternidade.

Quando se fala em psicologia da maternidade, as pessoas buscam de prontidão ouvir sobre desenvolvimento infantil. É automático. E a mãe, onde fica?

Claro, há um momento de desconstrução da identidade, para reconstrução de uma nova identidade, de assimilação de novas características e habilidades e isso se dá num processo complexo que envolve um terceiro que toda sua existência depende dessa mãe. Para que a mulher se torne mãe, ela precisa desocupar outros papéis sociais de ser mulher, para ocupar um lugar empático com as necessidades do bebê, criar um laço, uma conexão com ele, para que ela possa exercer seu papel e função de forma equilibrada e saudável para ambos. E isso acontece num momento bem marcado da maternidade, o puerpério. Sabe o resguardo que nossas mães e avós nos mandam ter todo cuidado? Ele serve para que essa relação se construa, por isso elas nos antecipam necessidades, para que as mães puérperas não precisem se preocupar com mais nada. Atualmente a coisa não acontece tão romântica assim, a falta dessa rede de apoio e uma cobrança desmedida, descabida e não questionada sobre o papel feminino e a maternidade, tem sido um nó ao pensarmos a mulher mãe moderna.

Então, essa mulher não pode desaparecer, pois quem irá cuidar desse bebê se ela não estiver presente? A mulher que desaparece em si, vai aparecer intensamente no bebê, porque ela só vai poder existir através dele. Será que isso é saudável? A troca que acontece na relação pais-criança, mãe-bebê é muita intensa, a mãe serve como um espelho que funda a subjetividade dessa criança, e essa criança serve de espelho no qual a mãe se vê através dele, e enxerga a criança que foi, e entra em contato com o bebê que foi, e com todo afeto e desafeto da sua história. Dessa forma, esse espelho que reflete a mãe, a reflete para o bebê. Ambos se reconhecem nesse movimento e relação. O que recai sobre o bebê é o desejo da mãe (e do pai, e da família…), ele é revestido e investido de afeto, através da fantasia que se fez dele, e da história de vida de quem o materna (cuida investindo afetivamente). Apesar da fusão mãe-bebê na gestação, é importante que a mãe esteja consciente de que ela e o bebê são pessoas diferentes, e que essa diferença ultrapassa a questão física, mas se a mulher, após a maternidade só passa a existir através desse bebê, como separar? Como perceber que aquilo que se diz sobre o bebê, aquilo que se investe naquele bebê, também diz sobre essa mãe?

Quando excluímos a existência da mulher que vive na mãe, qual possibilidade de ela viver a intensidade desse momento como aprendizagem e autoconhecimento?

E se só podemos dar aquilo que temos, como a mãe poderá investir presença e afeto se ela for destituída de si própria? Será que por isso a mãe não se crê como suficiente, e cai nas armadilhas de todos os objetos supérfluos e desnecessários? E sem investir em si mesma em afeto, não crê na sua capacidade de amamentar e cuidar? Como dar o que não se tem? Então, se compra? E os objetos cumprem o papel afetivo necessário e imprescindível para mãe e bebê?

É preciso pensar nas mães.

Raisa Pinheiro Arruda
Psicóloga
CRP 11/07646
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About the Author

Carol Bedê

Jornalista. Mãe da Laís e do Vinícius. Já quis ser muita coisa...depois de terminar a faculdade de letras, uma especialização e a faculdade de comunicação social (jornalismo), de uma coisa tive certeza: o que eu quero mesmo é escrever. Já escrevi sobre muitos assuntos. Tentei até fazer poesia, mas nunca achava que conseguia. Depois de ser mãe resolvi escrever sobre ser mãe, sobre bebês, sobre crianças e sobre esse mundo. E só agora acho que consigo fazer poesia.

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