Por Talles Azigon*
Em 1948, devido as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, foi proclamada através das nações unidas a Declaração Internacional de Direitos Humanos. Os tempos eram sombrios e era necessário, através de algum dispositivo, tentar manter politicamente, ou simbolicamente, um pouco de dignidade a espécie humana. Três anos antes, o poeta Carlos Drummond de Andrade, publicava também, ao seu modo, através de um livro de poemas, toda a sua preocupação com a dignidade humana. A rosa do povo, indubitavelmente é, ao modo de versos, um questionamento sobre o que nos mantém humanos em tempos de total degredo.

Infelizmente, esse clássico da literatura, e também da poesia, mantém-se extremamente atual, pois parece, de algum modo, que não conseguimos nos manter existindo sem desejar o aniquilamento do existir do outro – principalmente quando o outrem é mais fraco, mais propenso a ser destituído de direitos.

Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono

Logo no primeiro verso, Drummond já demonstra que não vai curvar seu poema a uma obrigação puramente estética, aqui ele inaugura a liberdade do livro, pois somente dentro e vestido com a Liberdade ele será capaz de fazer do seu poema a flor furando.

o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Perante a esse livro escrito nos anos decisivos da terrível guerra nos questionamos, ela (a guerra) findou-se? Aparentemente nunca, nos parece que sempre esteve conosco.

Mas como, sem armas?

Posso sem armas revoltar-me

Nos pergunta Drummond, e talvez seja esse um dos magníficos desse livro, ele desconfia até de si, quanto meio eficaz para mover algo no mundo em defesa da vida. Mas nem por isso deixa-se abater. E cheio de esperança e beleza, mesmo sendo frágil a beleza -manifestada em forma de flor no livro -, ele não recusa a si, nem ao seu poema, seu poder de esperança.

Viva Drummond!

A Rosa do povo é um livro gigante, você se paralisa e põe a pensar diante de cada poema que se desenrola. Por isso tomaremos um pouco a mais de tempo para conversar sobre ele. Você já leu A Rosa do Povo? Quais as considerações ou comentários tem desse livro?

Caso ainda não tenha lido, corra até a biblioteca, ou ao sebo, ou a livraria mais próxima. Em tempo que os direitos humanos são cada vez mais desconsiderado e negligenciados no Brasil, essa obra se faz extremamente necessária.

*Talles Azigon é poeta, editor e produtor cultura. Já publicou os livros Três Golpes D’Água e MarOriginal. Gosta de assistir Hora da Aventura, de passear na Floresta do Curió e do banho na Sabiaguaba. À procura da poesia é uma coluna semanal com comentários e indicações de livros, autores e poemas. Leia mais poetas.

 

 

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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