df8f3_petrobras1A Petrobras pôs no ar o blog Fatos e Dados no dia 2/6/2009. O objetivo expresso é divulgar “fatos e dados recentes da Petrobras e o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)”.

A maioria das postagens, até agora, reproduzem as perguntas de jornalistas, enviados à empresa por e-mail, juntamente com as respostas da Petrobras. Outras postagens confrontam o material publicado pelos jornais com as respostas, na íntegra, oferecidas pela empresa.

A decisão da Petrobras de criar o blog  já provocou estremecimentos entre jornais e a estatal. A Folha de S. Paulo questionou, em matéria [edição de 6/6/2009, veja a íntegra abaixo] a política do blog em divulgar e-mails de reportagens “ainda em andamento”. O gerente de imprensa da estatal, Lúcio Pimentel, disse à Folha que vai manter a decisão em nome da “política de transparência” adotada pela empresa.

O jornal O Estado de S. Paulo também escreveu à Petrobras perguntando se não havia ilegalidade em divulgar o e-mail que a Folha enviara à estatal. Obteve como resposta, no próprio blog, que a Petrobras não divulgara o e-mail, apenas as perguntas nele contidos [com as respostas enviadas ao jornal].

O advogado José Paulo Cavalcanti Filho, especialista em legislação de imprensa – ouvido pela própria Folha – disse não ver ilegalidade no procedimento. Ele classificou a medida apenas como  “deselegância” com os jornais. Mas disse que, do “ponto de vista da democracia” via a medida como positiva, por divulgar as respostas a empresa na íntegra, de modo que “qualquer um” pudesse tomar conhecimento.

Comentário

Vai ser interessante acompanhar o desenrolar desse confronto entre informações fornecidas pela empresa e aquela divulgadas pelos jornais.

Os jornalistas estranham, mas, cada vez mais, terão de se habituar a ver o seu trabalho sob escrutínio, não apenas dos leitores, mas das próprias fontes.

Acho positivo também que uma empresa do porte da Petrobras adote essa política. Fui ombudsman do O POVO por três anos e uma das coisas que me chamaram a atenção no período foi um certo “temor reverencial” que algumas fontes, principalmente políticos e instituições, têm dos meios de comunicação.

Eles temem ficar “marcados” por algum veículo ou pelos próprios repórteres ou editores, caso se insurjam contra alguma matéria publicada. Eram comum receber ligações com queixas, com pedido de anonimato.

Tranquilizava-os e os incentivava a tornar públicas suas reclamações ou a falar diretamente com repórteres e editores, dizendo-lhes que no O POVO não vigorava a política de “veto” àqueles que tinham questionamentos ao que era publicado.

O importante é que a medida da Petrobras resulte em debate relevante – e não se transforme em mero espaço de confrontos inócuos e disputa de vaidades, no terreno minado em que convivem assessores e jornalistas. 

Para começar

1. Obviamente, não há o que questionar a Petrobras por criar o seu próprio blog. É um direito que assiste a todos, a empresas ou pessoas.

2. A Petrobras poderia repensar sobre a “deselegância” a que se referiu o advogado. Esperar pela publicação das reportagens geradas pelas respostas da empresas, seria um modo sinalizar uma convivência menos tensa.

Assim como não se pode criminalizar genericamente empresas e instituições, também não se pode antepor desconfiança a jornalistas, a partir de perguntas que eles tem o direito e a obrigação de fazer.

Não haveria nenhum prejuízo à Petrobras se ela reproduzisse as respostas enviadas depois de a reportagem ter sido publicada. Seria até mais interessante, pois os leitores poderiam fazer o confronto direto entre o texto jornalístico e as respostas enviadas pela empresa.

No mais, não sou ingênuo a ponto de deixar de perceber que se trata de “briga de cachorro grande”. Vai ser muito difícil prever quem vai piscar primeiro. A Petrobras é uma instituição poderosa e pode influenciar outras empresas e fontes a seguirem o mesmo caminho.

A imprensa, por sua vez, ainda que tenha visto a sua capacidade de influir na opinião pública se reduzir,  ainda detém o poder de fazer o que os especialistas chamam de “agenda setting”, ou seja, de agendar, pôr em evidência, aqueles assuntos sobre os quais nós vamos conversar no dia-a-dia.

Espero que isso sirva para um debate frutífero, que poderia ser benéfico para todos.

Mas, o mais certo, infelizmente, é que a iniciativa da Petrobras vai atrair os cachorros loucos da blogosfera de ambos os lados: aqueles que veem uma conspiração da imprensa contra, bem, contra aquilo que difira de suas convicções e preconceitos – e, de outro, dos que creem ser o governo [e tudo o que o representa] com um mal em si e querem atacá-lo a qualquer preço. 

[Clique para ver a matéria da Folha de S. Paulo sobre o assunto.]

[Publicado pela Folha de S. Paulo, edição de 6/6/2009]

Petrobras usa blog para vazar reportagens

Alvo de CPI, estatal divulga e-mails com pedidos de informações para reportagens não concluídas; empresa diz que “não é ilegal”

Estatal criou site na internet para responder textos da imprensa e críticas feitas pela oposição após a criação de comissão no Senado

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

Alvo de uma CPI no Congresso, a Petrobras decidiu tornar públicos, em um blog que criou na internet, os e-mails enviados por jornalistas que procuram a assessoria de comunicação da empresa, no Rio, para obter informações e esclarecimentos para reportagens que ainda estão em andamento.
A empresa colocou o blog no ar no último dia 2, como parte da estratégia da comunicação lançada pela estatal após a abertura da CPI (http://petrobrasfatosedados.wordpress.com).
Na noite de ontem, o objeto de reportagens que a Folha ainda apura – com questões endereçadas à empresa, para que possa oferecer a sua versão dos fatos- foi publicado no blog pela Petrobras.
A Folha fez perguntas a respeito da contratação de advogados sem licitação, sobre os custos de um gasoduto no Amazonas e, por último, acerca de gastos com patrocínios de festas no Nordeste.
Questionado pela Folha, o gerente de imprensa da estatal, Lúcio Pimentel, disse que a Petrobras vai manter a decisão de divulgar e-mails de reportagens ainda em andamento. Disse que se trata de uma “política de transparência” adotada pela direção da empresa.
A atitude da Petrobras motivou os jornais “O Estado de S. Paulo” e “O Globo” a indagar se a empresa havia pedido autorização à Folha para divulgar seus e-mails. A Petrobras respondeu: “Não houve divulgação do e-mail, e sim das perguntas e respostas dadas ao jornal [Folha]. No entendimento da Petrobras não há ilegalidade, pois o conteúdo divulgado é público”.
Segundo a companhia, a “intenção é tornar públicas as respostas enviadas pela companhia, de forma completa e sem edição dos dados, sobre todos os questionamentos feitos pela imprensa”.
Segundo a Petrobras, o blog é gerido por “profissionais da empresa”. De acordo com resposta divulgada mais cedo no blog, por conta de reportagem de “O Globo”, a Petrobras conta com 1.050 jornalistas contratados, sendo 400 na área da comunicação institucional.
A Petrobras também tem usado o blog para comentar e criticar reportagens já publicadas pela imprensa.
Dos comentários postados no blog até a noite de ontem, a maioria era de apoio à companhia. Muitos atacavam veículos de comunicação e jornalistas. Conforme o texto sobre a política de comentários, eles precisam passar por um moderador da empresa antes de ir ao ar.
O advogado José Paulo Cavalcanti Filho, especialista em legislação de imprensa, diz não ver ilegalidade. “É apenas uma deselegância com os jornais. Do ponto de vista da democracia, não é ruim, pois a ideia é que a pergunta vai ao ar, de maneira que qualquer um do povo toma conhecimento.”

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