O ombudsman do jornal Folha de S. Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, comentou, na sua coluna de domingo, o caso do blog Petrobras, o Fatos e Dados.

Lins considerou que o assunto foi debatido de modo “injustificamente histérico”, considerando que “qualquer entidade ou cidadão têm o direito indiscutível de criar quantos blogs, sites, jornais ou publicações de qualquer espécie que quiserem”.

Para o ombudsman, “a reação de muitos jornalistas, veículos e entidades à iniciativa foi claramente despropositada. Se alguém pode sair prejudicado pela decisão de revelar as questões de jornalistas antes da publicação das reportagens a que se destinam é a própria empresa, como seu recuo nesse ponto deixou claro: se as pautas exclusivas deixam de ser exclusivas porque a fonte as revela ao público, o mais indicado para quem as produz é não ouvir essa fonte antes de publicar a reportagem”.

O comentário de Carlos Eduardo Lins da Silva equipara-se aos que eu fiz em postagens abaixo. Aliás, parecido com qualquer intervenção que analisou o assunto com isenção, o que, felizmente, foi feito por vários blogueiros.

É preciso que existam pessoas que façam frente – sem entrar na briga de rua que eles promovem – aos cachorros loucos da blogosfera: de um lado os que sacralizam o governo e, de outro, os que o demonizam. Eles se equivalem, ou, para usar uma expressão que já foi muito cara na disputa política, são “farinha do mesmo saco”.

Leia na íntegra o comentário do ombudsman.

 

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ombudsman@uol.com.brMuito barulho por quase nada

NINGUÉM precisava ter lido o blog da Petrobras para perceber problemas na reportagem publicada no sábado, dia 6, sobre as relações entre a empresa e a entidade MBC (Movimento Brasil Competitivo).
Expressei assim, na crítica diária que faço das edições deste jornal, minha reação inicial ao deparar-me com a chamada de capa dada a ela: “Francamente, não vejo relevância na informação de que verba da Petrobras foi para ONG que tem seu presidente entre os membros do conselho para que ela esteja na primeira página”.
Meu argumento era que em geral a presença de pessoas que ocupam cargos de prestígio em conselhos de organizações como o MBC é apenas simbólica. Como o próprio texto da reportagem informava, o presidente da Petrobras nem participa das reuniões do MBC.
Concluí que “a contratação do MBC pela Petrobras pode merecer críticas, ser denunciada, por diversos motivos. Pelo fato de que Dilma Rousseff e José Sergio Gabrielli participam nominalmente do conselho da ONG, não”.
A publicação de cartas do presidente do MBC e da gerente de imprensa da Petrobras no “Painel do Leitor” de segunda-feira confirmou minhas impressões e foi suficiente para eu (e muitos leitores) fechar juízo de valor sobre o caso.
Ao longo da semana, a relação entre a Petrobras e o MBC foi deixada de lado (o que parece confirmar a sua pouca relevância) e o debate, injustificadamente histérico, se concentrou na criação do blog Fatos e Dados pela estatal.
A Petrobras e qualquer entidade ou cidadão têm o direito indiscutível de criar quantos blogs, sites, jornais ou publicações de qualquer espécie que quiserem. Se ela deseja tornar públicas todas as perguntas de jornalistas que receber, também não há nada que a impeça nem legal nem eticamente (em especial se deixar claro a quem se dirigir a ela que vai fazer isso).
Não faz sentido a Petrobras querer editar o conteúdo dos veículos de comunicação. Mas não há problema em ela tornar público material que seja cortado durante o processo de edição feito por esses veículos.
A reação de muitos jornalistas, veículos e entidades à iniciativa foi claramente despropositada. Se alguém pode sair prejudicado pela decisão de revelar as questões de jornalistas antes da publicação das reportagens a que se destinam é a própria empresa, como seu recuo nesse ponto deixou claro: se as pautas exclusivas deixam de ser exclusivas porque a fonte as revela ao público, o mais indicado para quem as produz é não ouvir essa fonte antes de publicar a reportagem.
Do episódio, só há a lamentar que tenha sido mais lenha para atiçar a fogueira do conflito sectário que envenena o ambiente político nacional em prejuízo de todos.