Como é período de Carnaval e o Ceará deve estar cheio de turistas, resolvi dedicar-lhes este poema de João Cabral de Melo Neto, pois me parece que, pela descrição dele, as cearenses têm muito das andaluzas. Ele faz uma descrição exata – João Cabral é o poeta da engenharia das palavras – do turista de meia-idade frente à exuberância de uma dançarina espanhola.

É do livro “Andando Sevilha”.

Os turistas

Nos revoos de tua saia
que tu despia e vestia,
tu te davas e não davas
tu era mentira e ambígua

Com os revoos de tua saia
que poucos compreendiam,
que tu ofereces, pensava
toda a estrangeira maioria

que vem turista à Espanha
e sobretudo à Andaluzia,
fugir das catedrais, museus
que guardam em fotografias.

A meia-idade americana
que sem pretender galvanizas
com a inocência maliciosa
de alguém que convidaria.

“Olha que cordeiros tão tristes
voltam aos hotéis os turistas;
vão como alguém que é recusado
de uma casa de mala vida.

Uns, se vingarão na mulher
com quem há quarenta anos habitam:
outros voltarão ao ofício
fotográfico dos turistas.

Mas todos descobrirão
no meu baile por alegrías
uma pele que já tiveram
antes dos dólares & Cia.

Juan, que fazer para evitar
que só acordem à meia-vida?
Que país é esse que obriga
a ser meia-idade o turista?”