Que a disputa presidencial vai ser cruenta, pouca gente duvida, mas creio que há argumentos, que um candidato usa para atingir o outro, que se transformam em verdadeiro tiro no pé.

O lançamento da candidatura de José Serra, do PSDB – e o “contra-ato” promovido pelo PT e sua candidata, Dilma Roussef, é um exemplo disso.

Dilma discursou: “Eu não fujo quando a situação fica difícil. Não tenho medo da luta. […] Nunca abandonei o barco”, segundo o jornal Folha de S. Paulo [11/4/2010] foi referência ao período da ditadura militar, quando ela militou clandestinamente no Brasil, enquanto Serra exilou-se no Chile.

Por seu lado, Serra: “Às falanges do ódio que insistem em dividir a nação vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. […] Quanto mais mentiras eles disserem sobre nós, mais verdades falaremos sobre eles”. Também segundo a Folha, referência ao PT. Antes Serra criticara o governo Lula pelo apoio ao governo de Cuba.

Comentário

Argumentos desse tipo, me perdoem os marqueteiros – se forem eles os culpados -, depõem conta quem os evoca. Dilma criticar Serra por ter ele se exilado no período da ditadura, equivale a crucificar quem falou sob tortura, ainda que se louve quem suportou o suplício.

Dilma, mais do que ninguém, sabe o que se passou no período da ditadura militar; e sabe que existem diversas formas de luta e vários modos de mostrar coragem política, intelectual ou física.

Por seu lado, José Serra, chamar o PT e seus militantes de “falanges” não foi de graça. Serra é um sujeito instruído; ele sabe que “falange” remete ao fascismo, à intolerância, ao autoritarismo, à ditadura. A Falange Espanhola era um partido fascista, o único reconhecido na Espanha do “generalíssimo” Franco.

Assim, Serra quer fazer crer que o PT é uma espécie de partido “comuno-fascista”, se é que isso é possível. E, olhando-se o PT sob qualquer ângulo – histórico ou conjuntural -, um despropósito. O partido já tem defeitos suficientes para serem explorados, sem que seja necessário inventar outros.

Esse tipo de argumento – de Dilma e de Serra – desqualifica a ambos. É um sermão para convertidos: assanha os “radicais” de ambos os lados – sem nenhum efeito prático; ou pior, tem efeito negativo para aquelas pessoas com um mínimo de informação e que costumam refletir sobre aquilo que ouvem.

Dilma diz que não criticou exilados
[da assessoria de Imprensa da pré-candidata do PT]

Ao discursar sábado, em encontro no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, a ex-ministra Dilma Rousseff, ao enumerar os princípios que norteiam sua conduta ética e política, disse, textualmente:

“Eu não fujo quando a situação fica difícil. Eu não tenho medo da luta. Posso apanhar, sofrer, ser maltratada, como já fui, mas estou sempre firme com minhas convicções. Em cada época da minha vida, fiz o que fiz por acreditar no que fazia. Só segui o que a minha alma e o meu coração mandavam. Nunca me submeti, nunca abandonei o barco”.

É, portanto, totalmente equivocada a interpretação, difundida hoje [ontem] por vários veículos de comunicação, de que ela tenha feito qualquer referência a brasileiros que tiveram que se exilar do país durante a ditadura militar. Hoje pela manhã, Dilma mencionou o assunto em seu recém-criado twitter (@dilmabr): “De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros. Grandes amigos meus corajosos e valorosos só tiveram uma saída na ditadura, se exilar.Querer dizer que eu os critiquei só pode ser má fé”.
O áudio desta fala está no site mulherescomdilma.com.br.

Assessoria de Imprensa de Dilma Rousseff
Brasília, 12/4/2010

[Acrescentado ao post em 13/4/2010, às 9h43min]