Uma foto de Drawlio Joca para: brinde para quem aqui chegou (http://www.flickr.com/photos/drawliojoca). Clique para ampliar

Participei como debatedor do 7º Encontro de Tuiteiros Culturais, ao lado de Glória Diógenes, José Luiz Goldfarb e de Fabrício Carpinejar.

O extrato abaixo foi o que falei ao concluir minha intervenção. Quem se dispuser a lê-la na íntegra, por favor, vá em frente.

Críticas e, principalmente elogios, serão bem recebidos pela casa.

«No mais, meus amigos, eu vejo a cultura – no seu sentido amplo e também no seu sentido estrito – como uma Ágora, uma feira livre de ideiais, nas quais essas ideias têm validade pelo argumento que as sustenta, e não pela qualificação de quem as emite. Assim como se faz agora neste Encontro de Tuiteiros Culturais. Não sendo assim, em vez de Ágora teremos um Coliseu Romano e, se for desse modo, o mal estará feito, seja ele de direita ou de esquerda.»

Veja também: Twitter, Facebook… não têm compromisso com a Internet.

Minha intervenção no encontro de tuiteiros.

7º Econtro dos Tuiteiros Culturais
Steve Jobs é o Che Guevara das seitas tecnológicas


Quando a Albanisa Lúcia, do Armazém da Cultura, me convidou para participar desse Encontro de Tuiteiros Culturais, fiquei pensando se eu era um “tuiteiro cultural”. Sou meio avesso a rótulos, mas fui rever meus posts para conferir se não era apenas uma gentileza da Albanisa, a quem, a propósito, agradeço o convite.

Também fiquei em dúvida – sinceramente – se eu deveria ficar em companhia de tão destacados tuiteiros, com meus míseros três mil e poucos seguidores: perto do Fabrício Carpinejar, por exemplo, com mais de 145 mil seguidores; da professora, socióloga e escritora Glória Diógenes; e de José Luís Goldfaber, o tipo de pessoa que se pode chamar de “agitador cultural”.

Pois bem, mas eu dizia que fui rever meus posts e descobri que há muita coisa que pode ser enquadrado nessa categoria “cultural”: por exemplo, resenha de livros que eu leio, indicação de cursos e eventos na área cultural, uma página na qual eu indico livros virtuais, principalmente de jornalismo, que podem ser baixados gratuitamente. Eu uso o blog para desenvolver as ideiais, postando os links no Twitter.

Quero dizer que eu uso o Twitter profissionalmente, para dar informações que considero úteis. Com certeza, mais de 90% dos meus posts contém link para alguma reportagem ou algum assunto que considero importante.

Eu não sigo “celebridades”, nem artistas; nem pessoas que postam banalidades, ou aqueles que querem me converter para um partido, para uma religião ou para um time de futebol; também não sigo pessoas que gostam de dar conselhos, reproduzir frases estilo “autoajuda”. E também não sigo as pessoas que me pedem para segui-las.

Portanto, se eu não tenho muitos seguidores, do modo como eu ajo, vocês podem deduzir, sobra pouca gente que eu possa seguir. Acompanho exatamente 289 pessoas [Aumentei um pouco, desde então, com pessoas que conheci no próprio encontro.]

Se eu publicasse posts naquele estilo “me siga que eu também te sigo”, provavelmente teria mais seguidores, mas esse não é meu objetivo. Procuro seguir pessoas que tenham alguma coisa relevante para dizer ou que possam me indicar assuntos interessantes.

E também, não vejo como poderia acompanhar posts de um número muito grande de pessoas, seguir, por exemplo, duas, três mil pessoas, me parece que é o mesmo que não seguir ninguém, pois não haveria como ter um mínimo de atenção para aqueles a quem você segue.

Bom, essas são as únicas desculpas para a minha rala popularidade no Twiiter.

Mas eu queria ampliar um pouco a conversa, olhando a cultura em um sentido um pouco mais amplo. E isso remete ao que eu disse no começo sobre rótulos.

No ano passado, eu fui convidado ao WebFor pelo Daniel Bezerra. E o evento, como vocês sabem, começou com o nome de “Encontro de Blogueiros Progressistas”. Então, eu disse ao Daniel que não era “blogueiro progressista”, que me considerava apenas um jornalista, sem adjetivações, mas que teria prazer em comparecer ao evento, se não houvesse problema para os organizadores. Quanto se trata de terçar argumentos – argumentos, quero deixar bem claro – eu não escolho terreno e nem armas.

Disse ainda ao Daniel das minhas várias divergências com os blogueiros progressistas, entre elas, a questão do método jornalístico. O Daniel, gentilmente, manteve o convite. Mas eu sei que não foi sem contratempos internos.

Eu penso que, tanto a esquerda quanto a direita, em casos assim, padecem do mesmo mal: eles só gostam de falar para convertidos. Então, em um evento da chamada “direita”, eles só chamam quem pensa igual a eles. Em um evento de partidos ou agrupamentos de esquerda, acontece a mesma coisa.

Eu concordo com o jornalista e teórico americano Walter Lippmnamm, que dizia o seguinte: “Quando todo mundo está pensando igual, ninguém está pensando”.

Então, para me considerar “blogueiro progressista” eu teria de aceitar alguns pressupostos, como, por exemplo, achar que os meios de comunicação formam o PIG – o tal suposto partido da imprensa golpista.

Eu entendo que o jornalista tem a obrigação de pensar com independência. Se você se filia a um partido ou a uma corrente, você reduz essa capacidade. Você é pressionado – ou dependendo do partido – fica obrigado, a seguir uma determinada linha política.

Se eu estivesse filiado ao PT, por exemplo, teria que ora classificar um político como representante do mal, se ele fosse da oposição, e evitar incomodá-lo, se ele aderisse ao governo.

Se estivesse no PCdoB, estaria obrigado a defender o regime norte-coreano. Se estivesse no PSDB ou DEM, eu teria de falar mal do governo, mesmo se considerasse, como considero, corretas as medidas como Bolsa Família e a proposta de cobrança do chamado “imposto do cheque” para a área de saúde.

Vejam, eu não condeno os que se filiam a um partido ou a um agrupamento qualquer: é um direito democrático que tem de ser respeitado e garantido. Como também é um direito democrático, e têm de ser respeitados, aqueles que optam por não se filiar a nenhum partido, a não torcer para nenhum time de futebol e a não seguir nenhuma religião.

O meu modo de ver as coisas não significa, porém, que eu me considere uma pessoa “neutra” frente à realidade e aos fatos sociais. Eu me considero de esquerda, pois eu entendendo que, na sua essência, os homens são mais iguais do que desiguais e que, portanto, temos o dever de lutar por mais igualdade entre os seres humanos.

Ainda, nesse tema “cultura”, entendida de forma mais ampla, eu queria falar um pouco das chamadas novas mídias.

Primeiro, deixar claro o seguinte: é óbvio que hoje há prevalência dos meios eletrônicos nas mais diversas formas de comunicação. Seria idiotice negar ou ter algum tipo de fantasia regressiva achando que o mundo pode prescindir delas.

Esses novos meios vieram para ficar. Ou melhor, não apenas para ficar, mas também para serem superados, superados, por outros meios ainda mais avançados.

Vocês vejam com as coisas cada vez mudam mais rapidamente: o primeiro jornal impresso do mundo surgiu por volta de 1650; a primeira transmissão radiofônica em 1906, uma diferença de mais de 250 anos entre o surgimento de uma mídia e outra. Depois, a tecnologia da informação foi mudando em velocidade cada vez mais rápida, ao ponto de uma pessoa comum ter dificuldade em acompanhar todas as transformações.

Recentemente eu vi uma entrevista do Sílvio Meira, do Cesar (Centro de Estudos e Sistemas Avançados de Recife), na qual ele diz que já se testa uma lente de contato que fará as vezes de um computador, tão ou mais poderoso do que esses que usamos. Você também devem ter lido sobre o desenvolvimento de telas flexíveis, que se poderá usar como pulseiras ou de qualquer outro modo que a criatividade permitir.

E é preciso reconhecer, as novas tecnologias, além de inevitáveis, facilitam muito a nossa vida, sob muitos pontos de vista.

Mas as novas tecnologias também trazem alguns problemas e novos desafios éticos, inclusive para o jornalismo, mas que não são objeto desta nossa conversa.

E, ainda, quero dizer o seguinte: eu não sou obcecado pelas novas tecnologias: eu procuro usá-las, ao invés de deixar que elas me usem.

Eu vejo como absolutamente insano o fato de pessoas que se tornam “fãs” de algumas marcas, a ponto de se entregarem a elas como se fossem uma nova religião. Tem gente que passa dias em uma fila para comprar um novo Iphone, ou outra bugiganga qualquer.

Talvez essas pessoas não percebam, mas o fato de produzir poucos aparelhos para o seu lançamento é uma estratégia de vendas, para fazer o objeto disputado e, por isso, mais desejado. Ou vocês acham que  Steve Jobs não poderia apertar ainda mais os parafusos dos operários chineses para que eles produzissem Iphones aos milhões para evitar filas? É claro que podia fazê-lo. Essa é apenas uma técnica de vendas, para atiçar a vontade das pessoas.

Vejam vocês que discussão mais bizantina aconteceu nas redes sociais pelo fato de o Instagram deixar de ser um programa apenas do Iphone. Muita gente reclamou, outras pessoas se desesperam, dizendo que o Instagram havia se “orkutizado”. Ou seja, o populacho poderia agora usá-lo, não era mais exclusivo dos bem-nascidos que podiam comprar um Iphone.

Essa técnica de fazer alguém sentir-se parte de um clube seleto, vocês lembram, foi usada no início pelas redes sociais, quando só admitiam alguém entrasse nelas convidado por outro integrante do clube. E, como técnica de marketing, funciona muito bem, pois as pessoas acabam se considerando participantes de um clube exclusivo, no qual somente os eleitos podem entrar.

(Bem fazia o Grouxo Marx que dizia: “Eu não entro em nenhum clube que me aceite como sócio.)

Foi nesse passo que muita gente elegeu Steve Jobs como chefe-supremo de uma espécie de seita. Eu escrevi um artigo dizendo que Henry Ford é, até hoje, considerado uma espécie de demônio capitalista por ter inventado a linha de produção. Steve Jobs explorou a mesma coisa na China e é incensado por isso. A diferença entre os dois é que Steve Jobs procurava não sujar as mãos, cuidando de sua aparência de profeta da Nova Era, com seus seguidores se ajoelhando diante dele e de seus objetos reluzentes.

As pessoas costumam se queixar do monopólio da Rede Globo, muitas vezes com razão, mas nós ainda vamos sentir saudades do monopólio da Globo frente ao arrasador poder de intervenção na vida das pessoas que têm o Google ou Facebook, por exemplo. Esses gigantes devassam, esquadrinham a nossa vida e, muitas vezes, nos entregamos alegremente a isso.

Quando vejo o Google e Facebook falando em “liberdade” para se contrapor a leis como a Sopa (Stop Online Piracy: lei contra a pirataria online) e à Pipa (Protect Intelectual Property: lei de proteção da propriedade intelectual) a minha vontade é de rir.

Me parece óbvio que a preocupação maior dessas novas gigantes não é com a liberdade das pessoas; seu objetivo é manter a liberdade que eles têm de lucrar e de bisbilhotar a vida dos outros. Observem que eles se submetem à censura e outros tipos de controle quando algum país assim o exige para liberar o uso alguma dessas ferramentas.

E, mesmo assim, tem muita gente embarcando acriticamente nesse transatlântico; embarcando como passageiro de terceira classe, com poucos ou nenhum direito – e achando tudo maravilhoso.

No mais, meus amigos, eu veja a cultura – no seu sentido amplo e também no seu sentido estrito – como uma Ágora, uma feira livre de ideiais, nas quais essas ideias têm validade pelo argumento que as sustenta, e não pela qualificação de quem as emite. Assim como se faz agora neste Encontro de Tuiteiros Culturais.

Não sendo assim, em vez de Ágora teremos um Coliseu Romano e, se for desse modo, o mal estará feito, seja ele de direita ou de esquerda.

Muito agradecido a todos.

(Plínio Bortolotti)
Fortaleza, 13 de abril de 2012.