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“O jornalismo de informação sindical”, livro de Vladimir Caleffi Araújo, é uma profunda e perspicaz análise do modo de produção do jornalismo sindical.

Personagens

Caleffi, por meio de pesquisas e entrevistas com os principais personagens do jornalismo sindical (os próprios jornalistas e os dirigentes das entidades representativas dos trabalhadores) mostra como os dirigentes sindicais “apropriam-se dos veículos como se fosse seus” (Christa Berger, na abertura).

Montante e jusante

Para o autor, os “responsáveis sindicais situam-se tanto a montante como a jusantes dos artigos e reportagens do jornalismo sindical”. “Chegamos ao ponto – diz um redator – de fazer permanentemente autojustificativa de nossas próprias posições e não mais informação”.

Crivo da diretoria

Outro jornalista, de uma entidade sindical de professores, que tinha de fazer matéria a respeito de problemas havidos em determinada escola, dá a seguinte declaração: “A gente procura entrar em contato com os professores daquela escola. Mas, infelizmente, tem de passar pelo crivo da diretoria que quer saber se o professor que se manifestou está alinhado com o sindicato. Não vai declaração de ninguém no jornal sem aval da diretoria, mesmo que seja professor sindicalizado”.

Militância

O problema da promiscuidade entre fonte (quase que exclusivamente os próprios dirigentes sindicais) e jornalistas, faz com que estes, segundo Caleffi, antes de profissionais, se tornem militantes da “causa” do sindicato em que trabalha.

Ambiguidade

Para ele “a ambiguidade na relação entre jornalistas e dirigentes [faz] com que os primeiros abandonem as regras básicas da conduta profissional jornalística”. Ironizando, um jornalista sindical entrevistado diz que se houver um incêndio “vai ser [publicada] a versão da direção de como a coisa pegou fogo”.

Redator oficial

Isso transforma o jornalista sindical – diz Caleff – em uma espécie de “redator oficial”. E “por sua condição militante […] o jornalista sindical é levado à renunciar à ética profissional jornalística, quando se vê confrontado com os interesses da organização para a qual trabalha”.

Atributos

Mas o autor mantém o otimismo quanto a “recuperar os atributos da informação no jornalismo sindical”. E cabe ao jornalista, diz ele, “boa parcela da responsabilidade, direcionando seus esforços na tentativa de (re)construir as práticas do jornalismo de informação sindical, referendando-se em uma visão menos equivocada do processo informativo e da missão dos meios de comunicação institucionais”.

É jornalismo?

O livro tem como subtítulo de “Atores e práticas de uma forma de produção jornalística”, mas ao se terminar a leitura fica a pergunta: o que se pratica nos sindicatos é mesmo jornalismo?
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Maldade

“O jornalismo de informação sidical” é uma publicação da UFRGS Editora, que não deveria ter cometido a maldade de imprimi-lo em corpo 10. Uma boa edição teria deixado o livro com metade das páginas, sem perder a essência de suas informações.