Na lista da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) um dos participantes pediu sugestão para atuar como freelancer, emendando algumas perguntas com suas principais dúvidas.

O jornalista gaúcho Alexandre de Santi respondeu às perguntas a partir da experiência dele, que tabalha de forma independente há seis anos. Para isso, criou a agência de notícias Fronteira, com outros dois jornalistas.

A primeira coisa que De Santi diz é que “não existe um único jeito” de trabalhar de forma independente. “Tem que ir na base da tentativa e erro mesmo”. Para o caso dele, a melhor forma foi montar uma empresa, mas diz ter amigos que “vivem de frila” trabalhando em casa “e se dão muito bem”.

A partir de então, ele passa a responder às perguntas que foram postadas na lista da Abraji. Seguem questionamentos e respostas, na linguagem informal, pois era uma conversa na lista. Mantive inclusive o “sotaque” gaúcho : ).

Gostaria de saber qual seria um bom lugar para conseguir se concentrar (no trabalho a ser feito).
Se tu anda distraída, pensa menos no lugar e pensa mais em como organizar a tua cabeça primeiro. Eu uso um app no celular para me ajudar chamado “Fabulous”. Recomendo. Já escrevi uma matéria para a Super (revista Superinteressante) sobre isso, onde eu conto um pouco da minha experiência pessoal sobre organização. (Um foco para chamar de seu) Hoje, eu medito 10 minutos todos os dias antes do trabalho e mantenho uma planilha do Excel onde contabilizo meus momentos de distração. Acho que me ajuda a me autofiscalizar. Sugiro você usar um app para controlar tuas tarefas também. Tem um ótimo chamado “Asana”, que a gente usa (menciono ele no texto da Super). Acho que, resolvendo a distração primeiro, depois tu parte para a questão do lugar. :- )

Já trabalhei em casa também. Foi legal, mas, como tivemos um filho, ficou impossível. O grande problema de trabalhar em casa, antes do filho, era ficar em casa o dia inteiro. Com o tempo, cansa mesmo. Às vezes tu acorda, faz um café, senta no computador às 8h e só desliga às 21h. Eu trabalhava muito mais horas quando estava em casa, mas não eram horas necessariamente produtivas. Mas, como te disse, tenho amigos que lidam bem com isso. Eles costumam programar atividades fora de casa diariamente em horários que não atrapalham o trabalho. É uma saída.

Seja como for, tem que criar disciplina.

Eu devo enviar a ideia de pauta ou ir tocando e mandar uma matéria pronta?
Manda a ideia primeiro. Mas, se tu tá MUITO A FIM de fazer uma pauta, vai tocando. Depois tu descobre se alguém vai publicar. Em último caso, publica no Medium, ou sei lá. Não deixa de fazer as matérias que tu realmente acredita. Isso vai te dar um capital na carreira.

O veículo deve arcar com todas as despesas que eu tiver para a pauta ou só com o produto final (no caso, o texto)?
Só o produto final. A não ser que tua pauta dependa de uma viagem ou tenha algum custo especial que seja essencial para a matéria (como pagar para um serviço ou comprar um produto) e tu combine isso com o editor desde o início. Combina sempre bem certinho os valores antes de começar a produção e gerar custos. Esse nosso mercado é muito informal e alguns editores são bem complicados nesse sentido. Não dão respostas precisas e deixam coisas subentendidas. É teu papel esclarecer tudo isso, para teu próprio bem. Não conta com o bom senso dos caras. Depois, dá rolo.

Fico em dúvida também em como me apresentar para as fontes sem ter um veículo, às vezes as pessoas desconfiam quando a gente fala que é jornalista e te perguntam: “Jornalista da onde?” Como se lida com isso?
Seja 100% transparente em todas as vezes. Diz que tu é jornalista freelancer. Se tu tá trabalhando por encomenda para algum veículo, diz: “Oi, sou a jornalista ….. e estou fazendo uma reportagem PARA o veículo X”. Nunca diz que tu trabalha NO veículo X. Se tu tá tocando uma pauta por conta própria, ou fazendo uma pré-apuração, seja transparente: “Oi, sou jornalista freelancer e estou interessada em fazer uma reportagem sobre tal assunto. Não sei onde a matéria vai ser publicada ainda, mas queria a sua ajuda”. Bom, é isso por enquanto. Boa sorte!

(Reproduzido com autorização do jornalista Alexandre de Santi.)

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