Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 21/6/2018 do O POVO.

Privatiza que melhora

Advirto que o depoimento não é de nenhum “esquerdista”, muito menos de um “bolivariano”. Trata-se da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), que realizou estudo, em conjunto com a consultoria McKinskey, constatando que a privatização dos aeroportos – por venda ou concessão – encareceram os serviços para os consumidores, sem trazer ganhos de eficiência relevantes.

O economista-chefe da Iata, Brian Pearce, considerou o resultado surpreendente: “A maior diferença em relação ao que vimos acontecer com outras indústrias, como a do aço, é a competição. Em infraestrutura aeroportuária, as pressões competitivas são, por natureza, muito menores”, disse ele na 74ª reunião geral da associação de companhias aéreas, em Sydney (Austrália), segundo publicou o jornal O Estado de S. Paulo (14/6/2018).

O estudo mostra queda nos custos unitários de operação em aeroportos privatizados, mas o usuário passou a pagar mais caro pelos serviços, levando ao aumento expressivo dos lucros. “Claramente, a privatização dos aeroportos vem com um preço, que os consumidores têm de pagar”, afirmou Pearce, considerando que, em ambientes tendentes ao monopólio, há mais risco de “abuso do poder de mercado”, já que o objetivo principal é dar retorno aos investidores.

Ele ainda criticou o pensamento imediatista dos governos na hora de privatizar aeroportos. “Vemos governos pensando nos ganhos de curto prazo, tentando levantar o máximo de recursos com a venda de ativos, em vez de focar no interesse de longo prazo”.

Agora vai por minha conta e risco.

Lendo esses argumentos, veio-me à lembrança a Petrobras, que parece encaixar-se perfeitamente nos alertas que faz o economista-chefe da Iata a respeito dos aeroportos. A petroleira estatal age em um ambiente tendente ao monopólio (ou pelo menos ao oligopólio) e, mesmo assim, volta e meia, governos “liberais” tentam privatizar a empresa.

Temer nomeou Pedro Parente presidente da Petrobras para dar-lhe um perfil de “mercado” uma “administração empresarial”. O que fez o ex-presidente da empresa? Espoliou o consumidor e vendeu ativos para retorno ao investidor, em vez de “focar no interesse de longo prazo”.

Deu no que deu.

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