Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, O POVO, edição de 21/2/2019

Sérgio Moro completa transição

Sérgio Moro, quando assumiu a Justiça do governo Jair Bolsonaro, disse que exerceria apenas uma atividade “técnica” no Ministério: “Não me vejo como um político verdadeiro”, declarou. Claro, foi apenas modéstia, pois ele dispõe de todo o instrumental para transitar na política real. Mas, para efeito deste artigo, relevando o papel exercido por ele quando juiz, e aceitando que esses seus primeiros 50 dias de governo foram de noviciado nas artes dessa ciência, temos de reconhecer que ele debutou em grande estilo na política ao apresentar seu pacote “anticrime” no Congresso Nacional.

Diferente da rígida figura sob a toga em Curitiba, Moro mostrou-se flexível, disposto até mesmo a contrariar as suas próprias convicções, para ver-se aceito na confraria com a qual terá de conviver. Em tempos idos, Moro não diferenciava caixa 2 de corrupção, pelo contrário, considerava o primeiro até pior que o segundo, mais deletério até que o enriquecimento ilícito. “É trapaça”, “crime contra a democracia”, lecionava o juiz.

Do reformado Sérgio Moro: “Houve reclamação por parte de alguns agentes políticos de que o caixa dois é um crime grave, mas não tem a mesma gravidade que corrupção, que crime organizado e crimes violentos. Então, acabamos optando por colocar a criminalização (do caixa 2) à parte, mas que está sendo encaminhada ao mesmo momento”. Traduzindo: a tramitação vai empacar ou a proposta será desfigurada, com a bênção de Moro.

Além do mais, o projeto de Moro em nada influenciará a redução da criminalidade, pois sua base é o endurecimento das penas, o que nunca deteve delinquentes. Ou seja, está-se combatendo os efeitos do crime, não evitando o acontecimento. Portanto, Moro faria melhor se houvesse apresentado propostas para aperfeiçoar a estrutura, os mecanismos de inteligência e investigação, e a forma como a polícia atua, de modo a evitar-se o delito.

Mas Moro não é mais o independente juiz de Curitiba, agora é apenas uma grife subordinada a Jair Bolsonaro, um prisioneiro do “populismo penal”, decantado por seu chefe.