Meu artigo publicado na edição de hoje do O POVO.
Greve dos professores: um texto e suas leituras
Plínio Bortolotti
Depois que um texto se torna público, cada um o lê de seu jeito. “A forma como vemos as coisas é uma combinação do que está lá e do que queremos encontrar” (Walter Lippman, em Opinião pública).
Semana passada em A Kronstadt de Luizianne, comparei o fato ocorrido na Revolução Russa de 1917 com o ataque da Guarda Municipal aos professores em greve. Os marinheiros de Kronstadt, os mais entusiasmados revolucionários, desafiaram o Partido Bolchevique, depois que este tomou o poder – por isso, experimentaram a sua mão pesada. Obviamente, resguardei as oceânicas proporções dos feitos, tanto é que chamei o fato aqui ocorrido de “micro-Kronstad”.
Recebi diversas manifestações em meu blog agradecendo o “apoio” que eu teria dado ao movimento dos professores. Sinto desapontá-los, mas a rigor, meu texto não apoiava nenhum dos lados. O artigo versava mais sobre a lógica do poder do que a respeito da disputa entre professores e Prefeitura, que, objetivamente, prejudica milhares de crianças.
Na verdade, tanto a prefeita Luizianne Lins (PT), como dirigentes do movimento grevista, a corrente petista O Trabalho e o PSTU, têm origem trotskista: são seguidores de Leon Trotski – um dos principais líderes da Revolução Russa – o homem que organizou o Exército Vermelho, e deu a ordem para esmagar os marinheiros de Kronstadt.
Luizianne deve ter visto a ação da Guarda Municipal como necessária para não ser desmoralizada no exercício do poder. Os líderes da greve não querem demonstrar fraqueza. Portanto o texto tinha duplo endereço: a prefeita e seus adversários mais destacados (mas não, necessariamente, o conjunto dos professores).
Tanto tocou feridas, que um dos recados deixados pelo PSTU em meu Twitter, em defesa da ação bolchevique, foi: “Comparar a defesa da URSS contra marinheiros armados com a violência da Guarda de Luizianne, esse sim, é o absurdo dos absurdos”.
Pois é: aquela repressão foi boa, esta é má.
Olá Plínio,
Penso que ambas situações de agressão do poder estatal virgente (Kronstandt e Fortaleza), guardadas as proporções e especificidades são ruins e merecem nosso repúdio.
Porém, quanto ao fato de a greve prejudicar ‘milhares de crianças’, gostaria de destacar que tal fato decorre da postura de intransigência da Prefeitura Municipal de Fortaleza, a qual insiste em não cumprir a ‘Lei do Piso’, a qual já teve sua constitucionalidade confirmada pelo supremo. Não só com relação ao valor mínimo do Vencimento-Base (VB), que deve ser calculado em relação ao custo aluno do FUNDEB, mas também com outros ítens, tais como data-base em 1º de Janeiro, cargorária máxima de 40 h/semanais com 1/3 para atividades extra-classe (planejanto, estudos, elaboração/correção de provas).
Se a Prefeitura cumprisse integralmente a Lei 11.738/2009, ou pelo menos apontasse nesse sentido (com uma proposta de implementação escalonada pactuada com a categoria), ao invés de “passar o trator”, inclusive levando a seus “aliados” na Câmara Municipal a praticar uma ilegalidade (realizando uma sessão anti-regimental), toda essa situação poderia ter sido evitada.
Caro Arnaldo,
Quanto ao prejuízo às crianças, observe que eu anotei “objetivamente”, ou seja, é um fato: não atribui a responsabilidade a um outro outro lado da disputa. A propósito, de novo, este artigo – pelo menos na leitura que faço de meu próprio texto – não dá razão a um ou outro lado. Procura expor uma situação.
Abraço,
Plínio
Olá Plínio, Não disse que você se posicionou contra ou a favor de um dos lados, mas apenas fez uma crítica à potura de contradição ideológica de quem diz uma coisa e faz outra. No que se refere a responsabilidade pelos prejuizos impostos a milhares de crianças, eu mesmo afirmei, de modo fundamentado, que a responsabilidade é da Prefeita de Fortaleza e a maioria de sua base de sustentação na Câmara Municipal, pois se recusa(m) a cuprir, como deveria(m), a ‘Lei do Piso’, que está valendo desde 2008 e é Constitucional (conforme já decidiu o STF) ! Abçs, Arnaldo