Tom Shroder
[Shroder, Tom. Almas antigas: a fascinante história de um pesquisador e sua busca de evidências da reencarnação. Tradução de Simone Lemberg Reisner. – Rio de Janeiro: Sextante, 2001, p. 14].
Por duas vezes estive na Ásia. Na primeira, estive na Índia e no Nepal; na segunda, fui à China, Tibete e, mais uma vez, ao Nepal. Ao realizar essas duas viagens, o meu grande objetivo era o Himalaia. Senti uma emoção enorme, em ambas as ocasiões, quando meus pés tocaram o solo da cordilheira. Alguma coisa muito forte me liga ao Himalaia, algo de uma ordem que foge à minha compreensão. É um aspecto importantíssimo da minha vida nunca totalmente esclarecido, a atração pelo Himalaia e tudo que lhe diz respeito.
Quando fiz minha primeira jornada, como peregrino, não como turista, eu tinha vários objetivos, não sendo o menor a esperança de que me ocorresse alguma experiência que me permitisse esclarecer uma questão para mim ainda não resolvida: a da existência ou não da reencarnação. Na primeira vez, nenhum esclarecimento obtive. Na segunda, quando fui ao Tibete, um fato muito singular me aconteceu na cidade de Shigatse. Senti-me muito perturbado na ocasião. Fiz algumas anotações lá mesmo e deixei para explorar depois as possíveis consequências. Um ano depois, publiquei o livro Viagem mística no Tibete, onde mencionei o fato apenas de forma incidental, não fornecendo maiores detalhes.
Devo dizer que a questão permanece ainda em aberto. Incluo a reencarnação no rol das questões que, no meu caso, não dá para resolver com o recurso dos argumentos racionais. Há argumentos tão bons para defender quanto para contestar a existência da reencarnação. Afirmar acredito ou não acredito não teria para mim qualquer valor, uma vez que agindo assim eu a estaria considerando apenas uma questão de crença ou descrença. Qualquer pessoa tem liberdade para acreditar ou não no que lhe aprouver, mas proceder assim com relação a certas questões não me satisfaz.
Apesar da importância que atribuo à questão, tenho muita resistência a livros que tratam do assunto. Isso porque a maioria deles adota uma das duas perspectivas, ou a proselitista ou a contestatória, na mais das vezes com argumentos muito superficiais e simplórios, carentes de uma sustentação sólida calcada em fatos. Mas, vez por outra, descubro um ou outro livro cuja leitura vale a pena. Entre estes destaco o do jornalista americano Tom Shroder, Almas antigas: a fascinante história de um pesquisador e sua busca de evidências da reencarnação. A leitura deste livro foi tão importante e prazerosa que na primeira página anotei as datas de início e conclusão da leitura: 20 a 25/07/2001.
No livro, o jornalista acompanha o Dr. Ian Stevenson, médico, psiquiatra e professor da Universidade de Virgínia – que há mais de trinta anos vem se dedicando ao estudo de casos que possivelmente evidenciariam a existência da reencarnação -, em uma jornada pelo Líbano, Índia e sul dos Estados Unidos, onde têm contato com algumas crianças que relatam fatos que sugerem a reencarnação. São casos realmente surpreendentes. Mesmo assim o autor não fecha a questão, conforme a conclusão expressa durante uma conversa com um amigo:
“- E acho – prossegui – que afirmar que essas crianças sabem o que sabem porque são reencarnadas me parece simplista demais. Linear demais. É aceitar que sabemos o que não sabemos, como, por exemplo, o que é o tempo, ou o que é a identidade pessoal. Por isso, estou chegando à mesma conclusão a que já tinha chegado antes: essas crianças não são importantes pelo que dizem sobre detalhes específicos ou sobre o que acontece após a morte. Sua verdadeira importância está no que dizem sobre o funcionamento do mundo: que ele é misterioso, que existem forças maiores em ação, que, de alguma maneira, todos nós estamos unidos por forças que ultrapassam o nosso conhecimento, mas que, definitivamente, não são irrelevantes para as nossas vidas” (p. 233).