Reprodução / Facebook

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Depois de uma apresentação com casa lotada, nesta sexta-feira, 12, quando os ingressos se esgotaram com um mês de antecedência, a banda Fresno faz mais um show na capital cearense, neste sábado, 12, na Arena Hits Brasil, onde o grupo apresenta a turnê ‘O Começo de Tudo’, tocando apenas músicas dos três primeiros discos (“Quarto dos Livros“, “O rio, a cidade, a árvore” e “Ciano“.

Empolgado com as apresentações e na expectativa pelo lançamento do novo DVD da banda, que marca o aniversário de 15 anos da banda, o vocalista Lucas Silveira concedeu uma entrevista exclusiva ao Blog Ceará & Rock, onde falou do momento da banda, da carreira e de sua ligação com o Ceará. Confira:

Ceará & Rock: São 15 anos de Fresno. Como é pra você ver aquela banda, que começou com gravações bem simples, completar uma data tão importante?

Lucas Silveira: Pra mim e para muitas pessoas com quem eu lido na estrada é um marco que celebra a nossa resistência. Viver de rock no Brasil é um privilégio de muito poucos, e nos sentimos sortudos e abençoados por termos um público tão grande e fiel.

C&R: É possível contabilizar o quanto a banda amadureceu, nesses 15 anos?

LS: Não consigo contabilizar justamente porque não existe uma unidade que meça o amadurecimento. Nós mesmos, integrantes da banda, amadurecemos em velocidades diferentes, pois antes de uma entidade só, somos indivíduos com suas vidas pessoais e experiências separadas.

C&R: Você acredita que o Fresno encontrou o seu lugar na indústria da música brasileira?

LS: Mas, com certeza, nós encontramos um público fiel desde os nossos primeiros passos, e essa identificação sempre nos deu a certeza de que estávamos no caminho certo. No entanto, não acredito que ‘encontramos o nosso lugar’, pois acho que não somente a Fresno, mas o rock brasileiro como um todo tem bem menos atenção da mídia e do público, conseqüentemente, quanto merece. Felizmente hoje as bandas têm na internet uma aliada para difundir suas criações e esses gargalos midiáticos são cada vez mais raros.

C&R: Quando você sentiu que a Fresno havia conquistado seu lugar no mercado? Que se tratava de um grande grupo nacional?

LS: Acho que isso aconteceu em diferentes estágios. Ainda no underground, mal acreditávamos que havíamos conquistado tantos fãs longe de casa, quando fazíamos nossas primeiras turnês pelo norte, nordeste, sudeste do Brasil. Era surreal para nós a ideia de que nossas músicas estavam viajando para tão longe e encontrando gente que se identifica com elas nesses lugares. Depois houve a fase em que começamos a tocar massivamente no rádio e isso também fez nosso público crescer bastante, fazendo com que deixássemos a esfera do underground e pudéssemos ter uma audiência ainda maior, mas mesmo assim muito fiel e passional como sempre.

Gravação do DVD, em São Paulo / Divulgação

Gravação do DVD, em São Paulo / Divulgação

C&R: Como foi quando vocês ouviram a música de vocês na rádio, pela primeira vez?

LS: Foi emocionante, do tipo de emoção que a gente enfia a cabeça para fora do carro e sai gritando ‘essa é a minha música’. Exatamente como as pessoas vêem nos filmes. É indescritível a sensação de saber que aquela música não está sendo ouvida apenas por você, mas sim por milhares, às vezes milhões de pessoas.

C&R: Vocês foram visionários nessa história de compartilhar música na internet. Rolou uma sacada ou aconteceu naturalmente?

LS: Foi absolutamente natural. Como disse anteriormente, havia um gargalo na mídia. Basicamente, só apareciam de verdade bandas que pertenciam a grandes gravadoras, que as faziam tocar no rádio e irem a programas de TV. Nós e muitas outras bandas vivíamos numa outra esfera, completamente alheia e independente desse mercado fonográfico estabelecido. A Internet era tudo que tínhamos e também através dela encontramos pessoas e um público que não se contentava com o que viam na TV e ouviam no rádio. Achavam aquilo tudo normal demais, e encontravam na rede bandas diferentes, estranhas, desconhecidas, e a Fresno era uma dessas.

C&R: E qual a importância da internet pro sucesso da Fresno?

LS: Toda. Inclusive até hoje, pois na nossa época em que começamos não existiam ferramentas fantásticas de relacionamento com fãs como as redes sociais. A internet ainda era um estranho e vasto mundo por onde as pessoas navegavam cada um a sua maneira. Não existiam muitos ‘pontos de encontro’. O mais próximo de uma rede social em 1999 era o mIRC, uma espécie de bisavô do Whatsapp, por onde as pessoas conversavam e se conheciam através apenas de texto. Hoje as redes sociais te fornecem dados preciosos sobre o tamanho, a localização, idade e interesses do seu público e se você for minimamente esperto, vai usar isso para promover os seus lançamentos e projetos.

C&R: Além da Fresno, você tem outros três projetos paralelos: Beeshop, SIRsir e Visconde. Como nasceu a necessidade desses projetos? Além do tempo pra todos esses projetos, há ainda a necessidade de muita criatividade pra compor. De onde saem tantas letras? Como é seu processo de composição?

LS: Eles simplesmente nasceram. Eu nunca fui de ficar refletindo demais sobre minhas criações, mas me parece bem claro quando uma dessas músicas que eu escrevo ou produzo não é para a Fresno. Mesmo que eu seja compositor da maioria das canções sozinho, o processo que leva uma música da Fresno aos ouvidos das pessoas é bastante coletivo e tem a participação de todos da banda. Por isso, reservo uma expressão das minhas preferências e influências pessoais para esses projetos solos, que em sua maioria são fruto de uma época específica da minha vida em que eu estava aprendendo alguma coisa e precisava de uma válvula de escape para jorrar todas essas criações. É por isso que eles vêm e vão, entram em hiatos e uns até morrem. Eles marcam minhas transformações pessoais e acabam influindo muito no meu trabalho com a Fresno, mas possuem menos compromisso em existir de verdade, ou de se provarem um sucesso entre os fãs. É algo bem livre.

C&R: Quando eu te conheci, no primeiro show da Fresno em Fortaleza, há vários anos, tu ainda era o ‘Paraíba’. Quanto o Lucas Silveira mudou desde aquele primeiro show na capital cearense?

LS: Para meus amigos daquela época eu ainda sou o ‘Paraíba’. As pessoas mudam o tempo todo, mas pessoas de verdade, mesmo mudando muito, mantêm lá no fundo sua essência, imutável e marcante, que é o que vai governar sempre todas essas mudanças que a vida traz. Minha primeira vez tocando em Fortaleza, creio que foi em 2005 e a Fresno estava surfando numa popularidade muito grande na internet, levando pequenas multidões por onde passava. Meses depois já fizemos um show bem maior, no Mucuripe e em 2006 já éramos uma das principais atrações do Ceará Music, que estava em seu auge como festival de bandas. Não deu nem tempo para pensar. Foi tudo muito rápido, e tenho muito orgulho da nossa história, pois foi rápido, mas não do dia pra noite, e não sem muito trabalho. A maioria desses fãs conquistados nessa época ainda vai aos nossos shows e muitos deles tornaram-se grandes amigos da banda.

C&R: Você já produz o próprio trabalho há algum tempo e o último álbum da Fresno foi produzido por ti. Agora você foi anunciado como o cara que vai produzir o novo trabalho do RPM. Qual o significado disso pra ti e qual a expectativa pra começar essa nova fase da tua carreira?

LS: Não sei se tem um significado, mas eu enxergo a Fresno como a minha maior vitrine e tudo que faço com essa banda tem uma ligação espiritual muito grande comigo. Por isso eu dou sangue por cada disco e justamente por isso é que eu aprendi a produzir, pois não conseguia comunicar para os produtores de nossos álbuns anteriores exatamente a sonoridade que a gente pretendia atingir e isso foi me frustrando aos poucos. Hoje, após dominar algumas tecnologias, consigo chegar em sonoridades que eu nem sabia descrever anos atrás, e junto com nossa evolução técnica e pessoal, atingimos um som que virou referência para algumas pessoas, inclusive de escolas e épocas diferentes. Quando o Paulo Ricardo e o William, empresário do RPM, ouviram as minhas produções, decidiram que eu era o cara para fazer o novo álbum deles.

Nem preciso dizer que para mim foi uma honra sem tamanho e que eu não tô acreditando até agora, mas já estamos em pleno trabalho e estou me dedicando o máximo possível para fazer desse disco um grande sucesso, pois a banda é uma das páginas mais triunfantes do rock brasileiro, e sempre teve uma cabeça à frente de seu tempo.

Gravação do DVD, em São Paulo / Divulgação

Gravação do DVD, em São Paulo / Divulgação

C&R: O ‘Eu Sou a Maré Viva’, marca uma nova fase na trajetória de vocês e é um álbum mais curto. Ele aponta para um novo caminho a ser seguido por vocês?

LS: Musicalmente, sim. Estamos sempre buscando causar nas pessoas uma emoção urgente, que não pode esperar para ser sentida. Por isso as músicas são densas de cheias de instrumentações, seja na guitarra, ou nos teclados, ou nas orquestrações que muitas vezes colocamos nas faixas. É um caminho que acabou virando uma marca registrada e que tem casado muito bem com as temáticas que abordamos nas nossas letras. No entanto, não tenho como definir que esse é o caminho para sempre, pois a cada curva o horizonte muda, e tudo que a gente faz é caminhar, sem pensar muito sobre o destino… só temos um sonho e perseguimos ele passando por cima de todos os desafios.

C&R: Essa turnê tocando apenas canções dos três primeiros álbuns. Como nasceu essa ideia e como tem sido a receptividade do público?

LS: Essa turnê nasceu da ideia de relembrar junto dos nossos fãs os nossos primeiros passos. Muitos dos nossos fãs não conheciam a banda quando lançamos esses primeiros álbuns e adorariam ouvir essas músicas em um show. Então resolvemos fazer um show apenas com essas músicas…

Uma verdadeira festa celebrando a nossa história. A recepção tem sido linda demais, com gente de todas as idades cantando nossas músicas, letras que eu mal lembrava de cabeça. É realmente uma experiência reveladora, inclusive para nós mesmos.

C&R: Tu se consideras um gaúcho que nasceu no Ceará ou tua relação com a gente é maior? Acha que tua personalidade tem algo do cearense?

LS: Eu costumo dizer que tenho dupla ‘estadualidade’ (risos), pois minha família é metade do Ceará e a outra metade, do Rio Grande do Sul. Fui criado desde menos de um ano de idade no Rio Grande, mas jamais deixei de vir todos os anos para Fortaleza visitar a minha família, rever meus primos e amigos daqui, e isso é claro que acaba formando nosso caráter. Eu sou, antes de mais nada, Brasileiro, e justamente ser pertencente a dois estados tão distantes é o que me faz ter a noção da amplitude cultural e das diferenças que fazem da nossa cultura uma coisa tão rica. Isso tem culpa direta na formação do meu caráter, inclusive na parte musical.

C&R: E o público daqui, há algo que só os fãs cearenses conseguem transmitir pra vocês?

LS: Não só o público cearense, mas os nossos fãs do Nordeste inteiro são muito fiéis, de uma maneira quase assustadora. A reação às músicas que tocamos é tão avassaladora que chega a ofuscar o som que fazemos ali em cima do palco. É um lugar para o qual sempre adoramos voltar.

C&R: A procura pelos ingressos para o show da Fresno foi tão grande que houve a necessidade de um show extra. Como você recebeu essa notícia e como foi a negociação pra mais uma apresentação?

LS: Ao saber que foram esgotados os ingressos ficamos muito felizes com o sucesso da empreitada. Mas só decidimos abrir nova data quando confirmamos um show em Teresina no domingo. Aí o sábado, que seria um day-off comum em Fortaleza, decidimos transformar em mais um show, para trazer todos os fãs que ficariam de fora do primeiro dia e também aqueles que estiverem a fim de uma dose dupla de Fresno.

C&R: Pra finalizar, gostaria de agradecer demais pela entrevista, dizer que aguardo ansiosamente por mais esse show e que espero que a gente possa conversar mais um pouco por lá. Também gostaria que mandasse um recado para nossos leitores e falasse sobre os próximos projetos do Lucas Silveira e da banda Fresno.

LS: A todos os leitores, meu muito obrigado… Continuem seguindo a gente em todas as redes sociais e nos incentivando muito, pois é disso que a gente precisa. Nosso próximo passo é o lançamento de um DVD no começo de 2015, celebrando nossos 15 anos com um show de 25 músicas que preparamos com muito carinho. Grande abraço, a todos, e muito obrigado.

Serviço – Fresno em ‘O Começo de Tudo’ em Fortaleza:

Data: 13 de dezembro

Local: No Arena Hits Brasil – Rua Almirante Jaceguai, Fortaleza-CE

Preços: R$ 60 / R$ 80 (camarote) / R$ 200 (Full Experience)

Horário de abertura: 18:00

Início do show: 19:30

Confira vídeos da banda:

Fresno – Sobreviver e Acreditar

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=DrnabgCK2fI[/youtube]

Fresno – Sutjeska / Farol

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=QfObaecWMCg[/youtube]

Fresno – Maior Que As Muralhas

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=eAaNEMJeC7U[/youtube]

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Ronnald Casemiro

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