No último dia 27 de março, um dos mais sanguinolentos dos diretores no Ocidente do mundo fez aniversário. Quentin Jerome Tarantino completou 54 anos, com um total de três décadas trabalhando com cinema.

Cinéfilo purista, mestre de referências e conhecido pelos diálogos cheios de epifanias e referências pop, o cineasta se veste de uma aura cult desde 1994, quando “Pulp Fiction: Tempo de Violência” chocou Hollywood com sua violência, referências e sanduíches de fast-food, alavancando inclusive “Cães de Aluguel” (1992), primeiro longa de Tarantino.

Em homenagem ao aniversário do diretor, roteirista e ator, o Cinema às 8h inaugura uma nova sessão crítica. Um ranking com os 8 melhores filmes de diretores, diretoras, atores e atrizes – sempre do melhor para o pior. No caso de Tarantino, entraram os oito longas que o cineasta dirigiu completamente. Os votos vieram de uma média de posições dadas por cada um dos três redatores do blog – o que gerou um empate.

Ranking

Sempre eles, Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson): ligeiramente sujos de sangue e miolos em “Pulp Fiction”

1- Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994). É pouco chamar “Pulp Fiction” de melhor filme de Quentin Tarantino. “Pulp Fiction” é candidato sério a filme da década. Uma revolução estética e temática que se viu poucas vezes no cinema. Ali, o cineasta sedimentou algumas características que hoje soam banais em seu fazer cinematográfico ao voltar a extrapolar a violência em humor, trazer uma montagem ágil e diálogos que escalonam do banal ao impressíndivel em velocidade impressionante. Por “Pulp Fiction” podemos aturar qualquer lixo que Tarantino nos imponha hoje. (André Bloc)

Michael Fassbender fingindo ser alemão em “Bastardos Inglórios”

2- Bastardos Inglórios (2009) Trazendo aqui o melhor vilão de sua filmografia, o “caçador de judeus” Hans Landa (Christoph Waltz), Tarantino investe na criação de um novo clímax para a Segunda Guerra Mundial. Criando duas linhas paralelas de vinganças distintas, os Bastardos e a francesa Shosanna (Mélanie Laurent), o diretor constrói uma de suas tramas mais divertidas, muitas vezes recorrendo ao humor para amaciar as cenas de violência extrema vistas em tela. (Hamlet Oliveira)

Uma Thurman e parte dos Crazy 88 em “Kill Bill: Vol. 1”

3. Kill Bill: Vol 1 e 2 (2003/2004) Lembrado pelo grande público pelas centenas de litros de sangue derramadas durante a cena de luta contra os Crazy 88, o diretor combina em sua obra popular referências que vão dos clássicos filmes de Bruce Lee a “Battle Royale” (1999). Além de alçar Uma Thurman de volta ao estrelato (algo que se perdeu novamente nos anos recentes), os filmes, que devem ser considerados como apenas um, representam o magna opus da obsessão de Tarantino pela tema da vingança. (Hamlet Oliveira)

Rose McGowan e Kurt Russell em “À Prova de Morte”

4 – À Prova de Morte (2007). Em sua homenagem aos filmes B, Quentin Tarantino fez sua obra em tom menor. O que não significa que a qualidade decaiu ali. Antes de cair na armadilha da autoreferência, o norte-americano conseguia trazer uma diversidade de temas em um jogo doentio como o de Stuntman Mike (Kurt Russell) com suas vítimas. O ato final, catártico, segue como um dos momentos mais brilhantes de carreira de Tarantino – e certamente o mais feminista. (André Bloc)

Tim Roth e Harvey Keitel em “Cães de Aluguel”

5 – Cães de Aluguel (1992). Ali, em 1992, Quentin Tarantino mostrava a carga de humor que ele impunha em seus banhos de sangue. Mr. White e Mr. Orange. Mr. Blonde e Mr. Pink. Cada um trazia uma força própria e uma densidade nova à gangue despedaçada. Antes de “Bastardos Inglórios” e “Pulp Fiction”, Tarantino mostrava uma capacidade única de estender o suspense e ampliar a tensão por uma obra que segue impactante após 25 anos. (André Bloc)

Tim Roth, Kurt Russell e Jennifer Jason Leigh, três dos “Oito Odiados”

6 – Os Oito Odiados (2015) Ao som das belas composições da lenda Ennio Morricone, as oito horrendas personas em tela no trabalho mais recente do diretor evocam diretamente inspirações como “12 Homens e Uma Sentença” (1957). Em um ambiente claustrofóbico, o lado ruim e as (poucas) virtudes destes seres entram em um conflito que escala de forma competente, ainda que com um ritmo lento. Cometendo alguns erros narrativos e técnicos, não é a obra mais polida de Tarantino, mas recebeu destaque relevante em seu ano de lançamento. (Hamlet Oliveira)

Christoph Waltz e Jamie Foxx em “Django Livre”

7 – Django Livre (2012). Foi em “Django” que a autoparódia se assentou no cinema de Tarantino. Conhecido pelas referências ora cult, ora trash, o cineasta parece ter adotado o hábito de se escolher como referência. Os vícios, evidentes desde “Bastardos Inglórios”, ficam escancarados em personagens sempre parecidos. Ali, só variam os sotaques, já que os diálogos (que são mais monólogos) soam sempre como um homem branco imitando um negro – Tarantino, em síntese. Até Christoph Waltz soa como um Coronel Landa no Velho Oeste. Foi o primeiro filme de Tarantino após a morte de sua montadora, Sally Menke. As arrastadas 2h45min de duração provam o quanto ela faz falta. (André Bloc)

Pam Grier é… “Jackie Brown”

8 – Jackie Brown (1997). Pôr “Jackie Brown” em ultimo é quase apelar. Para bem ou para mal, o longa em homenagem à blaxploitation é o único de Tarantino que não é original (a não ser se você contar na reciclagem que o diretor recorre em seus dois últimos longas). Pam Grier está incrível, como não havia como deixar de ser, mas o miolo de “Jackie Brown” nunca entrega tudo que promete. O split-screen usado no segundo ato, no entanto, mostra a extensão do domínio da mise-en-scène no cinema de Tarantino. (André Bloc)

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André Bloc

Redator de Primeira Página do O POVO, repórter do Vida&Arte por seis anos, membro da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine).

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