Um dos principais representantes do rock nacional oitentista vai estar em Fortaleza nesse sábado, tocando na fest Amnésia Showtime, na Praça Verde do Dragão do Mar. Trata-se de Leo Jaime, que, apesar de goiano, soube como ninguém abordar o clima ensolarado e malandro do Rio de Janeiro no rock. Autor de clássicos saudosistas, como Rock Estrela e Nada mudou, e conversou por email com o DISCOGRAFIA sobre como andam seus planos e sua carreira. Acompanhe.

DISCOGRAFIA – Uma marca registrada das suas músicas, principalmente dos primeiros discos, era a malandragem, o bom humor e o estilo ensolarado carioca. Do que mais você tem saudade naqueles anos 80?
Leo Jaime – Aproveitei muito bem cada época da minha vida. Não gostaria de viver nada outra vez. Nenhuma vontade de voltar a fazer o ensino médio, por exemplo. Mas gostava de um ar de positividade que havia no Brasil e isso pode voltar a existir.

DISCOGRAFIA – Além do rock, você é dono de uma voz muito bem colocada. Tanto que no (ótimo) disco Todo amor, você adota uma postura mais séria, tranquila e se mostra mais como intérprete. Na época de Sônia e Conquistador barato, você se sentia respeitado como cantor?
Leo Jaime – As coisas que você faz aos dezoito não são ou precisam ser iguais às que você faz aos 36. Fiquei muito tempo sem gravar contra a minha vontade. E ia evoluindo, como cantor e compositor, embora não pudesse registrar isto em discos. Gosto muito de Todo Amor, acho que é um ótimo disco de intérprete. Quase todas as músicas são de outros compositores. No entanto já havia feito em Mensagem de Amor, A Lua e Eu, Gatinha Manhosa,  por exemplo, boas interpretações. Acho que é o estilo musical. Cantando rock dificilmente se observa a qualidade do canto. Geralmente se destacam mais a atitude e a potência vocal.

DISCOGRAFIA – Ainda naquele período, quem eram seus principais amigos no meio musical e quais continuam até hoje?
Leo Jaime – Me dou bem com quase todo mundo mas não tenho tantos amigos do dia a dia no meio musical. Circulo em vários meios, tenho amigos de todas as idades, orientações sexuais, classes sociais. Sempre fui e sempre serei simpatizante dos ambientes heterogêneos.

DISCOGRAFIA – Aliás, como nasceu esse disco, Todo amor, que conta com presenças marcantes de Lulu Santos e Gilberto Gil?
Leo Jaime – Curioso que esteja planejando o relançamento deste disco para o mês que vem e estejamos falando tanto dele hoje! Vamos guardar um pouco para daqui a alguns dias?

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DISCOGRAFIA – Seu último disco foi lançado em 2008. Tem planos de lançar um novo trabalho? Se sim, como ele deve ser e pra quando?
Leo Jaime – No relançamento de Todo Amor vou incluir uma música nova. E tenho uma outra inédita na trilha de Malhação (Tchau, parceria com Rita Lee). Além disso regravei uma música minha bem conhecida para um filme que estreia muito em breve! Cheio de novidades na área.

DISCOGRAFIA – Boa parte dos seus shows hoje são baseados em hits dos anos 80. Como você vê isso? Tem vontade de mostrar coisas novas?
Leo Jaime – Gosto de cantar o que as pessoas querem ouvir. Mas tenho vontade de fazer um show com repertório diferente, como o de Todo Amor (de novo ele!!), e não sei como seria a reação se não cantasse muitas daquelas música minhas que todo mundo sabem cantar.

DISCOGRAFIA – Por falar em coisas novas, como está sua produção musical atualmente? Mesmo com tantos anos de carreira, você tem poucos discos. Tem muita coisa guardada?
Leo Jaime – Não costumo mais pegar o violão pra compor sem que exista o planejamento de lançar. Mas vontade de lançar coisas novas, compor, cantar, isto não para nunca.

DISCOGRAFIA – O forte da sua carreira está concentrado nos anos 80. Depois, pouca coisa você lançou. Por que isso aconteceu? Por que você foi buscar outras atividades?
Leo Jaime – O sapo não pula por boniteza mas por necessidade. Depois que fiquei na geladeira de uma gravadora por cinco anos, minha carreira desandou. E eu fui me virando como podia. Ainda bem que tinha outras portas abertas!

DISCOGRAFIA – Com está sendo essa experiência de participar da Malhação e do programa Amor & Sexo?
Leo Jaime – E do Saia Justa, do Detox do Amor, além de escrever para o site do GNT e fazer todas as coisas que mencionei acima. É animado! Tenho muitos patrões mas só faço coisas que adoro!

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DISCOGRAFIA – Tomando conta de tanta coisa ao mesmo tempo – TV, teatro, shows, colunas – como você faz para escolher suas prioridades? Você é uma pessoa organizada?
Leo Jaime – As coisas meio que me organizam!

DISCOGRAFIA – Você tem uma ótima canção dedicada à Solange Hernandes, ex-diretora do Departamento de Censura Federal. Que tipo de problemas com a censura você teve naquela época?
Leo Jaime – A censura proibia quase todas as minhas músicas. Comecei a achar que a coisa era pessoal. Um dia Leoni e eu resolvemos escrever uma versão para a música So Lonely, do Police, em homenagem a ela. Ela pediu para eu gravar umas quatro vezes a música pra ela ouvir. Até que a gravação ficasse boa. Afinal, era mesmo a musa da canção!

DISCOGRAFIA – Vários companheiros seus de geração resolveram passar a limpo suas memórias em documentários e biografias. Você já pensou em fazer o mesmo? Que passagem não poderia faltar numa biografia do Leo Jaime?
Leo Jaime – Não gosto da minha história. Não vou contá-la e não quero que ninguém a conte. Vou vivê-la até o fim, aproveitando cada capítulo,  e não quero olhar a última página para saber o final.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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