Tenório Jr, Dom Um Romão, Edison Machado. Até o Sérgio Mendes, bem antes de fazer uma parceria milionária com Will.I.Am. É longa a lista de músicos brasileiros que fizeram história nas décadas de 1950 e 60 com um som sincopado, dançante, cheio de suingue, que ficou conhecido como sambajazz. Tal qual escrito, trata-se de uma fusão da liberdade do jazz com o molejo do samba. Sofisticados e bons de improviso, boa parte desse time acabou encontrando admiradores nos Estados Unidos e na Europa. Diante de propostas tentadoras, poucos voltaram para o Brasil. Ainda hoje, discos hoje raros do Som 3, Zimbo Trio e Os Cobras valem ouro em sebos internacionais.

Para o saxofonista Leo Gandelman, a produção instrumental brasileira desse período é importante pela quantidade, pela qualidade e pela criatividade. Como apresentador do programa Instrumental MPB, na rádio MPB FM, ele pode confirmar isso sempre que pedia para um convidado trazer seus discos preferidos ao estúdio. A playlist só dava o balanço do sambajazz. A medida que aquele som ia se tornando mais familiar, ele foi começando a responder com seu próprio instrumento e assim nasceram as canções do seu mais recente disco, Vip Vop.

Com nove composições inéditas, em parceria com o pianista David Feldman, e uma releitura de Reza, de Edu Lobo e Ruy Guerra, Vip Vop mergulha numa época em que os instrumentistas reinavam acima dos cantores. “O sambajazz surgiu como uma forma muito palatável para os músicos. A composição brasileira ganhou um refresco muito grande e nesse momento ela se fixou como uma grande opção musical. Em meados de 1960, quando começou o cancionismo, os músicos brasileiros saíram viajando e ganhando muito”, lembra o saxofonista que passou cerca de três anos ouvindo a nata do gênero.

Ao lado de um quarteto formado por Alberto Continentino (baixo), Renato Massa (bateria), Serginho Trombone (trombone) e David Feldman, e alguns convidados, Leo Gandelman parece voltar décadas no tempo ao mostrar seu Vip Vop, apesar de não ter tido intensão de prestar tributo ou homenagem. “Não tive que vestir roupa de época. Não tenho a pretensão de fazer como era feito na época. Pra mim é uma coisa muito espontânea, é uma visão pessoal. Até por que, até hoje, (o sambajazz) é atual”, explica.

Se aventurar na música já faz parte da carreira de Leo Gandelman. Eclético bem antes desse termo se tornar banal, ele já acompanhou quase todo mundo na música brasileira, de Paralamas do Sucesso a Leny Andrade. Do pop ao erudito, ele adquiriu um traquejo para passear entre os estilos, sempre dando uma assinatura própria ao som. Por isso mesmo, ele renega imediatamente quem tem como única referência para o sax os chatos solos do Kenny G. “Costumo dizer: não faça do seu instrumento uma arma, a vítima pode ser você. Eu mesmo faço vários trabalhos diferentes com o sax. Existe um universo de coisas para o saxofone. Realmente, acho uma pena que as pessoas tenham uma visão tão limitada sobre o instrumento”.

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De fato, voltando alguns discos para trás, Leo Gandelman lançou em 2011 o disco Origens, onde se debruça sobre temas eruditos ao lado da pianista Maria Tereza Madeira. No mesmo ano, participou do disco Memphis Blues, de Cindy Lauper. Antes ainda, em 2008, ele reuniu um time de cantores populares – de Lirinha a Luiz Melodia – num repertório bem Bossa Nova e MPB. Depois de três anos “cozinhando”, ele então voltou com este Vip Vop, que logo no título brinca com as siglas “very important people e very ordinary people. “Nessa era de celebridades a jato, hoje um vip vira vop, depois vop vira vip, e somem num vapt vupt”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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