O cantor e compositor Bruno Batista nasceu em Recife, mas, ainda bem pequeno, mudou-se para São Luís do Maranhão. Atualmente está radicado em São Paulo, de onde apresenta o desterritorializado Lá, disco lançado com o apoio Sesi/ Fiema. Sem se apegar a referências geográficas, Lá tem algo das canções praieiras de Dorival Caymmi, do Corcovado de Tom Jobim e dos arranha-céus da terra da garoa. O disco traz 11 composições solitárias de Bruno, interpretadas com ajudas substanciais, como a cantora Dandara Modesto, o baterista Guilherme Kastrup e o guitarrista Rovilson Pascoal.
Juntos, Bruno e banda fazem canções que misturam guitarras indie com batidas de afoxé, como na balançada Incêndio, que abre o disco. Mesmo que não seja um cantor de muitos recursos, o pernambucano dá conta do recado como pode. Em determinado momento, essa falta de recursos vocais cansa, mas pode ser compensada pelo bom tratamento instrumental do disco. Como É que você tem, delicada e minimalista composição para ser dita com sinceridade. Um grande achado de Lá é justamente a faixa-título, cuja letra cinematográfica constrói um mundo mágico onde problema não entra. Na sequência, Pois, Zé é algo como se Gonzaguinha e Otto se sentassem num bar da Lapa para fazer samba. O encerramento vem com Rosa dos ventos, lamento guiado por violões que entrega a busca de Bruno Batista por uma identidade, que ele prefere não encontrar assim tão fácil. “Nessa vida sem plateia, sou a minha a minha própria atriz. Alguém disse na estreia. Eu não ia ser feliz”.