Ouvi da boca de um bispo que recebeu por herança uma diocese marcada pela teologia da libertação. “Meu filho, se eu tivesse recebido a igreja com os pobres estaria satisfeito”. Lamentava o religioso que recebia um legado de muita luta social e pouquíssima espiritualidade plantada. Resultado: escassez de vocações, indiferença da população à religião e uma igreja totalmente descaracterizada.
Os abusos foram tão grandes que a Congregação para a Doutrina da Fé precisou intervir. Em 1984 através deste Dicastério a Igreja lançou uma instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação. O texto é claro e traz claro ensinamento sobre os erros desta teoria que se infiltrou na Igreja da América Latina e do Caribe.
É bom que se reforce o propósito do texto, explicado ainda no primeiro parágrafo.”Esta advertência não deve, de modo algum, ser interpretada como uma desaprovação de todos aqueles que querem responder generosamente e com autêntico espírito evangélico à ‘opção preferencial pelos pobres’.
A Teologia da Libertação não acabou, reinventa-se sobretudo através de uma vasta literatura que circula por ambientes formativos. Tenha-se em conta que ” os graves desvios ideológicos que ela (TL) aponta levam inevitavelmente a trair a causa dos pobres”, destaca o documento. E mais: “existem numerosos movimentos políticos e sociais que se apresentam como porta-vozes autênticos da aspiração dos pobres e como habilitados, mesmo com o recurso a meios violentos, a realizar as transformações radicais que poriam fim à opressão e à miséria do povo
partir desta abordagem podem-se distinguir diversas maneiras, frequentemente inconciliáveis, de conceber a significação cristã da pobreza e o tipo de compromisso pela justiça que ela exige. Como todo movimento de ideias, as « teologias da libertação » englobam posições teológicas diversificadas; suas fronteiras doutrinais são mal definidas”.
Nesta teoria ganha destaque o reino dos homens ao Reino de Deus. O centro é a vida, num quase culto ao biologismo. Quem nunca viu vastas referências ao Deus da vida. Onde o centro da existência humana é apresentado tão somente na perspectiva terrena, materialista.
A libertação primordial do homem é do pecado. E isso quem ensina é a Sagrada Tradição da Igreja, o que é relembrado pela orientação do Vaticano no número 12. “A Revelação do Novo Testamento nos ensina que o pecado é o mal mais profundo, que atinge o homem no cerne da sua personalidade. A primeira libertação, ponto de referência para as demais, é a do pecado”.
Na espiritualidade desta Teologia o único mal é o “pecado social”, por isso que nas orações a motivação se restringe a este aspecto. A Igreja não reconhece a raiz dos males do homem nesta premissa, apenas uma consequência do pecado de cada pessoa. Tampouco o mal pode ser restrito às estruturas econômicas.
O documento resgata algo de suma importância: “Lembremos que a opção preferencial, definida em Puebla, é dupla: pelos pobres e pelos jovens”. E o que observamos através da prática da TL? Um afastamento massivo dos jovens da Igreja. Houveram Dioceses que retiraram seus seminaristas das faculdades, para, em nome de um trabalho com o pobres, irem para o campo.
Desafetos à liturgia não foram poucos como a liberação de manuseio da eucaristia a qualquer indivíduo, troca da celebração eucarística pela celebração da palavra e muitas vezes os textos litúrgicos eram substituídos por leituras profanas em plena celebração.
O resultado é o que vimos. Deserção em massa de milhares de católicos. Embora estas expressões estivessem presente nas bases não conseguiram transmitir a força da palavra da Deus, aquela capaz de libertar o homem integralmente. O que favoreceu ao crescimento das denominações evangélicas que se expandiram nos territórios de pobreza e subúrbios do país, igualmente povoado por adeptos da TL. Enquanto a Igreja oferecia apenas o pão material os “crentes” ofertaram o pão espiritual, embora esta oferta carecesse de uma fiel interpretação. A consequência desse movimento é o crescimento do ateísmo que já começamos a vislumbrar mas isso para outro artigo.
Voltemos ao texto orientativo: “Lembremos que o ateísmo e a negação da pessoa humana,, de sua liberdade e de seus direitos, encontram-se no centro da concepção marxista. Esta contém de fato erros que ameaçam diretamente as verdades de fé sobre o destino eterno das pessoas. Ainda mais: querer integrar na teologia uma ‘análise’ cujos critérios de interpretação dependam desta concepção ateia, significa embrenhar-se em desastrosas contradições. O desconhecimento da natureza espiritual da pessoa, aliás, leva a subordiná-la totalmente à coletividade e deste modo a negar os princípios de uma vida social e política em conformidade com a dignidade humana”.
Para os seguidores da Teologia da Libertação a Celebração Eucarística é mera celebração do povo em luta, o sacramento da Confissão foi meio encontrado pela Igreja medieval para manter sob tutela os fieis, o padre não precisa ser bem este presbítero que temos hoje, poderia ser um “ancião”, alguém da comunidade, inclusive, uma mulher. Chega-se ao extremo de configurar Deus como história e a fé como fidelidade à história. “Por conseguinte, a fé, a esperança e a caridade recebem um novo conteúdo: são ‘fidelidade à história’, ‘confiança no futuro’, ‘opção pelos pobres’. É o mesmo que dizer que são negadas em sua realidade teologal.
Mesmo a Ressurreição não interpretada como Milagre, mas somente numa perspectiva sociológica que ensina que Cristo está ressurreto apenas na memória dos seus seguidores e nos seus escritos. A dimensão sobrenatural da fé é suplantada.
A orientação da Igreja sobre a Teologia da Libertação é para preservá-la de um sério desvio doutrinário que pode ” pôr em xeque a estrutura sacramental e hierárquica da Igreja, tal como a quis o próprio Senhor”, finaliza o texto.
Espero escrever mais sobre o assunto. Gostaria de ler seus comentários sobre o tema.