Hoje quero refletir em poucas palavras um texto genial de um dos maiores mestres da literatura brasileira, o querido Rubem Alves. Nem preciso me estender porque sua mensagem já está tão bem dita que seria um atrevimento meu me alongar. Por favor! Pare tudo o que você estiver fazendo nesse momento e se concentre TOTALMENTE nestas palavras aqui…
“É sempre assim: os pensamentos que eu penso de maneira deliberada, metódica e consciente são sempre comuns e banais. Eles nunca me surpreendem. Os pensamentos que me surpreendem são aqueles que aparecem repentinamente, sem que eu os tivesse chamado. Esses pensamentos são livres, vem quando querem, e só aparecem nos momentos de vagabundagem.
Pois, num desses momentos de vagabundagem, um pensamento me apareceu que fez uma ligação metafórica entre lâmpadas e inteligências que nunca me havia passado pela cabeça. Tratei, então, de seguir a trilha.
As lâmpadas servem para iluminar. Para isso são dotadas de potências de iluminação diferentes. Há lâmpadas de 60 watts, de 100 watts, de 150 watts etc. Qual é a melhor lâmpada? Parece que as de 150 watts são as melhores porque iluminam mais. Também as inteligências servem para iluminar. Tanto assim que se diz “tive uma ideia luminosa!” E nos gibis, para dizer que um personagem teve uma boa ideia o desenhista desenha uma lâmpada acesa sobre a sua cabeça. E também as inteligências, à semelhança das lâmpadas, têm potências diferentes.
Os psicólogos inventaram testes para atribuir números às inteligências. A esses números deram o nome de QI, coeficiente de inteligência. Segundo as mensurações dos psicólogos, há QIs de 100, de 150, de 200… Ah! Uma pessoa com QI 200 deve ser maravilhosa! Porque, como todo mundo sabe, inteligência é coisa muito boa. Todo pai quer ter filho inteligente. Mas as lâmpadas não são objetos de contemplação. Não se fica olhando para elas. Olhamos para aquilo que elas iluminam. Uma lâmpada de 150 watts pode iluminar o rosto contorcido de um homem numa câmara de torturas. E uma lâmpada de 60 watts pode iluminar uma mãe dando de mamar ao filho. As lâmpadas valem pelas cenas que iluminam. As inteligências valem pelas cenas que iluminam.
Há inteligências de QI 200 que só iluminam esgotos e cemitérios. E como ficam bem iluminados os esgotos e os cemitérios! E há inteligências modestas, como se fossem nada mais que a chama de uma vela – que iluminam o rosto de crianças e jardins! A inteligência pode estar a serviço da morte ou da vida. E a inteligência, pobrezinha, não tem o poder para decidir o que iluminar. Ela é mandada. Só lhe compete obedecer. As ordens vêm de outro lugar. Do coração. Se o coração tem gostos suínos, a inteligência iluminará chiqueiros. Se o coração gosta de crianças e jardins, a inteligência iluminará crianças e jardins. Essa é a razão por que é mais importante educar o coração do que fazer musculação na inteligência. Eu prefiro as inteligências que iluminam a vida, por modestas que sejam.”
O que acho mais surpreendente no Rubem é o seu imenso poder de sempre deixar o melhor para o final. Ele prende a nossa atenção de forma impressionante e termina com palavras dignas de um gênio da literatura. Você percebe o seu tom de ironia neste texto? Ele está falando de forma super poética e filosófica sobre as pessoas ARROGANTES e PREPOTENTES. Aquelas pessoas que pensam ser melhores do que as outras, mas na realidade não passam de lixo, e suas luzes só servem para iluminar esgotos e cemitérios. Além disso, ele contrasta com as pessoas SÁBIAS, que são aquelas que não têm o QI dos melhores, mas iluminam a vida como se fossem as lâmpadas mais potentes do universo.
Eu já falei inúmeras vezes nos meus textos que sabedoria não tem nada a ver com conhecimento, nem com títulos, nem com status, nem nada parecido. A sabedoria está no coração e na vida. As pessoas mais sábias normalmente não são as mais instruídas, e eu tenho por elas o meu mais profundo respeito e admiração. Adoro aprender com a sabedoria dos mais simples. Os maiores ensinamentos que já recebi na vida não vieram da faculdade, de cursos, de livros, da internet, não! Os maiores ensinamentos vieram da minha família e das pessoas sábias que encontrei pelo caminho. Vou deixar o link de um texto em que falei mais claramente sobre isso. Confira…
Para que serve o conhecimento?
Faça você o mesmo! Tenha seus pensamentos livres e aproveite os momentos de vagabundagem dos pensamentos! São estes que nos ajudam a despertar aquilo de mais precioso que existe dentro de nós. E vamos buscar a sabedoria, que só com pensamentos livres se pode adquirir…
Adoro seus textos, Isaias Costa. A meu ver, textos “profundos” não só em inteligência, como em “luz” que emanam de forma tão construtiva. Você é tão jovem, em idade cronológica e tão “rico em essência” no que transmite!!!!! Maravilha!!!!
Encontrei vc por acaso, buscando inspiração em Rubem Alves, meu guru. Seus pensamentos lembram muito os do saudoso MESTRE: iluminam a vida. Prazer em conhecê-lo.
Muito obrigado Leila! É uma honra receber um elogio desses. O mestre Rubem é uma das minhas maiores fontes de inspiração e a sensação que eu tenho é como se ele fosse um pai que me orientava mesmo à distância! Às vezes penso que ele sopra nos meus ouvidos me dando inspiração pra escrever! rsrsrsrs
Grande abraço e continue acompanhando o blog!